POV GAIA.
Saí do escritório, satisfeita, e caminhei pelo corredor em direção à cozinha. Suspirei. O jantar havia sido mais leve do que imaginei. A presença dos pais de Caspian sempre suavizava o ambiente, e por um momento, quase me deixei levar. Quase.
Cheguei à porta da cozinha e, assim que entrei, encontrei os ômegas terminando de arrumar tudo. Elas sentiram minha presença e olharam na minha direção, ficando nervosas.
— Boa noite, senhorita. Deseja alguma coisa? — perguntou a mesma ômega que servia a mesa e sempre me olhava com medo.
— Sim, só quero usar o fogão para preparar um chá para o alfa — falei.
Todas arregalaram os olhos.
— Nós podemos fazer isso para a senhorita — disse outra, ômega, nervosa.
— Não será preciso. Eu mesma faço. Será um chá com propriedades medicinais, minha especialidade — comentei, explicando.
— Entendo. Ficaremos para ajudá-la — disse.
— Não será preciso. Eu posso me virar sozinha. Podem se recolher para descansar. Aliás, qual o nome de vocês? — perguntei. E causei espanto nas três.
— É... eu sou Flávia, a copeira. Essa é Mirtes, a cozinheira, e Jéssica, a arrumadeira — apresentou.
— Muito prazer, meninas. Eu sou Gaia, e se precisarem de qualquer coisa, é só vir a mim. Mirtes, suas comidas são divinas. Flávia e Jéssica, vocês são super eficientes. Parabéns e obrigada pelos seus serviços — falei, agradecendo.
As três ficaram surpresas com as minhas palavras e abaixaram as cabeças, visivelmente envergonhadas. Ômegas não costumam receber elogios e nem sabem como agir. Acho horrível como os tratam em nosso meio. Graças à Deusa Lua, meus pais não admitem esse tratamento monstruoso aos ômegas. Na alcateia Uivantes Negros, eles são tratados como qualquer outro lobo: com respeito.
Elas se curvaram e saíram apressadas.
— Essa é uma coisa que faço questão de mudar nessa alcateia. A maneira como os ômegas vivem e são tratados. — murmurei, enquanto abria o armário e pegava uma chaleira.
— Você está se rendendo, Gai? Já está planejando para mudar a alcateia — ouvi a voz de Minerva ecoar em minha mente com um tom provocador.
— Não venha com isso, Minerva, não é nada disso. Só estou querendo melhorar a vida delas e dos outros ômegas. É uma questão de cidadania — comentei.
— Então isso não tem nada a ver com o fato de estar mexida pelo Caspian? Admitir o que sente seria mais fácil — disse Minerva.
— Não estou mexida coisa nenhuma. Tudo que quero é vingança. Nada mais. Mas posso ajudar quem precisa, enquanto estou aqui — argumentei.
— Então é tudo vingança? — perguntou, não acreditando.
— Isso mesmo — respondi, e enchi a chaleira, colocando-a no fogo. — Ele vai se apaixonar por mim. Vai me desejar, idolatrar. E quando estiver completamente envolvido… eu vou quebrar o coração dele. Do mesmo jeito que Caspian fez comigo. Viu como ele ficou hoje? Aquele infeliz acreditou que quero lhe dar uma chance. Eu fui convincente — falei, satisfeita.
Caspian sorriu. Meu coração acelerou. Ele sempre teve um lindo sorriso. Fiquei incomodada com a reação do meu coração traidor. Ele se sentou na beirada da mesa.
— É um chá revitalizante. Vai ajudar com o cansaço físico e mental. — Falei tentando focar em outra coisa, que não fosse o que eu estava sentindo.
— Obrigado, Gaia. — Seus olhos fixos nos meus, como se procurassem algo escondido. E encontrariam, se olhassem por mais tempo.
— Não há de quê. Prometi à sua mãe, não foi? — sorri, me afastando um pouco, sem quebrar o contato visual. Ele me acompanhou com o olhar até que fiquei a uma distância segura. O silêncio caiu por alguns segundos.
— Obrigado mesmo assim — disse, e tomou um gole do chá. Assim que engoliu, me olhou surpreso. — Esse chá é ótimo — comentou, satisfeito.
— Sim, eu tomo sempre que estou exausta. Bem, vou me retirar. Hoje o dia foi bastante tenso. E amanhã tenho muito trabalho a fazer. Eu testei meu remédio em alguns pacientes, sem o conhecimento de Aron. Amanhã saberei se funcionou — contei.
— Tenho certeza de que teremos excelentes resultados. E foi uma ótima ideia manter tudo em segredo — disse, concordando comigo.
— Que bom que tenho seu apoio — falei, e me aproximei dele, ficando na sua frente. Mesmo sentado, ele ainda era mais alto que eu. Me estiquei e beijei seu rosto. Caspian ficou rígido. Me afastei devagar e vi que seus olhos estavam arregalados.
— Boa noite, Caspian. Durma bem — falei, e saí rapidamente do escritório, deixando para trás, um alfa com carinha de lobinho perdido. Sorri no corredor com a reação dele. E pensei:
— Um passo de cada vez, Caspian. Primeiro, você baixa a guarda. Depois, você entrega o coração. E, por fim… eu quebro cada pedaço dele. — Ri, mentalmente, com o progresso do meu plano.

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