POV GAIA.
Atravessei o jardim apressada, tentando controlar o turbilhão dentro de mim. Foram muitas revelações. O ar fresco do entardecer se misturava com o cheiro das flores-da-lua, mas nada conseguia acalmar meu coração. Entrei na edícula com passos firmes, e o rangido da porta soou mais alto do que o normal. Fechei atrás de mim, tentando me concentrar.
Fui até as prateleiras — estavam repletas de frascos e ervas secas. Peguei tudo que precisaria, caminhei até outra prateleira e peguei um livro de poções. A edícula me trazia paz, pois estava no meu espaço, mas, naquele momento, não estava conseguindo relaxar e tê-la.
Acendi o fogo sob o caldeirão de ferro e comecei a separar os ingredientes. Lavanda, raiz-forte, essência de sangue de dragão — somente uma gota. Morgana me deu de presente. Nem queira saber como ela conseguiu isso. Meus dedos se moviam automaticamente, treinados e precisos. Mas minha mente estava longe… muito longe dali. As palavras de Caspian ainda ecoavam na minha mente, me perturbando:
— “Thalassa me sequestrou quando eu era somente um filhote… Eu fui torturado por aquela maldita por dias…”
Parei por um segundo, segurando uma folha de artemísia entre os dedos. Meu coração apertou. Aquela revelação me atingiu como uma adaga, quando ouvi. Mas tive que me manter focada e não demonstrar minha raiva e pesar. Ele era só um filhote. E foi arrancado dos seus pais. Ele deve ter sofrido muito. Imagina como Conrado e Aina ficaram desesperados. Por que nunca fiquei sabendo disso tudo?
— Então foi por isso… — murmurei, sentindo meu coração angustiado.
Agora fazia sentido. Tudo. O sumiço repentino de Caspian. As visitas à minha alcateia que cessaram. Meus pais deveriam saber, mas evitavam explicações sempre que eu perguntava sobre Caspian e seus pais. Eles nunca mais me trouxeram para a alcateia Crescente. Caspian desapareceu da minha vida. E agora eu entendia por quê. Minerva rosnou baixinho.
— É por isso que ele odeia bruxas — sussurrou, em tom baixo e carregado de certeza e irritação. Assenti, engolindo em seco.
— Eu sei… — comentei. — Eu também odiaria, se tivesse sido sequestrada e torturada por uma. — Falei.
— E imagina o que ele sentiu ao descobrir que você era uma? Que sua companheira que tanto esperou era aquilo que mais odiava — completou, com um leve tom de tristeza.
Respirei fundo, mexendo a poção com movimentos circulares, tentando me distrair do peso das lembranças. A fumaça subia em espirais lentas, azuladas, preenchendo o espaço com um cheiro doce e intenso.
— Eu entendo o ódio dele, Minerva… juro que entendo. — Fechei os olhos. — Mas ele me conhecia. Desde filhote. Ele sabia quem eu era, conhecia meu coração. Por que não conversou comigo primeiro? Por que me olhou como se eu fosse a própria encarnação do mal? Eu não merecia ser rejeitada e tratada daquela maneira — respondi. Minerva ficou em silêncio.
Coloquei mais duas pétalas de rosa negra na mistura. Precisava terminar aquilo antes que a dor me impedisse ou influenciasse no resultado. A cada ingrediente, cada gota, eu despejava um pouco do que sentia. E não queria que essa poção tivesse efeito contrário. Respirei fundo, afastando meus sentimentos.
— Ele foi torturado… — sussurrei. — Pelas mãos de uma bruxa. Com magia. Com crueldade. Eu não posso culpá-lo por me afastar. Mas isso não justifica o modo como me tratou — comentei mentalmente.
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