A manhã começa com um céu anormalmente claro, um azul que parece ter sido pintado à mão, sem nuvens para esconder o sol que já desponta com força. O sítio desperta em sincronia: galos cantam, motores dos tratores roncam à distância. Mas, naquele dia, algo vibra diferente no ar, como se a natureza pressentisse que o destino está prestes a mudar o curso.
Marta desperta devagar, sentindo os pequenos chutes sob a pele esticada da barriga. Ainda deitada, acaricia o ventre com dedos delicados e firmes. Os bebês estão ativos, e isso, por si só, já é uma benção. Mas ela não consegue ignorar a sensação de peso nos pés e uma dor de cabeça insistente que a acompanha há dois dias.
Do lado de fora, o som do portão abrindo anuncia a chegada de Estela, sempre com energia de sobra e um sorriso que ilumina a estrada de terra. Marta se levanta com esforço e vai ao encontro da amiga, observando com ternura o exagerado urso de pelúcia que ela carrega nos braços.
— Isso é para eles — diz Estela, erguendo o presente com orgulho. — Um para cada, oras.
— Eles vão adorar... — Marta responde, rindo, ainda surpresa com o gesto. — E, sinceramente, eu também.
Estela observa Marta com mais atenção, percebendo o brilho diferente em seu olhar, uma maturidade serena que a maternidade começa a esculpir. Entram na casa e Marta mostra o quarto reformado, o ambiente exala cuidado e amor. As paredes em tons de lavanda, os berços iguais, pequenos detalhes bordados com as iniciais escolhidas. Estela sente o coração apertar.
— Você virou uma fortaleza, Marta. Isso aqui... tudo isso... é o reflexo da mulher que você se tornou.
— Nem sempre me sinto forte — confessa Marta, mais para si mesma do que para a amiga.
— Mas eu preciso ser. Por eles.
— E você está sendo. Com uma coragem que poucos teriam.
Conversam por um tempo, até que Estela precisa partir. Marta a acompanha até a porteira e observa o carro desaparecer na poeira da estrada. Uma pontada no estômago a faz apoiar-se no batente da varanda. A dor passa, mas acende um alerta.
Mais tarde, Marta e dona Maria seguem para a cidade. A clínica tem um aroma leve de lavanda e eucalipto, o que ajuda a aliviar a tensão, mas não apaga o receio no olhar de Marta. A médica, uma mulher de fala suave, mas gestos rápidos e decididos, percebe de imediato o rosto pálido, os tornozelos inchados, o suor frio na nuca da paciente.
— Vamos verificar sua pressão agora mesmo — diz, pegando o tensiômetro.
A cada segundo que passa, o cenho da médica se franze mais. Ela mede novamente, muda o braço, utiliza também o oxímetro.
— Sua pressão está muito alta, Marta. Você vai ficar aqui sob observação. Enfermeira, prepare o soro e peça para o laboratório vir colher os exames imediatamente.
Marta tenta protestar, mas é interrompida com um gesto calmo e firme.
— Eu sei que você quer voltar logo para o seu sítio, mas agora o mais importante é a sua saúde e a dos bebês. E eles estão bem — acrescenta, vendo o pânico se formar nos olhos da paciente.
— O coraçãozinho dos dois está forte. Os movimentos estão normais. Mas seu corpo está pedindo socorro. Vamos ouvi-lo?
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