Marta respira fundo, olha o relógio de pulso, sabe que já não tem muito tempo, precisa se apressar, segue observando o fluxo da cidade, com passos lentos e determinados até a sua caminhonete que já está bem perto.
Ela cruza a rua com uma das mãos apoiada em sua barriga enorme, sabe que em breve, terá os seus pequenos no colo e isso a faz sorrir. O suor escorre por sua nuca sob o calor abafado da cidade, e a vertigem ameaça dobrar seus joelhos. Ela inspira fundo mais uma vez, luta contra a tontura e continua.
E então, tudo acontece.
Um som cortante de pneus cantando rasga o ar. Um carro, em velocidade descontrolada, surge como um animal enlouquecido, avançando sobre Marta.
O impacto é brutal.
Seu corpo é lançado no ar e depois cai pesadamente sobre o asfalto quente. A dor vem primeiro. A consciência começa a se esvair. Seu último pensamento é um sussurro desesperado:
— Por favor… Lua e Jeff…
— Meu Deus! — grita uma senhora grisalha da calçada. Ela corre até Marta, agachando-se ao seu lado e segurando sua mão fria. — Alguém chame a emergência! Agora!
Um homem que estava próximo já disca o número de emergência com os dedos trêmulos.
— Aguente firme, querida — sussurra a senhora. — Você não pode desistir agora.
Populares se aproximam. A movimentação aumenta. Em minutos, a sirene da ambulância rasga o ar, e os socorristas descem em correria. A situação é crítica.
— O hospital mais próximo está operando parcialmente, por causa da tempestade — alerta um dos paramédicos. — Mas não temos escolha. Ela precisa ser atendida imediatamente.
O som do impacto ainda parece ecoar no ar, mesmo depois que a ambulância desaparece pelas ruas encharcadas. Marta, inconsciente, é levada com urgência para o hospital mais próximo. Seu corpo ferido, o ventre latejante, os filhos ainda vivos em seu útero... tudo pende por um fio.
Na entrada do hospital, uma agitação intensa toma conta do saguão. O nome da vítima corre pelos corredores, sussurrado entre médicos e enfermeiros como um segredo pesado. Marta Maia. Grávida de gêmeos. Acidente na faixa de pedestre.
Cassandra, sentada no banco de espera do setor administrativo, ergue os olhos ao ouvir o nome. Seus dedos, que folheavam desinteressadamente um formulário, congelam no papel. Seu rosto se fecha em uma expressão indecifrável. Ela se levanta devagar, ajeita o cabelo, como se precisasse recuperar o controle.
Ela caminha pelo corredor até o final, tentando não parecer apressada, mas seu salto ecoa como martelo sobre o piso de porcelanato. Em frente ao centro cirúrgico, ela finge ler os cartazes da parede, mas seus olhos estão grudados na pequena janela da porta. Lá dentro, Marta, pálida e imóvel, é preparada para a cirurgia.
Na recepção, Caio chega esbaforido, olhos arregalados, buscando por informações. O telefone da fazenda tocou e, ao saber do acidente, ele correu sem pensar.
— Marta Maia! Cadê ela? — pergunta, quase sem fôlego.
— Centro cirúrgico, final do corredor à direita — responde uma recepcionista, olhando para ele com preocupação.
Ele dispara pelo corredor e passa direto por Cassandra, sem percebê-la. Ou talvez nem se conheçam. Ela, por sua vez, se esconde atrás de uma pilastra, observando tudo de longe.
Do outro lado da cidade, a chuva aumenta, e um silêncio estranho paira sobre tudo.
Entre os profissionais de plantão, o obstetra Dr. Alan Moretti assume a liderança. Seu olhar firme não esconde a tensão.
— Sala de cesárea, agora! Vamos perder mãe e bebês se demorarmos!
A cirurgia começa. O bisturi corta a pele de Marta, os monitores disparam sinais de alerta. A pressão está alta. Muito alta. O risco de eclâmpsia é real e crescente.
— Parada cardíaca! — grita Dr. André, o anestesista.
A sala de parto se transforma em um campo de batalha silencioso. O suor escorre pelas têmporas dos médicos enquanto Marta, imóvel e sem forças, parece deslizar para longe. O monitor cardíaco emite um som contínuo e aterrador.
— Adrenalina, agora! — ordena o médico.
As mãos firmes pressionam o peito de Marta em tentativas desesperadas de trazê-la de volta. Uma. Duas. Três compressões.
— Vamos, Marta! — um dos médicos rosna entre os dentes, sem desistir.
— Não nos faça perder você agora!
Segundos que parecem horas se arrastam até que, por fim, um bipe solitário rompe o silêncio.
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