O relógio da marca 10h27 da manhã. Jonathan Schneider continua à frente do seu império, como sempre. O mesmo café amargo, o mesmo jornal dobrado sobre a mesa, a mesma rotina fria que voltou a ocupar seu lugar desde que Marta se foi. Quase dois meses. Sessenta e poucos dias de ausência preenchidos apenas por silêncios e lembranças.
Ele não fala sobre ela. Não toca no nome. Mas todos ao redor sabem que ela ainda vive em cada detalhe da vida dele. O salário dela continua sendo depositado religiosamente, todo quinto dia útil do mês, como se fosse uma tradição sagrada.
— Talvez um dia ela ligue pra agradecer — ele murmura para si mesmo, encostado na janela com a xícara nas mãos. — Ou talvez nunca mais.
Mas não é sobre agradecimento. Ele deposita porque não suporta a ideia de que ela possa, mais uma vez, estar com fome. Que a menina dos olhos grandes e assustados, que ele acolheu quase sem querer, esteja vagando sem rumo. Não suportaria saber que ela está sozinha.
Jonathan se enterrou no trabalho. O Grupo Schneider b**e recordes, expandiu para novos setores, iniciou negociações com parceiros internacionais. Ele está mais poderoso do que nunca, e mais sozinho do que jamais esteve.
— Senhor Schneider, os relatórios da filial de Dias D’Ávila foram enviados para revisão — avisa Monica, a sua secretária, entrando na sala com passos leves.
— Ótimo. Deixe na minha mesa, por favor.
A voz dele não tem emoção. A expressão é neutra. Seus olhos, antes intensos, parecem permanentemente cansados.
Monica hesita na porta.
— Senhor... o senhor vai querer reagendar aquele jantar com o grupo de Madrid?
Jonathan ergue os olhos devagar.
— Não. Cancele. Todos. Por tempo indeterminado.
Ela apenas assente, saindo em silêncio. Já entendeu. As tentativas da alta sociedade de se aproximar dele, de apresentá-lo a mulheres ricas, modelos, executivas, todas fracassaram. Ele não quer ninguém. Nem toca nesse assunto.
Durante as madrugadas longas, ele às vezes fecha os olhos e imagina: Será que ela está trabalhando com outro empresário? Será que saiu do país? Será que alguém a protege agora? Ele se agarra à única certeza que tem:
— Ela está viva. E eu jurei que ela nunca mais passaria necessidade enquanto eu viver.
Jonathan aperta o botão do notebook e mergulha nos números, estratégias e contratos. Cada linha lida, cada gráfico analisado, é uma forma de anestesiar a dor. De calar a saudade.
Mas quando ele deita, sempre sozinho, os sonhos o traem. Marta aparece em todos. Rindo. Chorando. Pedindo ajuda. E ele acorda com os punhos cerrados e o peito em brasa.
Na manhã seguinte, o banco envia a confirmação: Depósito realizado com sucesso. R$ 17.400,00. Referente ao salário da Sra. Marta Maia
Mônica sorri com doçura e sai em silêncio.
Na fazenda, Marta revisa as anotações do novo fornecedor de insumos. O terceiro galpão está em fase final, e a visita dos técnicos da empresa parceira foi um sucesso, eles aprovaram tudo. O negócio está tomando forma . Miguel caminha ao lado dela com uma prancheta, Dona Maria grita com as galinhas, e Heitor, o pai, supervisiona com o seu olhar atento.
O barulho de um motor potente rompe a tranquilidade da tarde na fazenda, fazendo até os galpões recém-pintados vibrarem levemente com a chegada inesperada. Marta ergue os olhos das anotações do novo fornecedor, o sol dourando seus cabelos presos de forma simples. O terceiro galpão está quase pronto, os técnicos da empresa parceira saíram satisfeitos, e tudo parece finalmente entrar nos trilhos. Mas então o carro preto importado estaciona diante do curral, tirando o ar da cena.
Miguel, ao lado dela com a prancheta na mão, solta um assobio baixo.
— Olha só quem resolveu aparecer…
Do carro salta Caio Ramos, elegante, confiante, o típico fazendeiro milionário que aprendeu a andar entre o barro e os salões. Filho de uma linhagem antiga, dono de laticínios que abastecem supermercados de ponta e conhecido por ser o solteiro mais cobiçado da região, ele parecia cria da casa... até seus olhos pousarem em Marta.
Ele para. Literalmente.
Os olhos se arregalam. A surpresa é nítida, quase cômica. E, por um segundo, o charme habitual dá lugar a um menino desorientado pelo reencontro com um fantasma do passado, só que bem viva, linda e segura de si.
— Marta? — a voz dele sai mais suave do que gostaria. — Eu... não sabia que você tinha voltado...

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