O celular de Miguel vibra sobre o balcão da varanda, interrompendo o ruído das maritacas que brincam entre os galhos do pé de goiaba. Ele enxuga as mãos na calça jeans e atende.
— Alô?
A voz do pai do outro lado vem embargada, trêmula.
— Miguel... é a Marta. O bebê... um dos gêmeos... sumiu.
Silêncio.
O chão parece desaparecer sob os pés de Miguel. Ele segura o telefone com força, os nós dos dedos esbranquiçados, o coração martelando no peito.
— Como assim, pai? Sumiu? — a pergunta sai num sussurro, incrédulo.
— Ela foi atropelada, filho. Está na UTI. Os bebês nasceram. A menina tá viva... mas... o menino...
Miguel não responde. A ligação termina, e ele simplesmente solta o celular, que cai no chão de terra batida do galpão. As pernas fraquejam.
Ele cai de joelhos no meio dos sacos de ração, com os olhos marejados e o peito arfando.
— Marta... não, não você... — murmura, a voz falhando.
As mãos grandes apertam a serragem fria. O galpão, antes silencioso, parece ecoar sua dor. As lágrimas escorrem sem controle pelo rosto suado e sujo de poeira.
— Você fez tudo certo... cuidou de tudo, de todo mundo... e agora... isso?
Ele se curva sobre os próprios joelhos, o choro engasgado saindo aos poucos, sem gritos, só o som pesado da dor contida. Fica ali por minutos que parecem uma eternidade, até que sua respiração se acalma, até que o pranto vira uma promessa.
— Eu vou cuidar de tudo, Martinha. Custe o que custar. O sítio, os bichos, a nossa mãe... seus filhos... esse moleque que levaram... — sua voz firme agora, ainda trêmula.
— Eu vou trazer ele de volta. Nem que eu tenha que virar o mundo, ou ir pessoalmente ao inferno.
Com os olhos vermelhos, ele se levanta. Enxuga o rosto com a manga da camisa, respira fundo e pega a chave do carro, dirige impaciente, pulando todos os quebra molas.
No hospital, a movimentação continua intensa. Repórteres gritam perguntas do lado de fora, mas Miguel entra pela lateral, guiado por Rubens, o mesmo conhecido que ajudou os seus pais. Ao ver Dona Maria sentada, as mãos entrelaçadas no colo, ele a abraça sem dizer uma palavra. O olhar cansado do pai também encontra o seu.
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