Na vitrine do poder, até o amor pode ser transformado em espetáculo. E nesta noite, sob as luzes intensas e o brilho de contratos milionários, Marta e Jonathan encenam um drama que nenhum dos dois desejava, mas que ambos ajudaram a escrever. A aparente perfeição do casal diante dos investidores se desmancha quando o ciúme, disfarçado de zelo, rompe a superfície. Um vulcão desperta dentro de Marta, e ela não vai mais conter a erupção.
A feira à noite pulsa como se tivesse vida própria. Os estandes se estendem como corredores de um reino tecnológico: luzes fluorescentes lançam sombras coloridas, telões exibem números impressionantes e os sons das máquinas se misturam ao murmúrio de línguas estrangeiras. Jonathan caminha com ares de rei, vestindo ambição como armadura. Em poucas horas, negocia equipamentos que prometem revolucionar a linha de produção da Schneider. Compra duas esteiras de encapsulamento, três robôs de automação, novas seladoras, um sistema completo de empacotamento a vácuo. Sente-se invencível.
— Isso vai otimizar nossa produção em pelo menos trinta por cento — comenta com Eduardo, exibindo um raro sorriso. — Em seis meses, o investimento se paga.
Marta o acompanha com a elegância de quem sabe o próprio valor. Atenta, questionadora e técnica. Ao parar diante de um equipamento de nanotecnologia, um representante francês se aproxima. É jovem, simpático e claramente impressionado com a postura dela. Marta se interessa genuinamente pelos detalhes, faz perguntas inteligentes e ganha sua total atenção. O homem se inclina um pouco demais. Sorri demais. Jonathan, alguns passos atrás, sente a tensão crescer como uma fisgada no estômago.
Ele avança devagar, com o rosto fechado. A expressão que usa em negociações difíceis. A raiva disfarçada de postura fria.
— Já terminou aí? — pergunta, em tom baixo, mas carregado de veneno.
O francês, sem perceber o veneno, continua explicando:
— Monsieur Schneider, sua assistente tem excelente percepção técnica. Estávamos discutindo sobre...
— Eu percebi — Jonathan interrompe, seco como uma lâmina.
Marta fecha os olhos por um breve segundo, contendo um impulso. Então sorri para o representante, com uma elegância ferida.
— Me desculpe. Retomamos essa conversa amanhã, pode ser? Obrigada pela atenção. Tenha uma boa noite.
Ela se afasta com passos firmes. Jonathan a acompanha em silêncio. Eduardo, alguns metros atrás, sussurra:
— Isso vai dar merrda...
No caminho até o restaurante do hotel, Marta está gelada. Os olhos fixos à frente, o maxilar travado.
— Estou com fome — diz, com um tom que não admite réplica. — Vamos jantar. Estou exausta.
O jantar é tenso. A comida parece perder o sabor. Eduardo tenta manter a neutralidade, puxando assuntos inofensivos, mas percebe que a guerra entre eles já começou. Após a sobremesa, seguem em silêncio até o quarto. Eduardo, ao se despedir:
— Qualquer coisa, estou ao lado. Só chamar.
— Obrigada — diz Marta, com um aceno automático.
Quando a porta da suíte se fecha, o ar pesa. Jonathan começa a falar, mas Marta o corta com a fúria contida de horas:
— Você é um idi0ta. Um moleque possessivo.
— Marta, espera. Eu...
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Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino