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O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 170

O celular de Miguel vibra sobre o balcão da varanda, interrompendo o ruído das maritacas que brincam entre os galhos do pé de goiaba. Ele enxuga as mãos na calça jeans e atende.

— Alô?

A voz do pai do outro lado vem embargada, trêmula.

— Miguel... é a Marta. O bebê... um dos gêmeos... sumiu.

Silêncio.

O chão parece desaparecer sob os pés de Miguel. Ele segura o telefone com força, os nós dos dedos esbranquiçados, o coração martelando no peito.

— Como assim, pai? Sumiu? — a pergunta sai num sussurro, incrédulo.

— Ela foi atropelada, filho. Está na UTI. Os bebês nasceram. A menina tá viva... mas... o menino...

Miguel não responde. A ligação termina, e ele simplesmente solta o celular, que cai no chão de terra batida do galpão. As pernas fraquejam.

Ele cai de joelhos no meio dos sacos de ração, com os olhos marejados e o peito arfando.

— Marta... não, não você... — murmura, a voz falhando.

As mãos grandes apertam a serragem fria. O galpão, antes silencioso, parece ecoar sua dor. As lágrimas escorrem sem controle pelo rosto suado e sujo de poeira.

— Você fez tudo certo... cuidou de tudo, de todo mundo... e agora... isso?

Ele se curva sobre os próprios joelhos, o choro engasgado saindo aos poucos, sem gritos, só o som pesado da dor contida. Fica ali por minutos que parecem uma eternidade, até que sua respiração se acalma, até que o pranto vira uma promessa.

— Eu vou cuidar de tudo, Martinha. Custe o que custar. O sítio, os bichos, a nossa mãe... seus filhos... esse moleque que levaram... — sua voz firme agora, ainda trêmula.

— Eu vou trazer ele de volta. Nem que eu tenha que virar o mundo, ou ir pessoalmente ao inferno.

Com os olhos vermelhos, ele se levanta. Enxuga o rosto com a manga da camisa, respira fundo e pega a chave do carro, dirige impaciente, pulando todos os quebra molas.

No hospital, a movimentação continua intensa. Repórteres gritam perguntas do lado de fora, mas Miguel entra pela lateral, guiado por Rubens, o mesmo conhecido que ajudou os seus pais. Ao ver Dona Maria sentada, as mãos entrelaçadas no colo, ele a abraça sem dizer uma palavra. O olhar cansado do pai também encontra o seu.

Ao chegar no pátio lateral do hospital, a RAM está ali, suja de barro seco e folhas grudadas na lataria. Miguel entra, liga o motor e dirige com firmeza de volta para casa.

O trajeto parece mais longo do que o habitual, como se o mundo tivesse perdido parte do sentido desde a notícia. Quando chega ao sítio, estaciona perto do galpão. Abre a carroceria e, como imaginava, está cheia de sacos de ração, caixas de medicamentos veterinários, suplementos, ferramentas novas.

Ele descarrega tudo sozinho, em silêncio. O som do cascalho sob as botas e os baques surdos das caixas ecoam pelo pátio. Cada item que ele descarrega é como se fosse um recado deixado por Marta: ela se preparava para continuar. Para construir. Para proteger.

Ao terminar, encosta-se na carroceria e encara o céu azul-acinzentado.

— Eu vou cuidar de tudo, Martinha... — repete, como uma oração. — Eles podem ter levado um pedaço nosso. Mas eu juro por Deus que a gente vai encontrar.

Miguel volta a organizar tudo no galpão. Puxa a planilha que Marta deixou anotada num caderno na estante e começa a revisar as datas, checar o estoque, manter tudo rodando.

Porque agora, mais do que nunca, ele sabe que precisa ser os olhos, as mãos e o coração de sua irmã até que ela volte.

E que nenhum mal fique impune.

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