O oitavo mês de gestação chega como um vendaval, trazendo com ele um corpo cada vez mais pesado e uma alma cada vez mais inquieta. Marta sente como se o tempo estivesse passando rápido demais e ao mesmo tempo, como se cada hora carregasse consigo uma eternidade esmagadora.
Seu ventre já não permite mais as longas caminhadas pelas áreas externas do sítio, muito menos visitas aos galpões de frango, onde o protocolo sanitário é severo e inegociável. Máscaras, macacões, botas e túneis de desinfecção impedem qualquer improviso, e com a pressão ainda sensível e o barrigão que exige atenção constante, ela precisou recuar.
Mas não parar.
— Você não vai dar conta disso sozinha, Martinha — dizia dona Maria, ainda mais presente desde que a filha recebeu o diagnóstico de gravidez de alto risco.
Marta sabe disso. E por isso, se organiza. O escritório, agora climatizado e mais estruturado, virou seu quartel general. Ali, com planilhas abertas na tela do computador, canecas de chá morno e almofadas para a lombar, ela comanda tudo. Planejamento de novos lotes de frango, análise de custos, controle de vendas, cotação de insumos, agenda de visitas técnicas, atualização da plataforma digital de rastreabilidade... tudo passa por ela que analisa detalhadamente.
Miguel assumiu a frente dos galpões com uma maestria que surpreende. Disciplinado, segue cada protocolo como se sua vida dependesse disso. E talvez dependa mesmo, ali, qualquer deslize pode custar milhares de reais.
Dona Maria cuida da parte humana, garantindo que os colaboradores estejam com os equipamentos corretos, que os intervalos sejam respeitados, que o café da manhã esteja pronto. E seu Heitor, o pai de Marta, tem se dedicado às máquinas, agora que a colheita da soja e do milho terminou e a terra descansa em preparação para a próxima safra.
— Tá ficando mais fácil, filha. Já passamos pela fase mais puxada do ano. Agora é manter o ritmo. — diz ele, toda vez que entra no escritório e deixa um pacote de frutas frescas sobre a mesa.
Marta sorri, grata. A família inteira se uniu como engrenagens de um maquinário eficiente e amoroso, uma bolha perfeita.
Mas, mesmo com o alívio de não precisar forçar o corpo além do que ele aguenta, os desafios da gestação gemelar são inescapáveis. As noites são longas, os pés vivem inchados, a coluna grita e o sono nunca é completo. Marta se adapta como pode. Usa meias de compressão, se alonga com cuidado, dorme com três travesseiros entre pernas, costas e barriga, e tem sempre uma garrafa de água ao alcance.
E ainda assim, o cansaço é como uma sombra que a acompanha.
Ela se recusa a reclamar. Prefere olhar para o progresso da fazenda com olhos de realização. O faturamento dos últimos dois ciclos de frango de corte permitiu quitar o empréstimo inicial. A venda da colheita de soja rendeu acima do esperado. E a estrutura que, antes, era apenas uma ideia na cabeça, hoje pulsa como um organismo vivo.
Durante uma tarde tranquila, ela chama Miguel ao escritório.
— Senta aqui um pouco — diz, apontando a cadeira em frente à sua.
— Fala, comandante — ele brinca, sentando-se com um sorriso cansado.
— Você viu a projeção dos lucros do trimestre? — ela gira o notebook para que ele veja. — Se a gente mantiver esse desempenho no próximo ciclo, conseguimos levantar mais um galpão só com os lucros. Sem precisar de novo empréstimo.
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