A porta da UTI se fecha atrás de Jonathan com um estalo surdo, abafado pelo zumbido contínuo dos monitores e pelo cheiro ácido do álcool hospitalar que ainda impregna as narinas dele. Por um segundo, ele para, sem saber se avança ou recua, como quem acaba de atravessar um portal invisível e se vê atordoado entre dois mundos, o mundo antigo, onde só existia dor, culpa e fantasmas, e esse novo, que pulsa em seu peito com a força crua e avassaladora da vida que acaba de conhecer.
O corredor parece mais longo do que jamais foi, as luzes frias no teto lançam sombras duras sobre o chão encerado, transformando cada passo num eco que ressoa fundo, pesado, dentro dele. Jonathan não sente os pés tocarem o chão. Não sente as mãos, nem o corpo, só o coração, esse músculo indomado, batendo fora de compasso, como se lutasse para caber no peito.
De repente, um vulto atravessa o corredor e corre até ele.
— Jonathan! — a voz de Islanne rasga o silêncio, carregada de urgência e emoção.
Ele mal tem tempo de abrir os braços antes que ela se jogue neles, num abraço apertado, desesperado, o tipo de abraço que não apenas acolhe, mas segura, ancora, impede que a pessoa afunde.
Jonathan a segura com força, com a força de quem agarrou a única tábua de salvação no meio de um naufrágio brutal. Ele afunda o rosto no ombro dela, a barba úmida pelas lágrimas que não teve vergonha de chorar na frente da irmã. O corpo dele ainda treme, ainda pulsa em sobressaltos, como um animal ferido, mas vivo… tão vivo.
Islanne sente o peito dela apertar, como se as costelas não fossem suficientes para conter tanta emoção.
— Ela é… — ele tenta falar, mas a voz falha, racha ao meio, como vidro estilhaçado pela força do que não cabe em palavras. — Ela é tão pequena… tão minha…
As palavras atravessam Islanne como lâminas doces, cortantes. O choro dele, que escapa descontrolado, é uma declaração, uma confissão, um grito silencioso ao universo: ali, naquele berço de vidro, dorme tudo o que ele é e tudo o que será.
Ravi, Dante e Eduardo se aproximam devagar, respeitando aquele espaço invisível que só os corações em colapso podem ocupar. Não dizem nada, não há o que dizer. Cada um traz nos olhos marejados o peso e a beleza daquele instante irrepetível.
Ravi, que conhece Jonathan como poucos, que já o viu enfrentar o inferno de peito aberto, nunca o viu assim: despido de toda armadura, sem máscara, sem muralhas. Apenas homem, apenas pai, apenas coração.
Ele toca o ombro do amigo com um gesto silencioso, mas que carrega o peso de anos de amizade, de batalhas travadas lado a lado.
— Ela é linda, não é? — sussurra Ravi, com uma reverência que nunca teve com ninguém.
Jonathan apenas assente, sem conseguir conter as lágrimas que agora correm livres, desobedientes, como rios que romperam todas as barragens.
Eduardo passa a manga da camisa pelos olhos, fingindo que não chora, mas falha miseravelmente, e Dante sorri, um sorriso pequeno, contido, mas puro, sincero, como só se sorri diante de um milagre.
Jonathan respira fundo e, com mãos trêmulas, puxa o celular do bolso. A tela acende, revelando a imagem que, para ele, já é a fotografia mais importante de toda a sua existência: ele, desajeitado, grande demais para aquele mundo de delicadezas, abraçando aquela criaturinha frágil, tão perfeita que parece feita de porcelana viva.
Todos se inclinam para ver. E, naquele instante, o silêncio se torna absoluto, denso, quase sagrado. Não é só uma foto. Não é só uma lembrança. É um retrato de redenção. É a prova irrefutável de que, apesar de todos os erros, ele está aqui. Vivo. E pai.
Islanne sorri com lágrimas brincando no canto dos olhos, e segura o braço dele com carinho.
— Ela já é o centro do seu universo, não é? — diz baixinho, como quem fala a uma alma quebrada, mas prestes a se reconstruir.
Jonathan solta uma risada rouca, partida, uma risada que mistura alívio, exaustão e uma felicidade tão feroz que chega a doer.
— Ela é tudo… — responde, a voz falhando, quebrada. — Ela é a minha luz.
Ele passa a mão pelos cabelos, como se tentasse se recompor, mas o corpo inteiro ainda vibra. Vibra com a força daquela vida nova, com a promessa que agora carrega, tatuada na alma.
— Quando eu a peguei no colo… — confessa, fechando os olhos, a voz entrecortada — foi como se o mundo parasse de girar. Como se só existíssemos nós dois. Só eu… e ela.
Ninguém ousa quebrar o encanto desse instante.
Islanne aperta a mão dele mais uma vez, num gesto silencioso de ternura e força.
— Você vai ser um pai maravilhoso, Jonathan… — ela sussurra, com a certeza de quem viu a transformação acontecer ali, diante dos próprios olhos.
Ele ri de novo, entre soluços e lágrimas, uma risada que soa como um pedido de desculpas e uma promessa ao mesmo tempo.
— Eu não sei se vou ser perfeito… — admite, com honestidade brutal — mas por ela… eu movo o céu, a terra… o que for preciso.
Então, do fundo do corredor, uma voz suave interrompe:
— Senhor Jonathan? — a enfermeira chama, com gentileza. — A visita vai encerrar. Se quiser… pode voltar para dar um último tchau à Lua.
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