O cheiro de terra molhada, o som das galinhas no quintal e o vento suave que balança as folhas das laranjeiras anunciam o improvável, Marta Maia voltou.
Após uma semana desaparecida, sem avisos, sem mensagens, sem rastros e agora ali está ela, surgindo na porteira com a sua RAM ronronando e uma expressão serena demais para quem carrega o caos nos olhos. Os cachorros correm ao seu encontro como se o tempo nunca tivesse passado. Dona Maria, que estava colhendo manjericão na horta, larga tudo ao ver a filha e corre com as mãos trêmulas, as lágrimas já rolando antes mesmo de tocá-la.
— Filha! Minha menina! — ela sussurra, apertando Marta contra o peito como se pudesse impedi-la de sumir outra vez.
Marta sorri com doçura e tristeza misturadas. Beija o rosto da mãe, sente o cheiro do perfume leve que sempre a acalma e sussurra:
— Eu voltei, mãe. E dessa vez… é para ficar, posso morar aqui novamente?
Heitor, com os olhos marejados, aparece na varanda. O sorriso contido denuncia a alma em conflito. Ele desce os dois degraus devagar e observa a filha como se tentasse decifrá-la com o olhar. Ao lado dele, Miguel se aproxima mais rápido, e quando chega até Marta, não diz nada, apenas a abraça forte. O silêncio entre os dois fala mais do que qualquer palavra.
— Filha, essa casa é sua, você nunca deveria ter saído. — Dona Maria responde com a voz embargada.
O almoço é preparado com festa. Dona Maria faz sua famosa massa italiana, com molho fresco, manjericão, alecrim e orégano colhidos há minutos, como Marta sempre gostou. A cozinha se enche de aromas, risos nervosos e olhares trocados. A família inteira se acomoda à mesa, mesmo que em silêncio às vezes desconfortável. Todos querem que seja um recomeço. Ninguém quer pressioná-la. Mas os olhos curiosos e a tensão velada denunciam: há perguntas não feitas, respostas temidas.
— E aí, filha… — Heitor puxa assunto com voz calma.
— Vai nos contar pra onde foi?
O cheiro do café fresco se mistura ao som distante do rádio, preenchendo a cozinha com uma calma quase nostálgica.
— Eu fui respirar. — Marta finalmente rompe o silêncio, a voz baixa, controlada, mas firme.
— Precisava colocar algumas ideias no lugar. Entender o que eu quero… e o que eu mereço.
Miguel troca um olhar rápido com o pai. Ele conhece aquele tom. Marta não voltou só por saudade. Ela voltou com um propósito. Mas qual?
Antes que alguém comente, ela se levanta e vai até o carro estacionado na frente da casa. Em poucos minutos, retorna carregando três grandes sacolas e um pacote volumoso nos braços. Dona Maria franze o cenho, surpresa.
— Marta, o que é isso, minha filha?
— Comprei umas coisas. Para você, mãe. — diz com simplicidade, depositando o conteúdo sobre a mesa da sala.
— Sei que você gosta dessas coisas de casa.
Ela começa a tirar os itens, um por um, com movimentos organizados e calmos, as toalhas de banho felpudas, panos de prato com estampas florais, jogos de cama com rendas discretas, toalhas de mesa bordadas com cuidado, colchas de casal, um edredom bege sofisticado. Tudo novo. Tudo bonito.
— Já estava querendo mesmo pintar a sala, mas seu pai vive adiando isso…
— Então pronto. — diz Marta.
— Agora tem tudo aí. Se quiser, a gente começa no fim de semana.
A mãe a abraça de repente, apertado, com ternura.
— Você sempre tão prática, tão direta... mas eu sei quando faz algo do coração.
Marta não se esquiva, mas também não se entrega por inteiro. Ainda há certa rigidez em seus gestos, como se ela mantivesse uma parte protegida dentro de si. O abraço termina, e ela volta a guardar alguns dos itens com calma.
Naquela noite, quando todos se recolhem, Marta fica na varanda olhando as estrelas. O vento sopra forte, mas ela permanece firme. No colo, um caderno novo, cheio de anotações, esboços, sonhos. Ela traça metas, pensa em investimentos, reorganiza sua vida. Mas quando fecha os olhos, a imagem de Jonathan ainda vem. Forte. Intensa. Dolorosa.
Será que Marta vai conseguir se manter longe dele por muito tempo?
Esse amor é robusto suficiente para suportar as artimanhas da vida?

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