O fim do dia chega como um suspiro de alívio, mas também com o peso de tudo que foi vivido. Marta, Jonathan e Eduardo caminham pelos longos corredores do hotel, os passos arrastados, os corpos exaustos, os pensamentos transbordando. A tensão entre Marta e Jonathan ainda é palpável, mas há uma espécie de trégua silenciosa, como se ambos estivessem tentando conter um vulcão prestes a despertar novamente.
— Acho que a gente deu conta do recado — diz Eduardo, abrindo um sorriso preguiçoso enquanto boceja. — Mas, por favor, amanhã não me acordem antes das dez. Sério. Meu cérebro já está desligando agora.
— Vai sonhando — Marta responde, sem perder o tom prático. — Amanhã é o último dia da conferência. Sete horas na recepção.
— Vocês são cruéis demais — ele dramatiza, apoiando-se na parede, de forma quase teatral. Seus olhos passeiam de Marta para Jonathan com um brilho malicioso. — Mas pelo menos, se vocês se matarem de novo, me avisem. Quero ver ao vivo.
— Vai dormir, fofoqueiro — Marta rebate, com um sorrisinho. Jonathan solta uma risada curta, e Eduardo levanta as mãos como quem se rende, girando a maçaneta da porta.
— Boa noite, casal. E Jonathan... tenta não estragar tudo essa noite. Dá um tempo para a sua mulher respirar.
Jonathan revira os olhos, mas não responde. Marta apenas sorri de canto e acena. Eduardo desaparece no quarto, mas suas palavras ficam no ar.
Dentro da suíte, Marta entra primeiro, aliviada por finalmente tirar os saltos. Larga-os num canto, desabotoa a blusa com pressa e caminha em direção ao banheiro.
— Eu preciso de um banho urgente — murmura, a voz baixa, cansada.
Jonathan a observa em silêncio. A delicadeza dos gestos dela, mesmo exausta, ainda mexe com ele de um jeito que ele não sabe nomear. Marta fecha a porta do banheiro, e o som da água tomando o espaço parece acalmar o ambiente.
Lá dentro, sob o jato quente, Marta tenta lavar mais que o cansaço. Tenta purificar as emoções embaralhadas. Jonathan a magoou, sim. Profundamente. O olhar dele hoje, como se ela fosse uma mulher fácil, vulnerável a qualquer elogio... aquilo a corroeu. Ela o ama. Mas não pode se perder para mantê-lo.
De repente, sente uma presença. Mãos grandes e quentes tocam sua cintura nua com cuidado. Ela se vira devagar. Jonathan está ali. Molhado da água que agora escorre pelos dois, os olhos cravados nos dela, o rosto vulnerável, quase aflito.
— Me desculpa — diz ele, a voz rouca, trêmula. — Eu... eu não sei o que tá acontecendo comigo, Marta. Eu tô me perdendo, me desconhecendo. Nunca fui esse homem ciumento, possessivo, inseguro. Nunca fui de sentir medo assim. Mas com você... é diferente. Tudo é maior. Tudo é intenso. Você me vira do avesso, e eu tô reagindo do pior jeito possível.
Ela mantém o olhar firme, mas os olhos já brilham com lágrimas contidas.
— Eu sei que você me ama, Jonathan. E eu te amo também. Mas amor não é desculpa para tentar controlar o outro. Eu não posso ser tratada como alguém que vai abrir as pernas para o primeiro que me elogia. Isso me fere, me humilha. Eu sou sua mulher por escolha, e não por obrigação. E se você continuar me tratando como posse... eu também escolho ir embora.
— Você está de castigo — diz ela, com um sorriso travesso.
— O quê...? — ele pisca, incrédulo, o corpo pulsando de desejo.
— Isso mesmo. Vai dormir na vontade. Precisa aprender que nem tudo se resolve com sex0. Precisa me ouvir primeiro. Me respeitar.
— Marta, isso é tortura — ele geme, encostando a testa no ombro dela.
— Bem vindo ao clube das noites em claro, senhor Schneider — ela provoca, se virando de costas. — Agora me passa a toalha.
Jonathan sai do banheiro com a toalha frouxa na cintura, derrotado. O corpo tenso, os olhos carregados de arrependimento e desejo. Pouco depois, Marta surge nua, serena e linda. Se deita na cama com tranquilidade e apaga a luz como se nada tivesse acontecido. Ele deita ao lado, ainda em brasas, mas grato por ela estar ali.
Será que ele vai conseguir provar que pode ser um homem melhor para ela? Ou as sombras do próprio orgulho vão afogá-lo antes disso? Será que Marta vai conseguir equilibrar o amor que sente com o respeito que exige? E o que acontece quando dois corações tão diferentes precisam aprender a bater no mesmo compasso, sem se machucar no processo?

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