O telefone toca pouco antes das 15 horas. Dona Maria atende com as mãos ainda úmidas da louça do almoço, e seu coração gela ao ouvir a voz do outro lado da linha.
— Dona Maria? Aqui é Luciana, assistente social do Hospital São Rafael. Eu preciso que a senhora e o senhor Heitor venham até o hospital o quanto antes. É sobre a Marta.
O mundo parece girar ao redor da mulher. Ela não consegue reagir de imediato.
— A Marta? Mas... o que houve com a minha filha?
— Por favor, senhora, é importante que venham pessoalmente. Marta está sob cuidados médicos. Eu explico melhor aqui, com os médicos.
Sem conseguir formular mais perguntas, ela simplesmente balança a cabeça, apesar de estar no telefone.
— Nós vamos, estamos indo agora.
Heitor já está colocando as botas quando ela desliga. Não há tempo para hesitações. Miguel oferece-se para ir junto, mas o pai recusa com firmeza.
— Fique no sítio, meu filho. Temos os galpões, os pintinhos novos chegaram ontem. Sua irmã precisa saber que tudo aqui continua no eixo, do jeito que ela organizou.
Heitor e Maria partem na Hilux prata. A estrada está úmida e coberta de folhas secas, um resquício da tempestade do dia anterior. No caminho, o silêncio entre eles é absoluto, o peso da incerteza tornando até o som do motor um ruído distante.
Mas ao se aproximarem do hospital, o caos os recebe de braços abertos.
Viaturas políciais, carros de imprensa, câmeras, repórteres com microfones e fotógrafos disputam espaço na calçada. Um aglomerado de curiosos se espremem atrás de grades de contenção improvisadas. A movimentação é tanta que quase não há onde estacionar.
— Que diabos está acontecendo aqui? — Heitor murmura, o olhar duro varrendo o cenário, já sentindo o aperto no peito.
Foi então que um conhecido da família, o senhor Rubens, funcionário antigo da cooperativa, aproxima-se rapidamente e faz sinal.
— Seu Heitor! Dona Maria! Venham, por aqui! Eu consigo liberar a entrada pela lateral.
— Mas o que está acontecendo? Por que essa confusão toda? — questiona Maria, agarrando-se à alça da porta, os olhos arregalados.
— Só entrem, por favor — Rubens diz, desviando o olhar. — A assistente social pediu para ninguém comentar nada com vocês até estarem com ela.
Dois seguranças do hospital os cercam discretamente e os conduzem por uma entrada de serviço, longe dos flashes e da gritaria que cresce cada vez mais diante do prédio. No interior do hospital, o corredor parece frio, distante da confusão lá fora, mas a tensão apenas aumenta.
Logo estão sentados numa pequena sala de paredes beges e janelas fechadas. A assistente social Luciana os recebe com uma expressão grave. Ao lado dela, dois médicos — um deles, o diretor clínico do hospital, Dr. Tadeu.
Dona Maria aperta a mão do marido, os olhos marejados.
— Isso é um absurdo! — Heitor explode, erguendo-se de repente.
— Vocês têm ideia do que estão nos dizendo?
Luciana se aproxima, tentando manter o tom calmo.
— A polícia já foi acionada, estamos colaborando com as investigações. Sabemos que é devastador ouvir isso, mas garantimos que estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance.
Dona Maria cai sentada novamente, tremendo. Lágrimas silenciosas escorrem pelas suas bochechas.
— Minha filha está desacordada… ela nem sabe… — balbucia.
— Meu Deus… o que vai ser quando ela souber?
O silêncio que paira sobre a sala é cortante. A dor dos pais de Marta agora é dupla: a filha entre a vida e a morte, e um dos netos desaparecido nas sombras de um sistema falho.
E lá fora, do outro lado da porta, o burburinho da imprensa cresce, impiedoso, voraz. A história já escapou pelas frestas, mas o pesadelo, para os Maia, está apenas começando.

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