O som dos caminhões chegando ecoa por todo o sítio como uma sinfonia de conquista. É dia de retirada. O primeiro lote de frangos está em ponto de abate, e todos acompanham atentos a movimentação nos galpões. Marta, de botas nos pés, macacão branco, máscara, touca e prancheta na mão, observa tudo com um brilho orgulhoso nos olhos. Ao seu lado, Dra. Estela comanda a operação com maestria, como se estivesse liderando uma orquestra técnica e precisa.
— Cada ave conta — diz a veterinária, olhando Marta de relance. — Mas o que mais conta é esse trabalho em equipe. Vocês foram incríveis.
Miguel sorri ao lado da irmã, orgulhoso. Dona Maria, com o sorriso no rosto, avisa que trouxe o lanche, ja organizou tudo na copa, bolos, café e biscoitos para a família. Até Heitor, homem de poucas palavras, se permite um sorriso enquanto vê os filhos de olhos atentos, aprendendo cada detalhe.
O clima é de festa. O primeiro ciclo foi um sucesso, e Dra. Estela já traça o plano para os próximos.
— Assim que o caminhão sair com as últimas cargas, vamos começar a desinfecção. Não podemos vacilar agora, o intervalo entre lotes é fundamental para a biossegurança das aves. — ela explica.
Marta acena com a cabeça, absorvendo cada palavra.
— Vamos começar com a retirada da cama — continua Estela, essa serragem com fezes será vendida como adubo, uma fonte alternativa de renda a empresa rural. Tem um mercado excelente na região, principalmente para plantadores de cana e milho. Usem pás, máscaras, luvas. Cuidado com a inalação.
Ela então aponta para os bebedouros e comedouros.
— Lavem com detergente neutro, enxágue com água limpa, depois desinfetem com produto adequado. E por fim... — ela sorri, quase teatral — entra a nossa querida vassoura de fogo!
— Que nome é esse, meu Deus — comenta dona Maria, fazendo todos rirem.
— Uma tocha, literalmente. A gente passa fogo em todo o chão e nas estruturas de madeira, para eliminar qualquer patógeno que possa resistir. Segurança sempre.
Os irmãos anotam tudo, atentos, e Estela continua com as instruções detalhadas, de forma clara e dinâmica. Marta sente um orgulho imenso por ter escolhido bem os parceiros e a equipe. Nada ali é improvisado. Tudo tem técnica, ciência, cuidado e amor.
No fim do dia, já exaustos, o galpão está vazio, limpos, e a sensação de dever cumprido reina no ar. Marta observa tudo de longe, uma das mãos pousada sobre a barriga, sentindo seus bebês se mexerem.
Eles fazem parte de tudo isso também.
À noite, todos se reúnem para um jantar improvisado com o que sobrou do almoço, improvisado pela dona Maria. Risadas, piadas, brincadeiras com os nomes que darão aos novos lotes de pintinhos. A fazenda está viva, pulsante, e mais unida do que nunca.
Marta se permite um instante de silêncio no alpendre. A lua ilumina a plantação, os galpões ao fundo. Ela pensa em tudo o que conquistaram... e no que ainda não contou. No nome que ainda carrega em segredo. No pai que os bebês talvez nunca conheçam, ou que talvez conheçam tarde demais.
Ela respira fundo, fecha os olhos e pensa:
Será que ele sente? Será que lá, no meio de tantos arranha-céus e cifras, Jonathan pressente que duas vidas crescem dentro de mim... dele?
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