A caminhonete sacoleja pela estrada de terra enquanto o pôr do sol cobre o céu de tons alaranjados. O ar do campo invade o veículo, mas ninguém fala sobre o perfume da terra molhada. O silêncio é pesado, como se todos tivessem algo entalado na garganta.
Ao chegarem ao Sítio dos Maia, Miguel está à espera no portão, o semblante ansioso.
— E aí? — pergunta ele, indo direto a Jonathan.
— Como estão a Marta e a Lua?
Jonathan sorri, um alívio visível no rosto.
— Estão evoluindo bem. Lua tá ganhando peso, respirando sozinha... e Marta foi extubada. Ainda não acordou, mas os médicos estão otimistas.
Miguel solta um longo suspiro e apoia as mãos nos joelhos, como se seu corpo cedesse ao alívio.
— Graças a Deus... — ele diz, emocionado. — Já era hora de uma boa notícia.
Mas a paz dura pouco. O olhar de Miguel escurece.
— E o Jeff? Já pensaram como vão contar para Marta?
Jonathan engole seco. O peso da pergunta o atinge como um soco no estômago.
Ele passa a mão pelos cabelos, inquieto.
— Não sei... — confessa, a voz quase um sussurro.
— Como você diz pra uma mãe que um dos filhos sumiu depois do parto? Que ninguém viu, ninguém sabe, ninguém fala?
Ele respira fundo. — Talvez... nem seja hora de contar. Ainda não.
Miguel assente com a cabeça, mas seus olhos dizem que ele está tão perdido quanto Jonathan.
Mais tarde, no escritório de Marta, Ravi e Miguel conversam em voz baixa.
— Se quiser montar sua base aqui, pode usar à vontade — diz Miguel, mostrando o espaço.
— Esse era o canto da Marta, mas agora é seu.
Ele passa os dedos por cima da mesa com respeito. — E Ravi... tem algo que eu preciso te contar.
Ravi ergue os olhos do notebook, atento.
— Um mês atrás, um bebê desapareceu na região. Na cidade vizinha, mesma situação estranha... e até hoje, nada. Nenhuma pista. A polícia diz que investiga, mas... — ele balança a cabeça.
— Parece que caiu no esquecimento.
Ravi fica em silêncio por alguns segundos. Seus olhos mudam, se tornam mais atentos, frios, calculistas.
— Isso muda tudo — diz ele, puxando sua mochila.
— Preciso blindar essa casa. Agora.
— Vai derrubar a internet? — Miguel pergunta.
— Sim. Mas é por segurança. Vou reconfigurar tudo. Redirecionar IPs, criar camadas de segurança que até a Anatel vai achar que aqui é um bunker.
Ele olha direto nos olhos de Miguel.
— Porque vou entrar na dark web. Se Jeff foi vendido, alguém lá vai saber. E eu vou encontrar.
O aviso chega a todos os moradores do sítio: “A internet vai cair por algumas horas.”
Enquanto isso, Ravi se tranca no escritório. A tela pisca em códigos, comandos, firewalls sendo rompidos e reconstruídos. A rede da casa é criptografada com um sistema que só ele entende. Ele cria barreiras invisíveis e muda as rotas digitais, impedindo rastreamentos.
E então, começa a mergulhar nas profundezas escuras da rede. Acessa fóruns codificados, conversa com usuários de identidades obscuras, entra em grupos suspeitos, decifra postagens em russo, romeno e inglês. Busca padrões. Palavras-chave.
“Newborn available.” “Silence buyers.” “Code X21 – Northeast Brazil.”
Miguel aparece na porta, inquieto.
— Alguma coisa?
Ravi não tira os olhos da tela.
— Ainda não. Mas tem movimento estranho. Negociações ocultas. Falsas ONGs. É cedo, mas estou sentindo o cheiro podre no ar.
Miguel fecha a porta com cuidado.
Naquela noite, no silêncio frio do campo, enquanto todos dormem, Ravi continua caçando no escuro.
Mas entre as linhas de código e os acessos anônimos, algo chama sua atenção.
Um código.
Uma imagem.
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