O estrondo do soco na mesa ecoa pela sala de reuniões como um trovão inesperado. O vidro vibra, as cadeiras rangem, e por um segundo inteiro, ninguém respira. Jonathan Schneider está de pé, os olhos em brasa, os punhos cerrados, o maxilar travado. Seu humor, já instável há semanas, atinge o limite. A tentativa descarada de golpe comercial é a centelha que faltava para incendiar o barril de pólvora.
— Achou que eu sou o quê, um moleque? — ruge ele, apontando para o fornecedor pálido à sua frente.
— Você pensou mesmo que podia me enrolar com cláusula oculta? Com um valor mascarado? Eu sou Jonathan Schneider, não um idiota qualquer do mercado!
O homem engole seco, tentando argumentar:
— Senhor Schneider, foi um erro de interpretação, podemos...
— Podemos nada! — interrompe Jonathan, firme, irredutível.
— O contrato está cancelado. Efetivo agora. E quero esse lixo todo fora da minha empresa até o fim do dia. Fornecedor nunca foi problema para a Schneider Chemical. E você não vai ser exceção.
Silêncio. Um silêncio que pesa como concreto. Todos na mesa desviam o olhar, temendo ser o próximo alvo da fúria que emana dele. Rui, ao lado, apenas respira fundo. Conhece o amigo o suficiente para saber que aquilo não era apenas sobre negócios. Era algo mais profundo. Mais pessoal.
Após a reunião, Jonathan entra em seu escritório como um furacão. Fecha a porta com força e se j**a na poltrona. Passa a mão pelo rosto, respira fundo e encara o teto. O mundo continua girando ao seu redor, mas por dentro, tudo está parado. Estagnado desde que ela se foi.
— Marta... — sussurra, como quem invoca um fantasma.
Na tela do celular, a imagem de fundo é antiga, os dois sorrindo, abraçados. Um instante roubado no tempo que ele não consegue apagar. Uma parte dele ainda acredita que vai ouvir a voz dela chamando por ele. Outra, mais silenciosa, se pergunta se ela algum dia vai perdoá-lo.
Mas onde está Marta agora? Ela está segura? Estaria acompanhando de longe as movimentações da empresa, ou já teria seguido adiante... com outra vida, talvez outro amor? E o que acontecerá quando esses dois mundos colidirem de novo?
A porta do escritório se entreabre devagar, e Rui entra sem pedir permissão. O advogado veterano, há anos braço direito jurídico da Schneider Chemical, sabe ler Jonathan melhor do que ninguém. Ele viu aquele olhar antes. Em outras guerras. Em outros tempos. Mas hoje… há algo diferente. Algo mais quebrado por trás da muralha de arrogância e poder.
— Fez bem em encerrar. — diz Rui, fechando a porta atrás de si.
— Aquele contrato era uma bomba relógio.
Jonathan não responde de imediato. Está de pé agora, olhando pela janela, os olhos vagos no horizonte de concreto. Só o som da respiração preenchendo o silêncio.
— Eles acham que podem me testar, Rui. Acham que estou fraco. Só porque... — ele engole o resto da frase, como se fosse veneno.
— Você está cansado, Jon. Não fraco. — Rui se aproxima e senta na cadeira em frente à mesa. — E quando a alma está ferida, o corpo grita em outras línguas.
Jonathan vira o rosto lentamente e o encara. Pela primeira vez em semanas, ele permite que a máscara escorregue, ainda que por um segundo.
— Eu a perdi, Rui. E não foi só ela... foi o que eu era com ela. Eu... eu não sei se consigo voltar a ser aquele cara.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino