O som do relógio digital pisca no canto da tela, mas Jonathan não o vê. Seus olhos estão fixos em uma planilha aberta no notebook, enquanto as mãos apertam com força a caneta que gira entre os dedos. A manhã começou há horas, mas ele sequer notou. A sala envidraçada da presidência do grupo Schneider parece uma redoma de tensão: silêncio denso, café frio e documentos espalhados como vestígios de um campo de batalha corporativo.
— Você vai quebrar essa caneta se continuar assim.
A voz de Rui, seu advogado e amigo de longa data, corta o ar carregado. Jonathan nem se move, mas a caneta para de girar.
— Eu devia ter deixado aquele imbecil terminar a proposta ridícula, só para rir da cara dele. — murmura Jonathan, a voz baixa, mas cortante.
— Ele achou que eu sou o quê? Algum executivo de boutique?
Rui se senta em frente a ele, largando a pasta de couro sobre a mesa.
— Não. Ele achou que você estava distraído. E, de certa forma, ele não está errado.
Jonathan finalmente ergue o olhar. Os olhos, embora cansados, brilham com um fogo constante.
— Se vai me dar sermão, entra na fila.
— Não é sermão. É preocupação. Está claro que você não está focado. E isso não tem nada a ver com contratos, fornecedores ou fusões. Tem nome, sobrenome e estava na sua vida até alguns meses atrás.
Jonathan fecha os olhos por um instante, como se pudesse apagar a imagem de Marta da mente. Mas ela está lá. Como sempre.
— Eu tentei esquecer. — confessa, baixo. — Tentei apagar tudo. Apaguei as mensagens, escondi as fotos. Mas ela continua aqui. — leva a mão ao peito, batendo com os dedos fechados. — Não sai. E a porrah é que eu não quero que saia.
Rui suspira e se encosta na cadeira.
— Então por que você ainda está aqui, trancado nessa sala, se afundando em trabalho, virando noites? Vai atrás dela, Jonathan. O que você tem a perder?
— Dignidade? Orgulho? A certeza de que ela nunca vai me perdoar?
— Tudo isso é ilusão. Você tem medo. E aí se esconde atrás desse império.
Jonathan se levanta abruptamente. Caminha até a parede de vidro, observa a cidade abaixo. O caos organizado, os carros apressados, as pessoas que vivem sem saber quem ele é. Que sorte.
— Eu sonhei com ela, mais uma vez. — diz, quase em um sussurro. — Ela estava numa fazenda. Um vestido florido, leve. Aquele sorriso... Deus, como eu amo aquele sorriso.
— E o que você vai fazer com isso?
Jonathan vira de volta, os olhos inflamados por emoção contida.
— Nada. Por enquanto. Mas eu sinto que algo vai acontecer. Algo está para mudar. É como o cheiro da chuva antes dela cair.
Rui se levanta também. B**e levemente no ombro do amigo.
— Quando isso acontecer, esteja pronto. Porque você ainda a ama, Jonathan. E amor assim... não desaparece. Apenas espera.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino