POV CASPIAN.
Minerva saiu do meu quarto, me deixando em conflito. Eu estava tão animado, tão genuinamente feliz com a mudança de Gaia. Era como se, finalmente, a esperança estivesse me abraçando de novo. Mas Minerva veio e jogou um balde de água gelada direto no meio desse momento. E, como se não bastasse, ainda nos arrastou para um plano maluco, insano — e eu sei, no fundo, que vai sobrar para mim no final. Serei o culpado de tudo.
Minha noite foi péssima. Tentei dormir, juro que tentei. Mas fiquei rolando na cama, encarando o teto escuro como se ele tivesse respostas. O travesseiro parecia pedra. Já Odin? Dormia feito uma criança embriagada de tranquilidade. Seu ronco ecoava pela minha mente, como se estivesse zombando do meu estado.
Fui até o banheiro e entrei debaixo do chuveiro, esperando que a água levasse um pouco do peso que esmagava meu peito. Precisava espantar o sono. Pelo menos meu corpo não estava cansado, graças ao chá que Gaia me preparou. Ela era boa nisso… em cuidar, em acalmar. Ouvi a voz preguiçosa de Odin em minha mente, enquanto eu me vestia.
— Bom dia, Caspian. Como foi sua noite? — perguntou, bochechando, com aquele jeito irritantemente despreocupado. Lobo folgado.
— Péssima. Não consegui dormir com tanta preocupação — informei, seco.
— Que preocupação, meu amigo? — questionou, ainda com a voz arrastada.
— Estou preocupado com o plano de Minerva — confessei, apertando a camisa entre os dedos.
— Não tem por que se preocupar, dará tudo certo — comentou, como se o caos não tivesse batido à nossa porta.
— Odin, esse plano pode até dar certo, mas Gaia vai ficar furiosa comigo. Você e Minerva são dois lobos loucos — comentei, tentando manter o controle da minha raiva e ansiedade.
— Pare de drama, não é para tanto. Gaia entenderá nossa atitude — garantiu, com uma certeza que me dava vontade de gritar.
— Será mesmo? Pois eu não entenderia. E muito menos aceitaria essa situação. Eu estou aplicando o golpe da barriga nela, Odin. Imagina o que meus pais pensariam sobre isso? — esbravejei, sentindo meu sangue ferver de vergonha e culpa.
— Pensando por esse lado, realmente, você está dando o golpe da barriga — concordou, rindo como se fosse a melhor piada do dia.
— Não é engraçado — falei, num tom sombrio, irritado mentalmente, enquanto me dirigia à sala de jantar. O corredor parecia mais longo do que o normal. Cheguei e não havia ninguém à mesa. A refeição ainda não estava servida.
Fui para a cozinha. Assim que entrei, os ômegas se encolheram, assustados com a minha presença. O reflexo foi instantâneo — aquela submissão, o olhar baixo, dos ombros tensos. Aquilo me incomodava. Eu odiava essa submissão, esse medo. Eu precisava mudar isso. Os ômegas da minha alcateia merecem mais do que medo.
— Bom dia, Alfa — falaram baixo, quase num sussurro, com as cabeças abaixadas.
— Bom dia. Vou tomar meu café aqui hoje — comuniquei, tentando soar mais leve, e me sentei na cabeceira da mesa.
— Sim, Alfa — responderam, tremendo, e começaram a me servir com mãos vacilantes. Suspirei, contrariado com o cheiro do medo que impregnava o ar.
— Mudei de ideia. Levem minha refeição para meu escritório — falei, me levantando. Não conseguiria me alimentar ali, com elas tremendo e exalando medo como se eu fosse um monstro.
Cheguei no meu escritório, fui até a janela e fiquei ali, parado, observando o dia nascer. O céu clareava devagar, como se o mundo não tivesse pressa nenhuma. Eu, por outro lado, estava um turbilhão. Por dentro, era caos. Pensamentos me atropelando, decisões pesando nos ombros, culpa me sufocando. Fiquei ali, respirando fundo, tentando não me perder nos próprios sentimentos.
Ouvi uma batida suave na porta. Pedi que entrasse. Não precisei me virar para saber que era uma dos ômegas. Reconheço o cheiro de medo. Me virei lentamente e a vi colocando a bandeja pesada sobre a mesa, se curvando e saindo rápido, como se minha presença a queimasse.
A sala de interrogatório era pequena, com paredes acinzentadas, sem janelas. Havia somente uma mesa de metal e duas cadeiras. Aron foi jogado em uma delas. Sentei-me na frente dele, mantendo a postura firme, braços cruzados, olhar fixo.
— Por que foi pego tentando destruir os corpos dos pacientes? — perguntei, direto, sem rodeios.
— Eu… eu estava tentando evitar contaminação! — respondeu rápido demais, nervoso. — Achei que os corpos pudessem trazer mais doença! Eu estava cuidando da alcateia! — Argumentou. Meu olhar se estreitou. Frio. Penetrante.
— Você acha que seu alfa é burro, Aron? — perguntei, devagar, cada palavra cortando como lâmina.
— Não, Alfa! Claro que não! Eu estou dizendo a verdade! — Disse tenso. Bati com força na mesa entre nós me levantando. O som metálico reverberou na sala, cortando o ar.
— Confessa logo. Já sabemos que foi o culpado por envenenar os pacientes com mata-lobo — rosnei, a voz carregada de fúria contida.
Ouvi o silêncio cair como uma bomba. Octávio me olhou de lado, surpreso, chocado com a revelação. Ele não sabia. Eu ainda não havia tido oportunidade de lhe contar.
Aron arregalou os olhos por um instante, como se estivesse ofendido. Depois… sorriu. Um sorriso torto, debochado. Aquela expressão arrogante que dizia tudo sem palavras. O filho da mãe Gostou da acusação.
— Quer saber? — disse, recostando-se na cadeira com desdém. — Fui eu que matei aqueles infelizes. — confessou.
O ar na sala ficou mais pesado. Octávio deu um passo involuntário para trás, como se não acreditasse no que havia acabado de ouvir. Eu somente o encarei. Odin, rugia. Mas eu não me moveria ainda. Eu queria ouvir mais, queria que ele cavasse a própria cova com as palavras. Precisava saber quem estava por trás de Aron. E então sentiria o gosto do sangue do culpado.

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