O silêncio que paira na casa dos Maia é mais ensurdecedor do que qualquer tempestade. Marta foi embora deixando atrás de si um rastro de perguntas, incertezas e dor. Dona Maria entra na cozinha como quem procura refúgio, mas encontra apenas a solidão das paredes que presenciaram tudo e não disseram nada.
Ela se apoia na pia, o corpo tremendo, os olhos marejando até que a primeira lágrima escorre. Depois, todas as outras vêm como enxurrada. Ela chora como uma mãe que teme nunca mais ver a filha. Chora como uma mulher que falhou em proteger o que tinha de mais precioso.
Do lado de fora, o sol forte contrasta com a sombra que cobre o coração de Miguel e do pai, Heitor. Eles se encaram em silêncio, como se ambos tivessem sentido o mesmo estalo na alma.
— Miguel… — começa Heitor, com a voz firme, mas os olhos marejados. — Eu sei que você e a Marta têm uma ligação muito forte. Mas tem algo errado, filho. Muito errado. E eu preciso saber.
Miguel o encara, tenso. O nó na garganta parece crescer.
— Desde que o padrinho dela apareceu… ela ficou pálida, tremia, parecia que viu um fantasma. A xícara caiu da mão dela, Miguel. Você viu. O Zé… quando olhou pra ela, parecia… parecia ter visto o próprio diabo. Depois passou mal e morreu. Mas a cara dele… era de culpa.
Heitor respira fundo, com dificuldade. A mão treme ao tocar o ombro do filho.
— Marta amava o padrinho, quando era criança. E de repente, o que era amor virou medo? Desespero. Pavor. E agora ela some de novo. Diz que vai voltar, mas… será?
— Pai… — Miguel engole em seco. — Eu vou tentar conversar com ela. Com cuidado. Eu tenho medo dela desaparecer de novo. Eu não suportaria isso.
— Eu sei. Mas, filho… se a minha filha sofreu alguma coisa… aqui dentro, debaixo do meu nariz, entre os nossos… eu preciso saber. Como pai. Como homem. Eu não vou permitir que nada aconteça com uma neta minha. Se ela ou você, um dia tiver uma filha, eu vou morrer se souber que o mesmo pode acontecer de novo, dentro da minha casa.
Miguel fecha os olhos, engolindo a raiva e a dor.
— Eu prometo, pai. Vai ser entre nós, como homens. Eu vou descobrir. Mas com cuidado.
Eles se encaram, a força do pacto selada num silêncio pesado. A cumplicidade de pai e filho agora é um elo de responsabilidade e dor compartilhada. Em seguida, voltam para dentro da casa. Encontram Dona Maria com os olhos inchados e a alma despedaçada. Heitor a acolhe nos braços e sussurra:
— Vai ficar tudo bem, minha velha. Marta vai voltar. Mas agora… agora a gente precisa estar forte para a Darlene. Ela perdeu o pai… e já tinha perdido a mãe.
Maria chora no peito do marido, mas pela primeira vez, sente que não está sozinha. Que há força naquela casa. Que há amor, mesmo em meio ao caos.
Mas no fundo… a pergunta ainda paira no ar, sem resposta:
O que realmente aconteceu com Marta? Qual é o segredo que ela escondeu com tanto desespero? E será que o tempo, ou o amor, serão suficientes para curá-la… ou será tarde demais?
— Rui, tem um minuto?
— Agora não, Jonathan. Estou com um compromisso urgente. — O tom do advogado é cortante, seco, mas ainda polido.
Jonathan assente, sem responder. Vê o amigo se afastar pelo corredor, sentindo o peso da decepção pairar entre eles. Não insiste. Sabe que Rui está evitando-o. E ele entende. Ninguém está mais decepcionado consigo mesmo do que ele.
Pega seu café na copa da presidência, acena mecanicamente para alguns funcionários e segue para a sala.
Ali, na solidão imponente do seu escritório, responde e-mails, revisa relatórios e agenda reuniões como um robô. A cadeira de Marta, vazia ao canto, é um lembrete constante do que perdeu. Vez ou outra, alguém entra com alguma pendência e sai rápido, quase temendo a explosão daquele homem que agora trabalha calado, sempre com o olhar distante.
Mas o que ele sente, ninguém vê.
Será que ela ainda pensa nele?
Será que o silêncio dela é ódio ou proteção?

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