Entrar Via

O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 141

Marta aperta o volante da caminhonete com tanta força que os nós dos dedos perdem a cor. O ronco do motor vai diminuindo à medida que ela desacelera, atravessando a velha porteira de madeira que range ao ceder passagem. A estrada de terra vermelha levanta poeira atrás de si, como se o passado, em forma de lembrança, a estivesse perseguindo.

Estaciona sob a sombra densa de uma mangueira antiga, onde, um dia, brincou de pique esconde com Miguel e Darlene. O mesmo cheiro de frutas maduras e folhas secas a invade, tão familiar quanto dolorido. Cada passo que dá agora parece ecoar dentro de si, um reencontro silencioso entre a mulher que partiu e a menina que um dia correu livre por aquelas terras. Ela não volta por causa do padrinho, cujos olhos ela evitava antes mesmo de partir, volta por Darlene. A amiga que nunca saiu do seu coração, apesar da distância, dos anos e dos silêncios impostos por tudo que a vida impôs.

A paisagem é um retrato que envelheceu sem perder a cor: as plantações de cana acenam ao vento como se reconhecessem Marta, os laranjais ainda exalam aquele cheiro doce e cítrico, e o pasto, com o gado Nelore espalhado, parece inalterado, bravo, belo, cheio de história.

Ela respira fundo antes de sair do carro. O coração não só b**e, ele grita, como se pressentisse que aquele momento era mais do que um retorno, era um recomeço.

Na varanda da casa grande, Darlene está parada, imóvel. É como se o tempo congelasse, como se o vento segurasse o fôlego à espera do reencontro.

— Marta...? — A voz de Darlene sai baixa, incrédula, quase um sussurro arranhado pelo choro preso.

Ela desce correndo os três degraus da varanda, e antes que qualquer explicação possa surgir, se lança nos braços da amiga.

— Eu pensei que nunca mais voltaria, minha amiga.

— E eu pensei que nunca mais teria coragem — diz Marta, segurando Darlene com uma força que carrega todos os anos perdidos.

O abraço é longo, apertado. Choram como quem lava a alma. Lavando medos, mágoas, culpas e aquela saudade que não cabia mais em silêncio.

— Eu senti tanto sua falta — diz Darlene com a voz embargada, ainda abraçada.

— Você sumiu como se nunca tivesse existido.

Marta afasta o rosto, enxuga as lágrimas com as costas da mão.

— Eu precisei sair, Darlene. Precisava descobrir quem eu era longe disso tudo. Longe das sombras... dos fantasmas.

Darlene segura o rosto dela entre as mãos.

— E agora? Já sabe quem é?

— Ainda estou descobrindo. Mas uma parte de mim ficou aqui... com você.

A casa grande parece menor por dentro. O cheiro de madeira encerada e café passado invade os sentidos, e Marta se surpreende com a força da nostalgia. Sentam-se na velha cozinha, onde a chaleira ainda apita no fogão a lenha como nos velhos tempos.

— Ele se foi num estalo, Marta — desabafa Darlene. — Um infarto fulminante. Nem tive chance de dizer adeus.

— Eu soube... Sinto muito, de verdade.

— Foi estranho. Quando ele morreu, não senti só tristeza. Senti um vazio, sabe? Como se ele tivesse levado uma parte de mim que eu ainda não tinha entendido.

— Às vezes, a gente entende tarde demais o que ficou por dizer.

A conversa se estende como um cobertor quente numa tarde fria. Elas falam de tudo e de nada. Da infância, das travessuras, das tardes correndo descalças na lavoura, do primeiro beijo roubado por Miguel e da surra que o padrinho prometeu dar quando descobriu.

Darlene ri, com os olhos ainda marejados, mas vivos.

Mas quando caminham de volta para dentro da casa, algo trava em Marta. Um arrepio desce por sua espinha. Ela passa pela antiga poltrona do padrinho, aquela onde ele sempre se sentava após o jantar, com o mesmo copo de uísque na mão e os olhos que pareciam ver além. A poltrona... está virada para a porta.

— Darlene, você mexeu na poltrona?

— Não... desde que ele morreu, ninguém encosta ali.

Marta fica imóvel. O olhar fixo no encosto do móvel.

O vento para de soprar.

Um rangido vindo do corredor.

Um som metálico, como algo sendo arrastado.

Darlene franze o cenho.

— Marta, tá tudo bem?

Mas Marta não responde de imediato. O olhar dela atravessa a sala. Os pelos dos braços se arrepiam.

Será que mesmo morto, Zé Alcântara vai permanecer muito tempo na lembrança de Marta?

O que mais, afinal, foi deixado para trás naquela casa além de lembranças?

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino