O som da buzina curta rompe a tranquilidade da tarde, cortando o ar parado como um sinal de boas novas. No terreiro seco e bem varrido do sítio, a poeira se ergue levemente quando a caminhonete estaciona sob a sombra esparsa de um ipê frondoso. As flores, já escassas pela estação, caem em silêncio como se preparassem o cenário para algo que vai além do comum.
Darlene salta do carro com uma energia que beira o exagero, os braços abarrotados de sacolas coloridas, como quem retorna de uma expedição vitoriosa. Os olhos dela brilham, carregando um entusiasmo quase infantil. Marta, que estava sentada na cadeira de balanço da varanda, com os pés levemente elevados e as mãos pousadas sobre a barriga já bastante saliente, ergue-se com dificuldade. Ela sorri ao ver a amiga, abre os braços e a envolve num abraço caloroso, como se abraçasse um pedaço do passado que insiste em permanecer.
— Você não resistiu, não é? — provoca Marta, arqueando a sobrancelha.
— Nem por um segundo! — Darlene ri alto, com aquele jeito espontâneo que sempre teve.
— Passei naquela lojinha nova da cidade... e, Marta, você precisava ver! Os macacõezinhos estavam praticamente me chamando pelo nome! E olha isso... — ela puxa, de dentro da sacola, um conjunto azul com orelhinhas de coelho. — Esse aqui, me diz se não é a cara do Jeff? E esse outro... com ovelhinhas bordadas. Lua vai virar uma princesa com isso.
Marta segura uma das peças com mãos trêmulas. Quando vê os nomes bordados — "Lua" e "Jeff" — seu peito aperta. É como se os nomes finalmente tomassem forma, como se os filhos que ainda não nasceram já estivessem marcando presença no mundo de forma silenciosa, mas irreversível.
— Darlene... — sussurra. — Eles são perfeitos. De verdade. Você não faz ideia do que isso significa pra mim.
Dona Maria aparece à porta, enxugando as mãos num pano de prato florido, o olhar atento típico de quem vê mais do que demonstra.
— Tem lanche fresco na mesa, mas só conversa e come, viu, Marta? Nada de se empolgar e inventar de levantar peso.
— Sim, senhora — responde Marta com um sorriso travesso. As duas seguem para a cozinha, onde o cheiro de bolo de milho recém saído do forno mistura-se ao de suco de acerola gelado. A mesa é posta como nas tardes antigas de verão, quando a vida parecia mais simples.
Darlene começa a mostrar no celular as fotos do que tem feito na fazenda: pastagem renovada, instalação de bebedouros automáticos, baias recém-construídas.
— Marta, olha isso aqui... — diz, deslizando o dedo pela tela. — Semana passada finalizamos a parte de confinamento. E já fechei dois contratos com produtores grandes da região. Você lembra do que me falou sobre manejo estratégico? Tá mudando tudo.
— Eu sabia que você ia voar, Darlene — elogia Marta, olhando cada foto com atenção clínica.
— Agora, se você investir na melhoria da genética, principalmente no gado leiteiro, pode dobrar seu lucro em dois anos. Eu tenho um contato com um criador premiado, muito sério. Vou ligar pra ele, a gente pode agendar uma visita.
— Eu topo. Você me conhece... quando entro numa coisa, é para fazer direito.
— E tá fazendo bonito.
O som de passos firmes pelo cascalho interrompe a conversa. Marta olha pela janela e vê Caio vindo pelo alpendre, como sempre: camisa xadrez bem passada, jeans escuro, botas de couro polidas, o chapéu nas mãos. O sorriso dele é fácil, a voz grave, o perfume discreto que mistura sabonete e lavanda. Quando ele sorri, até o sol parece se ajeitar no céu.
— Boa tarde, moças — diz, com aquele tom charmoso que sempre usou sem perceber o efeito. — Vi a caminhonete da Darlene e pensei: deve estar por aqui.
— Acertei? — provoca, aproximando-se.
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