POV GAIA.
O cheiro do ensopado quente se espalhava pela sala de jantar, misturado ao aroma suave de ervas frescas e pão recém-saído do forno. Aina nos esperava em silêncio, com os cabelos presos num coque baixo. Notei que seus ombros estavam tensos. Conrado me guiou até a cadeira e puxou-a gentilmente para que eu me sentasse — um gesto simples, mas que aqueceu meu peito.
— Não precisava… — murmurei, sentando com cuidado, já que meu corpo estava dolorido.
— Precisava, sim — respondeu ele, com simplicidade, e sorriu.
Quem vê um alfa como ele — grande, forte e de semblante carrancudo — não imagina a gentileza que carrega. Mas Conrado sempre foi assim comigo e com meus irmãos. Aina pegou uma tigela fumegante e a colocou à minha frente. Seu olhar era firme, mas carregava muito carinho. Como se soubesse que eu estava à beira do colapso e, à sua maneira, tentasse me manter de pé. Ela era como a minha mãe — conseguia perceber quando algo não ia bem.
— Come tudo — disse Aina. — E depois, cama de novo. — Ordenou.
Assenti, sem discutir, pois estava mesmo precisando. Peguei a colher e levei a primeira porção à boca. O sabor explodiu como um abraço: caseiro, quente, reconfortante. Gemi em satisfação. Eu estava com fome.
— Terminei o remédio para estabilizar os doentes — anunciei em voz baixa, sem conseguir guardar a notícia. Aina se sentou devagar, os olhos atentos em mim. Conrado cruzou seus braços sobre a mesa e inclinou-se para frente.
— O remédio já pode ser usado? — perguntou Conrado interessado.
— Preciso testar em um paciente primeiro — pausei. — Mas preciso de autorização, já que é um tratamento alternativo. Ainda assim, estou confiante de que vai funcionar — falei, com firmeza. Os dois se entreolharam. Aina parecia aliviada ao respirar mais fundo.
— Isso é incrível, Gaia. Tenho certeza de que vai funcionar. Confio no seu dom — disse ela, com um sorriso sincero.
— É somente o primeiro passo. Ainda há muito a ser ajustado. Mas sei que esse é o caminho: tratar os sintomas e prolongar a vida. O próximo passo é interromper o contágio — continuei, levando mais uma colherada à boca.
— Como pretende fazer isso, querida? — perguntou Aina, entre uma colherada e outra.
— Uma vacina seria a melhor escolha. A doença já se espalhou pela alcateia. Ainda não descobri como os crescentes estão sendo infectados. Preciso investigar isso. Foquei em salvar quem já estava à beira da morte primeiro. Mas, assim que conseguir retardar a evolução da doença nos pacientes, vou descobrir como ela está sendo transmitida. Só assim conseguiremos frear o contágio — expliquei.
— E quanto tempo você acha que vai precisar? — perguntou Conrado, curioso.
— Dias. Talvez uma semana, se tiver que iniciar uma investigação do zero. Mas, com os dados já coletados pelo hospital, acredito que descubro tudo em dois dias — comentei.
— Essa é uma ótima notícia — disse Conrado, esperançoso.
— É uma excelente notícia, mas você vai descansar primeiro e recuperar suas forças. Ou acha que não percebi o quanto está abatida? — disse Aina, com firmeza. Suspirei. Ela tinha razão.
— Estou realmente cansada. Mas vou ficar bem — respondi. O silêncio caiu sobre nós por alguns instantes.
— Eu… só queria dizer que admiro o que você está fazendo — sua voz saiu rouca, sincera. — Mesmo não sendo sua alcateia… você está dando tudo por nós. Muito obrigado — disse ele. Suas palavras… me desarmaram.
— Não importa de onde vêm os lobos, Conrado. Eles estão sofrendo. E, se eu posso ajudar, então farei tudo o que estiver ao meu alcance — falei.
Ele assentiu. Aina sorriu, emocionada. Quando íamos subir a escada, um estrondo vindo da entrada nos fez sobressaltar. A porta havia sido aberta com brutalidade, e Caspian surgiu bufando feito um touro bravo. O que deu nesse infeliz para assustar todos desse jeito?
Caspian estava com os olhos faiscando, respiração pesada e com muita raiva. Conrado se colocou parcialmente à minha frente, num gesto automático de proteção. Aina segurou em meu braço.
— O que foi isso, Caspian? — perguntou Conrado, encarando o filho com desagrado.
— O que aconteceu, filho? — Perguntou Aina por trás de Conrado.
— Gaia… — ele falou, a voz tensa e carregada de uma raiva que tentava conter, mas não conseguia. — A gente precisa conversar. Agora. Você me deve explicações. — Disse com uma fúria que ligou meus instintos.
— Eu não lhe devo nada. Mas, posso saber o que está acontecendo? — Perguntei com calma e saí de trás de Conrado e Aina. Eu não preciso que me protejam, posso lidar com esse lobo raivoso sozinha.
— Você esteve na floresta ontem à noite? — ele perguntou, ignorando os pais. O olhar fixo em mim, duro, exigente. — Me responda agora. — Gritou.

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