O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 127

O chão de cerâmica antiga desliza sob os pés de Marta assim que ela cruza a soleira da porta. O som é baixo, mas para ela, ecoa como um trovão de lembranças. Dona Maria a recebe com um sorriso trêmulo nos lábios, os olhos marejados, e a voz que sai quase como um sussurro de oração atendida.

— Mantive tudo como você deixou, filha... — diz, engolindo o choro, com o coração nas mãos.

Marta para no meio do quarto. Fica imóvel, como se atravessar aquela porta fosse regressar no tempo, mas o tempo agora é outro, e ela, outra mulher. O olhar dela vagueia lentamente, absorvendo cada detalhe. A colcha florida, a mesma que ela escolheu quando ainda tinha esperanças inocentes no coração. Os livros enfileirados na estante, um deles com o marcador ainda na página em que parou há anos atrás. O mural de fotos, o rosto de sua infância ao lado do irmão. A cortina azul-claro... tudo limpo, lavado, organizado. Intocado.

Como se o quarto tivesse segurado a respiração, esperando o seu retorno.

Ela se vira para a mãe com os olhos cheios d’água e sem dizer uma palavra, se atira nos braços dela. O choro não é escandaloso, mas profundo, abafado, como quem deságua um rio represado há muito tempo. Dona Maria a envolve com delicadeza, passando a mão pelos cabelos da filha como fazia quando Marta era criança, como quem tenta costurar os pedaços quebrados de uma alma ferida.

— Toma um banho, minha filha... esquenta essa alma. Limpa essa dor. Aqui você pode cair. A gente segura.

Marta apenas assente com a cabeça, sem forças para responder. Vai direto para o banheiro. Tranca a porta. Fica nua diante do espelho. Observa o próprio corpo. Liga o chuveiro. A água quente desce como lágrimas do teto, lavando o cheiro do passado, da dor, do medo. Marta fecha os olhos e deixa a água escorrer até o chão, como se quisesse descer junto. Mas permanece ali, de pé. Firme. Viva.

Quando sai, o corpo está limpo, o cabelo preso em um coque improvisado, e a roupa é simples, um moletom velho que encontrou no armário. Mas é sua pele que está diferente. Ainda machucada, sim. Mas decidida a não sangrar em vão.

À mesa do jantar, o cheiro da comida parece uma canção de infância. Arroz fresco, feijão temperado, carne de panela no ponto certo e pão caseiro quentinho. Marta respira fundo. O aroma a invade como um abraço. Como se fosse possível, por um instante, esquecer que o mundo lá fora ainda gira sem piedade.

Miguel, o irmão mais novo, não tira os olhos dela. Tem um sorriso no canto dos lábios e um brilho nos olhos, como se ainda estivesse tentando acreditar que ela realmente voltou. Que está ali, em carne e osso.

Mas o silêncio confortável se rompe quando o pai, Heitor, com a voz grave e embargada, coloca os talheres sobre o prato. O som do metal batendo na louça é quase cerimonial.

— Filha... — começa ele, os olhos buscando os dela — eu sei que alguma coisa muito séria aconteceu. Sério de verdade. Para você ter saído daquele jeito. Fugida. Sem uma carta, sem um aviso, sem um “tchau”. A casa ficou muda sem você. A sua mãe chorava no travesseiro achando que a gente não via. Eu... eu não sou bom com palavras. Mas o silêncio que você deixou foi ensurdecedor.

Ele pausa, o queixo tremendo.

— Mas olha... o que importa mesmo é que você voltou. O resto... você conta só se quiser. A gente só te pede uma coisa. Pelo amor de Deus, Marta, não desaparece mais. A gente não aguenta outro sumiço. Não sem saber se você tá viva.

Marta sente um nó subir da garganta ao peito. Os olhos se enchem de lágrimas, e ela abaixa a cabeça por um instante. Quando volta a erguer o rosto, as lágrimas já escorrem. Estica a mão por cima da mesa e segura a mão do pai com força.

— Eu prometo, pai. De verdade. Eu não vou mais fugir. Não de vocês. Só... só preciso de um pouco de tempo. Mas assim que eu conseguir respirar de novo, eu conto. Tudo. Palavra minha.

Heitor balança a cabeça devagar, com os olhos molhados, mas sem mais perguntas. Ele entende o que o olhar da filha não consegue traduzir. Ele foi duro a vida inteira, mas naquele instante, é apenas um pai quebrado tentando juntar os cacos com amor.

Como se sentisse que o momento pedia leveza, Miguel tenta sorrir.

— Bom... já que tá todo mundo falando verdades, hora de contar a minha: tô no segundo semestre de administração. Tô firme, viu? Nunca pensei que ia gostar de estudar, mas... olha só. Tô indo bem.

Marta solta uma risada tímida, pela primeira vez em dias. Os olhos ainda úmidos, mas agora com brilho.

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