O sol mal nasce e a mansão Schneider já está em movimento. Marta acorda cedo, animada com a viagem. A sensação de sair da cidade, mesmo que a trabalho, acende nela um entusiasmo quase que adolescente e, principalmente, o fato de ser ao lado de Jonathan. O dia mal começou e ela já está separando as suas roupas com cuidado, dobrando tudo em pequenas pilhas sobre a cama, enquanto Jonathan, ainda de toalha na cintura, a observa encostado no batente da porta.
— Vai levar o armário inteiro? — ele provoca, rindo ao ver a quantidade de roupas.
— Isso porque nem comecei com os sapatos — ela devolve, lançando-lhe um olhar sapeca. — Além do mais, você me colocou como sua assistente pessoal. Preciso estar à altura.
— Vai estar linda mesmo que vá com pijama — ele diz, se aproximando e a puxando pela cintura, beijando-lhe a testa com carinho.
— Mas estou gostando dessa animação. Você vai ser a minha estrela nessa viagem.
Ela sorri, com o rosto colado ao peito dele por alguns segundos. Jonathan parece mais leve nos últimos dias, embora ainda vigilante, ainda firme. A viagem representa mais do que negócios, para ele, é um recomeço em meio ao caos.
Lá embaixo, Eduardo já chegou e está tomando café na cozinha com os seguranças da casa. Jonathan desce para cumprimentá-lo.
— Já tomou café?
— Tomei. Estou pronto. Já revisei o veículo, malas podem ser colocadas quando quiser.
— Ótimo. Aproveita e descansa um pouco, o dia será puxado para todos.
Enquanto isso, Marta revisa o checklist dos documentos que Jonathan lhe entregou. Ela os guarda em uma pasta exclusiva, com os cartões de acesso e a programação completa do evento. Mesmo sendo sua estreia como assistente pessoal, ela leva a função a sério.
Logo em seguida, Monica liga confirmando a reserva dos quartos no hotel cinco estrelas em Montevidéu.
— Quarto presidencial para o senhor Schneider e dona Marta. E o quarto ao lado para o senhor Eduardo, como o senhor solicitou.
— Perfeito. Obrigado, Monica. Nos vemos na volta.
Com as malas prontas, documentos organizados, e segurança reforçada, tudo está em ordem. Jonathan sobe para verificar se Marta está pronta e se depara com ela tentando fechar a mala sozinha, sentada em cima dela.
— Precisa de ajuda aí, senhorita assistente pessoal?
— Não, senhor. Tenho tudo sob controle... ou quase. — Ela ri, jogando-se de costas sobre a cama quando ele se aproxima.
Jonathan a beija levemente nos lábios e murmura:
— Vamos viver algo bom lá, Marta. Negócios sim… mas também nós dois. Distantes de tudo isso aqui.
No portão, o carro já os espera. A mansão parece observá-los silenciosa, cúmplice, como se guardasse os segredos que eles deixam temporariamente para trás.
O motor do carro ronca pela estrada como um aviso silencioso que o mundo não vai parar, nem mesmo por amor. Marta observa a paisagem fugir pela janela enquanto ajeita a pasta de documentos no colo. Ao lado dela, Jonathan está em silêncio, com os olhos fixos na estrada adiante. É Eduardo quem dirige, atento, mas sempre discreto, como uma sombra silenciosa. Nada passa despercebido por ele, principalmente quando o assunto é Marta.
— Você está bem? — Jonathan pergunta.
— Não se preocupe. O primeiro vexame vai ser meu — diz ele, se acomodando ao lado dela. — Ver você de crachá vai me desconcentrar o tempo todo.
Ela sorri, e os dois brindam com água — talvez pela nova fase, talvez pela tentativa silenciosa de recomeço.
A viagem segue tranquila. O céu aberto, o silêncio confortável. Jonathan segura a mão de Marta durante parte do voo, entre trocas de olhares e alguns beijos leves. Mas mesmo acima das nuvens, longe de tudo, os dois carregam o peso do que deixaram para trás. A mansão. Os traumas. O passado que insiste em pedir atenção.
Eduardo observa à distância, discreto, como deve ser. Ele conhece a dor nos olhos de Jonathan, mesmo quando ele tenta esconder. E conhece a fragilidade de Marta, ainda que ela tente se mostrar forte demais. Ele sabe que o perigo não está só nas ameaças externas. Às vezes, o maior inimigo vive dentro deles mesmos.
Ao pousarem em Montevidéu, os carros já os aguardam. Eduardo assume a frente da logística com a precisão de sempre, mantendo Marta sempre ao alcance dos olhos. Ele não é apenas um guarda-costas… é um sentinela pessoal.
No hotel, tudo ocorre como planejado. Marta se impressiona com a vista da suíte presidencial e já separa os itens para o dia seguinte. Jonathan observa ela andando de um lado para o outro, descalça, determinada, viva. E sorri. Como se, pela primeira vez em muito tempo, tivesse encontrado algo, ou alguém, que vale a pena proteger com tudo o que tem.
Mas naquela mesma noite, enquanto se deita ao lado dela, algo o incomoda. Um instinto. Uma pontada de inquietação que nem o silêncio luxuoso do quarto consegue calar.
Mas será que essa viagem será apenas um intervalo de calmaria? Ou os ventos que sopram em Montevidéu trarão mais do que parcerias promissoras?
O que ele está pressentindo?
O que os espera nesse evento, onde o poder e o interesse caminham lado a lado?
E se o verdadeiro inimigo não estiver do lado de fora… mas entre os convidados?

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