O corredor da UTI é um templo de angústias, onde cada passo ecoa como uma sentença. O cheiro de antisséptico arde nas narinas, e a tensão no ar é tão densa que parece palpável. Ninguém ousa falar alto, ninguém sorri. Naquele espaço asséptico e frio, a vida e a morte duelam em silêncio. E hoje, naquele lugar, uma exceção será feita, uma porta será aberta, mas o que encontrarão do outro lado poderá mudar tudo.
O diretor do hospital se aproxima da família de Marta com uma expressão grave, as mãos cruzadas atrás das costas.
— Antes de qualquer coisa, peço que me acompanhem — diz ele, a voz pausada.
— Todos deverão seguir os protocolos de segurança rigorosamente. Sem exceções.
Os olhos assustados de dona Maria e seu Heitor se cruzam. Jonathan, Islanne, Ravi, Eduardo e Dante se agrupam ao redor, atentos. O diretor os conduz até uma pequena sala de orientação. Ali, uma enfermeira explica com precisão o que precisam fazer: higienizar as mãos, vestir os aventais descartáveis, máscaras, toucas.
— Hoje abriremos uma exceção — diz a enfermeira, olhando cada um nos olhos.
— Cada um de vocês poderá ver a paciente Marta Maia. Mas apenas por dez minutos. É o tempo máximo permitido.
O clima pesa ainda mais. Com as mãos trêmulas, dona Maria veste o avental. Heitor segura sua mão, tentando transmitir forças que ele mesmo mal encontra dentro de si. Atravessam o corredor lentamente, guiados pela enfermeira.
Diante da porta da UTI, os passos de dona Maria vacilam. Seu peito sobe e desce com dificuldade.
— Pode entrar junto comigo — pede em voz baixa, olhando para Heitor.
— Não sei se consigo sozinha.
O médico que acompanha a visita permite com um aceno. De mãos dadas, os dois entram no quarto onde Marta luta silenciosamente pela vida.
A imagem da filha os dilacera de imediato. Marta respira através de tubos, o corpo coberto por fios, monitores emitindo bipes contínuos e frios. A enfermeira, com um olhar compassivo, se aproxima.
— Podem tocar nela — sussurra.
Dona Maria se aproxima primeiro, passando a mão com extrema delicadeza pelos cabelos da filha.
— Filha... mamãe está aqui... — sua voz quebra no ar.
— Por favor, volta para nós...
Heitor, com os olhos marejados, segura a mão inerte da filha.
— Você é forte, Martinha. Sempre foi. Estamos esperando você acordar. Preciso ver seu sorriso de novo, ouvir sua risada...
Lágrimas silenciosas escorrem pelos rostos marcados do casal. A dor de ver uma filha tão cheia de vida agora tão frágil é algo que não há palavras que consolem.
Quando o tempo se esgota, são chamados a sair. Miguel é o próximo.
Ele entra com passos firmes, mas ao ver a irmã naquele estado, todo o controle escapa de seu corpo. Se aproxima da cama e, com todo cuidado do mundo, envolve Marta num abraço que fala mais do que qualquer palavra.
— Minha irmãzinha... — sua voz sai falha.
— Eu te amo tanto, tanto... você não pode me deixar, ouviu? Você é forte, Marta. Sempre foi a nossa rocha...
O choro de Miguel é um misto de revolta e amor, algo tão puro que até os enfermeiros desviam o olhar, respeitando aquela dor. Quando a enfermeira toca seu ombro e sussurra que o tempo acabou, Miguel hesita. Com um último beijo na testa da irmã, ele sai e, ao atravessar a porta, se lança nos braços da mãe, como um menino perdido.
A dor ali é quase física. Todos sentem. Jonathan segura Islanne com força, tentando encontrar forças onde já não restam muitas.
Ali, naquele corredor de esperança e sofrimento, todos percebem: nada jamais será como antes.
O corredor parece mais frio quando Islanne é chamada. Ela veste o avental, ajusta a máscara e, com o coração apertado, cruza a porta da UTI. Cada passo em direção à cama de Marta é um desafio para sua força interior, que poucos têm a chance de conhecer.
Diante da amiga desacordada, Islanne se aproxima devagar, como se temesse quebrá-la ainda mais.
— Martinha... — sua voz embarga de imediato. Ela acaricia com ternura o braço da cunhada.
— Por favor, volta para gente. Você é tão importante... Acaricia com cuidado o rosto de Marta, sentindo as lágrimas turvarem sua visão.
— Não pode ser assim. Não sem lutar... Você prometeu que a gente ia rir muito juntas ainda, lembra?
Islanne fecha os olhos, encostando a testa suavemente na mão de Marta.
— Eu preciso de você aqui, nós todos precisamos... E tem dois pequenos que não podem crescer sem sentir o quanto você é maravilhosa...
Num raro momento, Islanne se permite ser apenas uma mulher ferida, despida de toda a fortaleza que sempre exibe. Quando a enfermeira indica que o tempo terminou, ela beija a mão de Marta com carinho e sai, o coração em pedaços.
Logo depois, Eduardo é chamado.
Ele entra com passos pesados, o ar de segurança de sempre completamente ausente. Ao ver Marta naquele estado, algo dentro dele se quebra. Ele se aproxima, passa a mão nos cabelos dela com imensa delicadeza, como se a amiga fosse feita de vidro.
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