O aroma de café fresco serpenteia pelo ar com uma doçura quase provocante, misturando-se ao som abafado de conversas em línguas diferentes e ao tilintar de talheres de prata contra porcelana fina. A sala do café da manhã do hotel cinco estrelas em Montevidéu está repleta de executivos e representantes do setor farmacêutico, mas é quando Marta e Jonathan entram que o ambiente parece, por um breve instante, desacelerar.
Ele com seu andar calmo, elegante, terno ajustado com precisão cirúrgica. Ela, com um brilho no olhar que não se explica com maquiagem e um rubor leve demais para ser apenas timidez. A atmosfera ao redor dos dois muda, ou talvez seja apenas a tensão latente que ficou da noite anterior, daquela madrugada em que o desejo gritou mais alto que a razão.
Na mesa mais afastada, estrategicamente posicionada de frente para a entrada, Eduardo já os espera. O segurança pessoal de Jonathan está de terno escuro, óculos de leitura sobre o nariz e o jornal dobrado na mão esquerda. Mas é a expressão no rosto dele que entrega mais do que qualquer manchete, a vigilância, análise... e uma pontinha de provocação.
— Dormiram bem? — pergunta, com o tom casual demais para ser inocente. Seu olhar pousa de Marta para Jonathan, e depois para o cardápio, como se tentasse disfarçar um sorrisinho cínico.
Jonathan apenas pisca, sem responder verbalmente. A cumplicidade no gesto é quase provocadora. Marta, em resposta, cora ligeiramente, baixando os olhos para a mesa com um sorriso contido. Não há dúvidas, algo se consumou entre eles na noite anterior. E isso deixou marcas.
O café da manhã segue tranquilo, mas há um tipo de silêncio que não é vazio, é pleno. Jonathan serve frutas para Marta sem dizer nada. Ela corta um pedaço de pão para ele. Pequenos gestos, automáticos, mas íntimos. Os olhos se cruzam com frequência, e mesmo que não haja palavras, há confissões demais nesses olhares. Não é mais só desejo. Há ternura, respeito, entrega. E ambos sabem disso.
Logo após a refeição, os três seguem para o último dia da conferência farmacêutica. O hall do centro de convenções já pulsa como se tivesse vida própria, os executivos trocam cartões, fornecedores arrumam seus estandes com pressa e jornalistas caminham com suas credenciais balançando no pescoço. É o auge do evento, e o ambiente vibra com tensão, oportunidade e ambição.
Jonathan, no entanto, caminha com uma leveza surpreendente. Está vestido impecavelmente, como sempre, blazer escuro, camisa branca bem passada, sapato polido e as mãos enfiadas nos bolsos da calça social com o despretensioso ar de quem domina o ambiente. Mas seu olhar é outro. Não o de quem precisa provar alguma coisa, e sim o de quem encontrou o que realmente importa. Ele está em paz. Dono de si. E, de certa forma, dono dela, mas não como quem exige, e sim como quem cuida.
Marta acompanha o passo dele, usando um vestido midi azul marinho que abraça p seu corpo com classe. Os saltos baixos evidenciam sua elegância funcional. Ela carrega uma prancheta com dados técnicos e não parece apenas acompanhante, ela é parte do grupo, parte das decisões, parte do futuro.
— Esse fornecedor de cápsulas retardadas parece promissor — comenta Marta, com os olhos vasculhando uma ficha técnica como se fossem mapas de um tesouro escondido.
— Concordo — Jonathan responde, inclinando-se levemente para ler com ela.
— Você percebeu que eles oferecem uma margem de adaptação conforme o tipo de liberação desejada?
— Sim. Isso abre uma margem absurda para manipulações mais específicas. Pode ser um diferencial para a gente.
Ele a encara por um instante, depois sorri com aquela confiança serena que, por vezes, é até desconcertante.
— Então fecha com eles. Se você aprovou, eu confio.
Sem hesitar, ele entrega o crachá à responsável pelo estande, já formalizando o contato.
Marta o encara, visivelmente surpresa.
— Assim, tão fácil?
— Marta... você entende disso mais do que muita gente que contratamos. Eu tô aqui pra tomar decisões com você, não sobre você.
A frase a atinge como um abraço. Não é só a validação técnica, é o respeito, é a parceria real. O orgulho que cresce dentro dela não é vaidade, é gratidão. Ela sorri de leve, e por um segundo, parece que o mundo todo desacelera ao redor deles.
Enquanto circulam pelo salão, cumprimentando alguns rostos conhecidos e ouvindo pitches rápidos de startups emergentes, os dois seguem juntos, em sintonia silenciosa. Jonathan passa o braço pelas costas dela em um momento mais íntimo, como quem protege, mas também se ancora. Marta retribui com um toque leve nos dedos dele, imperceptível para o mundo, mas forte o suficiente para fazer o coração dele disparar.
Durante toda a manhã, eles seguem juntos, conversando com fornecedores de embalagens, de excipientes, testando fragrâncias de cosméticos e analisando tendências em fitoterápicos. Em nenhum momento Jonathan se mostra possessivo. Ele observa Marta interagir com outros representantes, vê sorrisos trocados, notas anotadas em cadernos, e ao invés de ciúme... sente admiração.
— Você viu o stand de compostos naturais da Ásia? — Eduardo se aproxima, já com uma sacola cheia de amostras.
— Vi sim. Tem uns adaptógenos que podem revolucionar o setor de suplementação — Marta responde, animada.
— Eu separei uns para vocês. Mas olha... — Eduardo olha entre os dois — vocês estão diferentes hoje. Finalmente encontraram um equilíbrio ou só estão fingindo bem?
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