O sol atravessa as cortinas da suíte como um invasor silencioso, derramando sua luz morna sobre o quarto que carrega, mais do que nunca, o peso da distância entre duas pessoas que antes dividiam tudo, os planos, promessas, toques e risos. Agora, dividem apenas o espaço e o silêncio. Jonathan desperta antes de Marta. Observa-a, imóvel, como se cada segundo de quietude ao lado dela fosse uma oportunidade de tentar entender o que perdeu e o por quê.
Ela dorme de lado, de costas para ele. Seu corpo parece encolhido, como se se protegesse de algo. Há uma rigidez nos ombros, uma tensão latente, mesmo no sono. A muralha entre eles não é feita de lençóis ou travesseiros, mas de palavras engolidas, de ressentimentos acumulados, de um ciúme que se tornou uma sombra intransponível.
Quando Marta acorda, não há troca de olhares, nem um bom dia. Ela levanta-se em silêncio, vai ao banheiro, lava o rosto com pressa, e começa a se arrumar como se estivesse sozinha. Jonathan se senta na cama, angustiado, tentando encontrar uma brecha para dizer algo, qualquer coisa que quebre aquela armadura gelada que ela ergueu.
— Marta… podemos conversar? — a voz dele é baixa, quase um sussurro.
Ela ajeita o cabelo diante do espelho, sem virar o rosto.
— Melhor a gente descer. Temos uma agenda cheia hoje — responde, com uma frieza que dilacera mais do que um grito.
Jonathan sente-se atravessado por uma faca invisível. Ela não grita. Ela o ignora. E isso, para ele, dói infinitamente mais.
No café da manhã, dividem a mesa com Eduardo. Marta se concentra no celular, revendo a programação do dia com um profissionalismo implacável. Eduardo percebe a tensão no ar, mas como bom segurança e aliado discreto, limita-se ao silêncio.
A caminho do centro de eventos, o clima continua insuportável. Marta caminha à frente, decidida, com sua credencial no peito como um escudo. Jonathan segue atrás, acompanhando cada passo como quem observa um campo minado. É no elevador que Eduardo finalmente rompe o silêncio:
— Você precisa soltar ela um pouco — diz, com firmeza. — Está espremendo tanto a liberdade dela que vai acabar esmagando o que ainda sente por você.
Jonathan suspira, cansado.
— E se eu perder ela de vez?
— Aí é que tá, Jon… Você já tá perdendo. E não é para outro homem. É pra esse cara que você virou, que ela não reconhece mais.
As palavras ficam gravadas como ferro quente. Jonathan encosta-se na parede metálica do elevador, derrotado. Ele, que sempre teve o controle de tudo, agora não controla nem a própria angústia.
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