A anti sala da UTI neonatal tem cheiro de álcool, silêncio e promessas. É um santuário de aço e esperança, onde cada som é contido, cada respiração medida. Mas para Jonathan, que cruza o limiar com os pés pesados e o coração em disparada, aquele lugar se transforma em altar. As mãos dele tremem levemente, não de medo, ele enfrentou guerras, perdas, mortes, mas de algo muito mais vulnerável, o amor.
Veste o avental com lentidão, quase como se estivesse se preparando para um ritual. A touca, a máscara... tudo parece querer esconder o homem que, por dentro, já não é mais o mesmo. E então, a voz suave da enfermeira ecoa, cortando o silêncio.
— Senhor Schneider... ela está pronta para o contato pele a pele, se quiser.
"Se quiser?" Jonathan quase sorri. Como se ele pudesse não querer.
Seguindo a mulher até o berçário, os olhos dele varrem o espaço com ansiedade disfarçada. E então, ele a vê. Lá, sob a luz tênue da incubadora, uma vida tão pequena que parece caber num sussurro. Lua.
O tempo para. O ar pesa. Os joelhos dele quase cedem.
Ela está ali. Envolta em fios, sensores. Tão frágil que parece feita de vidro. E ao mesmo tempo... tão forte que desafia o mundo só por respirar.
Jonathan se aproxima com reverência. O peito dele sobe e desce em ritmo desalinhado, como se quisesse acompanhar o compasso minúsculo do tórax da filha. As lágrimas chegam sem aviso, escorrem sem vergonha.
— Oi, minha princesa... — sussurra, a voz rouca, quebrada. — Oi, meu amor... papai chegou.
A enfermeira abre a pequena portinhola da incubadora, desconecta os fios, pega a pequena e faz um gesto suave com a cabeça. Jonathan estende a mão trêmula. Encosta a ponta dos dedos na pele macia da filha. Lua está quente. Quente e viva. E naquele instante, algo se rompe dentro dele — uma couraça que ele nem sabia que carregava.
— Você é perfeita — murmura, com os olhos grudados naquela criaturinha que carrega tanto dele... e tanto da mãe. — Perfeita demais pra esse mundo doido. Mas eu vou fazer dele um lugar seguro para você, juro que vou.
Com cuidado cirúrgico, quase em câmera lenta, ele a recolhe nos braços. O corpo de Lua parece se encaixar perfeitamente em seu peito, como se aquele fosse o lugar certo desde sempre. Jonathan curva o corpo levemente, envolvido numa bolha de silêncio. O som das máquinas se desfaz. Só existe ele... e ela.
— Eu sonhei com esse momento tantas vezes, sabia? — diz baixinho. — Você aí, nos meus braços... e eu achando que nunca mais ia conseguir sentir isso. Sentir amor de novo. Esperança.
Ele fecha os olhos por um momento. Respira o cheiro sutil de leite e pele nova que emana de Lua.
— Sua mãe vai se apaixonar por você. — Um sorriso rompe entre as lágrimas.
— Vai te mimar demais... eu já tô vendo. E eu... eu vou ser o cara chato. O que vai te levar na escola, espionar as festinhas, implicar com os namoradinhos...
A enfermeira, respeitosa, permanece à distância. Mas o médico se aproxima com discrição, checando os monitores.
— Senhor Schneider, se precisar de alguma coisa, estaremos por aqui.
Jonathan ergue os olhos e fala com firmeza, ainda que num tom baixo.
— Eu quero que saibam... vocês têm permissão para me ligar a qualquer hora. Não importa o horário, nem o dia. Se minha filha espirrar diferente, vocês me ligam. — Ele respira fundo.
— Não quero que falte nada para ela. Nem equipamento, nem medicação, nem carinho. Se precisarem de algo que esse hospital não tem, eu trago, se precisarem de UTI aérea, ou do meu jato, qualquer coisa e se não tiver no país, eu importo. Monto aqui. Mas minha filha não vai passar necessidade.
O médico acena com respeito. Já lidaram com pais preocupados. Mas o que veem em Jonathan é outra coisa. Fúria protetora e devoção absoluta.
A enfermeira se aproxima gentilmente.
— Precisamos devolvê-la à incubadora, senhor. Ela já está cansada. Mas o contato foi ótimo. Seu calor ajuda na recuperação.
Jonathan hesita. Olha para Lua como se estivesse deixando uma parte do próprio coração ali. Beija a testa minúscula da filha com a devoção de um pai.
— Eu volto amanhã, meu amor. E depois de amanhã. E todos os dias da sua vida. — Ele fecha os olhos e sussurra contra a pele dela.
— Papai te ama. Mais do que tudo.
Ele a acomoda com todo o cuidado do mundo, como se ela fosse feita de estrelas. Dá um último olhar, demorado, carregado de emoção, e se afasta devagar, como quem sai de um templo sagrado.
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