Campos do Jordão…
A noite cai espessa sobre as montanhas, como se o mundo inteiro decidisse vestir luto.
Dentro do chalé, a lareira ainda crepita, mas seu calor é inútil, um fingimento de conforto num lugar onde tudo já morreu. Jonathan está ali. A sombra do homem que costumava ser.
Do lado de fora, a neblina densa envolve as montanhas como um abraço sufocante. O clima perfeito para quem quer desaparecer. Para quem quer esquecer que acabou de destruir tudo.
Ele passou o dia trancado ali. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Só ele, o silêncio e os fantasmas que agora fazem morada dentro de si.
Na cabeça, a imagem dela. Marta. O jeito como ela puxava a coberta quando sentia frio. O sorriso torto ao se levantar ainda sonolenta. A forma como dizia "bom dia" como se o mundo todo coubesse em duas palavras ditas com amor.
Sentado numa poltrona larga de couro, as pernas abertas, os cotovelos apoiados nos joelhos, ele segura um copo vazio como se fosse um escudo contra o inferno que queima dentro do peito.
A garrafa de whisky jaz sobre a mesinha, mais da metade consumida. Os olhos dele estão vermelhos, vazios, fixos no fogo, como se esperasse ser punido por cada faísca que sobe.
Mas nenhuma punição seria suficiente.
Ele não dorme, não come. Não respira direito.
O mundo perdeu o eixo. A culpa não é mais um sentimento, é um ácido, corroendo de dentro para fora.
O nome dela ecoa em silêncio por todos os cômodos.
Marta. A mulher que ele ama. A mulher que o fez se sentir inteiro pela primeira vez na vida, após o caos. A mulher que confiou nele. Que se entregou a ele.
E que ele…
Destruiu.
As mãos dele tremem. Ele se vê ali, de novo. A cena se repete em looping na mente. A raiva. O ciúme cego. O descontrole. As palavras cruéis. A força que usou.
A forma como a segurou pelo pescoço, como a feriu, não com os punhos, mas com algo muito pior.
Com a covardia.
Ele sussurra a frase como quem cospe veneno:
— "Vagabunda bem treinada."
E a náusea o consome. O estômago revira. A garganta fecha.
O nojo que sente de si mesmo é insuportável.
Jonathan se levanta num ímpeto, tropeça nas próprias pernas, cambaleia até o janelão que dá vista para o vale. Lá fora, a névoa cobre tudo como um véu de luto. É belo. Dolorosamente belo. Uma paisagem que ele já não merece contemplar.
Ele encosta a testa no vidro frio. Os olhos ardem. Os ombros desabam.
O peito dói. Não como metáfora. Dói de verdade. Uma dor que o deixa curvado. Fraco. Derrotado.
— "Ela era minha. Minha mulher. Meu amor. E eu fui um filho da putta."
As lágrimas finalmente vencem. Escorrem silenciosas, cortando as bochechas sem permissão.
Ele não chora apenas por arrependimento. Chora pela perda, pela certeza de que ultrapassou o limite. De que tocou um ponto sem retorno. De que manchou o amor com sangue.
Porque sim, foi isso que fez. Ele matou algo sagrado.
E o monstro que o habita, esse lado sombrio que ele sempre acreditou controlar, o venceu.
Jonathan se deixa cair no sofá como quem despenca de um precipício. O teto do chalé gira, mas o único foco é o rosto dela, tatuado na escuridão.
O rosto de Marta, olhando pra ele com medo, com dor, com a decepção estampada no rosto..
Ele sussurra o nome dela. Trêmulo.
— “Marta… me perdoa…”
Mas ela não está ali para ouvir.
Então ele pega o celular.
Nada. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Nenhuma chance.
E ele entende. Porque ela não deve perdoá-lo. Não agora. Talvez nunca.
A mão fecha o aparelho com força, como se quisesse quebrar a realidade.
Mas no fundo, em meio a toda aquela escuridão, uma fagulha começa a queimar:
A decisão.
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