A noite cai como um manto pesado sobre São Paulo. O céu nublado engole os últimos traços dourados do pôr do sol enquanto a cidade pulsa, viva, frenética. No grupo Schneider, Marta retoca o batom diante do espelho, enquanto Jonathan observa de longe, afrouxando a gravata e girando levemente um copo de whisky meio vazio na mão. Ele já tomou algumas doses com Ravi mais cedo no grupo, enquanto discutiam metas e estratégias. Mas ali, agora, o olhar dele está mais sombrio. Mais intenso.
Eduardo dirige o carro, calado, até Jonathan dispensá-lo de forma seca ao chegar em casa.
— Pode ir, Eduardo.
Eduardo hesita, mas obedece. Marta percebe a tensão, mas não comenta.
Minutos depois, eles seguem para o restaurante, ambiente luxuoso e reservado para executivos de alto escalão. Ao chegarem, Jonathan está mais sério que o normal, o hálito carregado de whisky, sussurra o início de um problema. Marta o segura pelo braço com carinho, tentando suavizar o clima.
O empresário os espera já à mesa. Um homem de meia idade, olhar afiado, vestido com um terno caro e um sorriso fácil demais. Quando vê Marta, os olhos dele cravam nela com uma intensidade que a faz se encolher por dentro.
— Senhorita Marta... — ele se levanta, estendendo a mão com um sorriso malicioso.
— Agora entendo por que o presidente do grupo anda tão sorridente ultimamente.
Marta força um sorriso educado, mas evita o contato visual direto.
— Boa noite — diz, sentando-se ao lado de Jonathan, que já ergue o próximo copo.
Durante a conversa, o empresário mal disfarça o interesse. A cada pergunta, a cada elogio sutil demais, Marta recua um pouco mais. Jonathan observa tudo em silêncio, os dedos apertando o copo com força. A bebida desce como gasolina no estômago e o fogo começa a subir.
— E me diga, Marta... — o homem diz, inclinando-se — você aceitaria jantar comigo um dia desses? Apenas para falarmos sobre... possibilidades?
— Eu sou comprometida, senhor. — ela responde, firme.
O homem sorri, fingindo surpresa.
— Ah, claro. Mas um jantar não mata ninguém, não é mesmo?
Marta se afasta, o olhar já irritado.
— Eu disse que não — repete, seca.
Mas ele estende a mão, segura a dela com ousadia.
— Você é encantadora.
Marta puxa a mão com força, visivelmente desconfortável. Jonathan vira mais um copo, os olhos incendiando de dentro para fora. Mas ainda assim, ele se mantém em silêncio. Um silêncio que grita.
— Com licença — Marta diz, levantando-se e indo até o banheiro, o coração disparado.
Sozinhos à mesa, o empresário vira-se para Jonathan com um sorriso provocador.
— Parabéns. Ela é linda... e muito bem educada. Deve ser uma delícia.
Jonathan o encara, cada músculo do rosto contraído.
— Ela não está disponível. E esse assunto termina agora.
— Relaxe, Jonathan... estou apenas comentando.
— Já falou demais. Tô pedindo a conta — diz o presidente, frio como gelo, mas por dentro, pronto pra explodir.
Quando Marta retorna, mais calma, o garçom entrega a conta. Eles se levantam. No caminho até a saída, o empresário estende um cartão.
— Qualquer coisa, estou à disposição. Marta, foi um prazer — ele diz, entregando o cartão diretamente a ela.
Marta hesita. Por educação e constrangimento, pega o cartão e guarda na bolsa sem olhar. Mas o olhar do homem ainda queima nas costas dela.
Jonathan fecha a cara, o ciúme queimando junto com o álcool nas veias. Os dois saem em silêncio, a tensão caminhando entre eles como uma sombra.
Dentro do carro, Marta respira fundo.
— Podemos ir para casa? — pergunta, cansada, com um olhar triste.
Jonathan apenas liga o motor, sem dizer uma palavra.
A tensão dentro do carro é sufocante. As luzes da cidade passam como borrões pelas janelas, mas tudo que Marta ouve é o silêncio denso e carregado de fúria vindo de Jonathan, que dirige com os olhos fixos na estrada e a mandíbula travada. Ela sabe que ele está se segurando, que algo dentro dele está prestes a quebrar. E quando Jonathan quebra, é destruição.
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