Jonathan atravessa a porta da UTI neonatal como quem retorna do campo de batalha: exausto, transformado, com o coração ainda pulsando fora do peito, exposto, vulnerável. Seus olhos, úmidos e avermelhados, parecem ter envelhecido anos nos poucos minutos em que segurou a filha pela primeira vez. Ele respira fundo, como se quisesse aprisionar dentro de si o aroma puro e frágil da pequena Lua, a lembrança viva daquele milagre improvável, tão delicado quanto um fio de seda, mas tão forte quanto uma âncora cravada em seu peito.
Cada passo que ele dá para fora daquele ambiente estéril e silencioso carrega um peso diferente, como se o chão sob seus pés oscilasse entre a dor e a esperança. O corredor frio, com paredes pálidas, torna-se, agora, uma travessia simbólica: da fragilidade para a responsabilidade, do medo para a promessa.
Do lado de fora, antes mesmo que ele possa recompor os pensamentos que explodem dentro de si, Islanne surge, como sempre, o primeiro rosto a acolhê-lo, o primeiro abraço a sustentá-lo. Ela corre ao encontro dele, e, ao vê-lo, estaca: aquele homem forte, tantas vezes invencível, agora desaba, com lágrimas que não disfarça e um olhar que parece implorar por chão firme.
Sem dizer uma palavra, Jonathan abre os braços, e Islanne se lança neles com toda a força, como quem impede alguém de cair de um penhasco.
Ele a aperta contra si com a mesma intensidade com que, minutos antes, envolveu sua filha, como se a pele da irmã fosse a extensão da própria vida que ainda lhe resta, como se aquele abraço fosse a última defesa contra o colapso iminente.
— Ela é tão pequena, Islanne… — Jonathan murmura, a voz enroscada em nós de emoção, como quem teme que qualquer som mais alto possa quebrar a imagem frágil que ainda segura na memória.
— Tão pequena… e já é tudo pra mim.
Islanne fecha os olhos e aperta ainda mais o abraço, como quem tenta conter não apenas o irmão, mas também todo o caos que se instalou ao redor deles. Ela o conhece mais do que ninguém e sabe: Jonathan não é mais o mesmo homem que cruzou aquela porta minutos atrás. Algo nele se partiu... ou, quem sabe, se ampliou de forma irreversível.
Ao redor deles, os pais de Marta, o irmão dela, todos assistem à cena com lágrimas silenciosas, compartilhando uma dor que agora é coletiva, uma esperança que, mesmo frágil, pulsa, viva.
Ravi, Dante e Eduardo se aproximam em silêncio, como quem entende que há momentos em que as palavras não alcançam, em que o mais puro amor só pode ser expresso na presença, no toque, no olhar cúmplice.
Ravi observa o amigo, aquele homem que, tantas vezes, o protegeu e orientou, agora desarmado, nu, despido das defesas que sempre ostentou.
— Ela é linda, Jon… — sussurra Ravi, a voz embargada, quase como uma prece.
Jonathan apenas assente, as lágrimas ainda escorrendo, livres, sem vergonha, sem contenção. Ele leva a mão trêmula ao bolso, tira o celular e, com dedos que ainda parecem carregar o calor do pequeno corpo da filha, exibe a foto que a enfermeira tirou, ele todo desalinhado, gigante e frágil ao mesmo tempo, com a pequena Lua aninhada em seus braços, como se o mundo inteiro tivesse, de repente, diminuído até caber naquele retrato.
Todos se inclinam para ver mais uma vez.
E o tempo, então, simplesmente… para.
O pai de Marta enxuga discretamente os olhos, enquanto a mãe dela aperta a mão do marido, buscando força onde mal há resquício.
— Ela é a nossa luz, Jon — sussurra Islanne, acariciando o rosto molhado do irmão com ternura infinita.
— A luz que Deus mandou… pra nos lembrar que ainda existe vida… mesmo na dor.
Jonathan solta uma risada rouca, entrecortada pelo choro que ainda não cessou, mas que agora carrega algo novo: gratidão.
— Ela é… tudo que eu sou agora — responde com a voz firme, mas ainda quebradiça.
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