POV CASPIAN.
Octávio saiu apressado para providenciar a lista com os nomes de todos que tiveram contato com Dylan. Eu fui direto para a sala de interrogatório, localizada no subsolo da prisão da alcateia. O corredor era frio e silencioso, as paredes reforçadas com aço escovado. A sala em si era moderna, com painéis de vidro blindado, uma mesa central de metal escuro, duas cadeiras pesadas e um espelho falso ao fundo. Tudo nela exalava controle, vigilância e intimidação.
Quando olhei no meu relógio de pulso, era dezoito hora, já era noite lá fora. Eu já havia interrogado quatro soldados, dois patrulheiros e o encarregado da escala da fronteira leste. Nada. Nenhuma reação suspeita. Nenhum olhar vacilante. Nem mesmo o cheiro ácido de mentira. Só medo. Medo do que estava acontecendo na alcateia, do assassinato e de mim. Suspirei, impaciente.
— Mande o próximo entrar — ordenei com a voz firme e seca.
— Tragam Leonardo — disse Octávio do lado de fora, abrindo a porta com um ranger metálico.
Leonardo entrou com passos decididos, mas não conseguiu esconder o que eu mais notava: o suor acumulado nas têmporas, as mãos discretamente trêmulas, o maxilar travado. Era jovem, com olhos atentos demais para quem tentava parecer calmo. Ele ainda usava as roupas de patrulheiro, e ainda tinha o cheiro da floresta e da sua ansiedade. Seu histórico o apontava como um rastreador eficiente, disciplinado e… discreto, li na sua ficha. Levantei os olhos da pasta e o encarei por longos segundos. O silêncio era o bastante para o medo começar a trabalhar por mim.
— Feche a porta, Octávio — pedi, sem tirar os olhos de Leonardo. Ele engoliu em seco ao ouvir o clique da tranca automática e se sentou a minha frente, após se curvar.
— Você foi o último a patrulhar com Dylan, não foi? — perguntei, firme.
— S-sim, alfa. Nas últimas três noites, na fronteira leste — respondeu, tentando manter a postura.
— Ele comentou algo estranho? Viu algo incomum? Cheiros? Rastros? — disparei. Leonardo desviou os olhos. Rápido, quase imperceptível. Mas eu vi. E aquilo bastava. Inclinei-me sobre a mesa, fixando meus olhos nos dele.
— O que você sabe? — perguntei, com a voz baixa e gélida. — Não tente me enganar, Leonardo. Se estiver escondendo algo, juro que vai desejar nunca ter cruzado meu caminho. — Falei. O jovem engoliu em seco. Seu peito subia e descia mais rápido agora. O suor escorria pelas laterais de seu rosto.
— Dylan… nós éramos amigos. Ele me contou estar… se encontrando com uma fêmea. Sempre dava uma escapada para vê-la perto da fronteira — confessou, tenso.
— Continue — ordenei, agora levantando e rodeando a mesa lentamente, como uma fera impaciente em sua cela.
— Ele recebeu um bilhete na última noite, ficou bastante tenso e disse precisar resolver algo urgente. Me deixou sozinho no posto. Eu estranhei… o nervosismo dele. Vi quando tomou o rumo da fronteira oeste. Voltei para o meu turno, mas aquilo ficou me incomodando. Então, mais tarde, dei uma escapada também, para procurar por ele — contou, a voz embargando de leve.
— Por que não falou isso antes? — perguntei, parando atrás dele.
— Tive receio de ser punido por abandonar meu posto, alfa… — respondeu, envergonhado.
— Prossiga — exigi, enquanto me aproximava mais. Senti o cheiro do seu medo exalar como fumaça.
— Segui o rastro dele até a borda da fronteira, mas algo me parou. Um cheiro… estranho, azedo, quase pútrido. Me escondi entre a vegetação alta, quando percebi uma presença. E então a vi… uma fêmea. Cabelos cacheados, estatura baixa. Se movia apressada, parecia nervosa. Nem me notou ali. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela desapareceu… numa névoa preta — revelou. Octávio olhou para mim de perto da porta. Eu fechei os punhos.
— Tinha certeza de que era uma bruxa — continuou Leonardo, tenso.
— Se ela fez, será punida. Não importa se temos um vínculo — falei.
— Acho que devemos investigar mais antes de tirar conclusões — falou Octávio, tenso.
— Você não deve confiar naquele lobo. Ele me cheira a mentira. Não é confiável — rosnou Odin, enquanto falava em minha mente.
— Você está cego! Está defendendo-a só porque é sua companheira! — retruquei mentalmente, o peito arfando.
— Ela é NOSSA companheira! Ou já esqueceu? Gaia não é uma assassina! — Falou sério.
— Eu não quero uma companheira que mente e mata! — cuspi mentalmente, sentindo minha respiração falhar.
— E eu não vou permitir que a condene sem provas! — rosnou Odin.
— Chega. — fechei os olhos com força, tentando bloquear a raiva e a voz dele. — Eu vou esclarecer isso agora. — Falei alto para Odin e Octávio escutar.
Virei, abri a porta com brutalidade e saí da sala de interrogatório. Octávio ficou parado, em silêncio. Não me seguiu — e, honestamente, ainda bem. Eu vou para casa confrontar Gaia.

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