O silêncio no escritório de Marta é espesso como fumaça densa. É madrugada, mas não há descanso para os que vivem à beira do abismo. As luzes estão apagadas, exceto pelo brilho pálido das telas que cercam Ravi. Ele está ali, isolado, mergulhado em um universo onde a moral não existe e a humanidade é moeda de troca.
As teclas estalam com velocidade, quebrando o silêncio como tiros em um campo de guerra. Ravi é um soldado solitário diante daquilo que há de mais perverso na rede subterrânea da internet. Seus olhos estão fixos, pupilas dilatadas, o maxilar travado. A cada segundo, ele se aprofunda mais na escuridão.
Por horas, ele transita entre códigos ocultos, protocolos secretos, servidores espelhados em lugares sem nome. Rastreia IPs que se apagam como fantasmas, invade fóruns criptografados onde apenas os monstros se reúnam para negociar o impensável.
Então, um nome surge. Uma palavra. Um símbolo entre milhares de linhas de texto: "Jeff-07". Ravi congela. Seus dedos param por um segundo, o coração tamborilando no peito como um alarme.
Ele repete o termo, refaz os caminhos, lança códigos de rastreio, invade firewalls. Por fim, encontra. Um fragmento. Uma conversa codificada em uma sala oculta, protegida por três camadas de segurança digital. Ele força a entrada com uma assinatura espelhada. A tela pisca. E então surge a frase:
"Jeff-07, produto em análise. Transação em andamento. Origem: Sul do Brasil. Sexo: indeterminado. Recém-nascido."
Ravi sente o estômago revirar. A alma treme.
— Meu Deus... — sussurra, com a voz falhando. Suor escorre pelas têmporas. As mãos estão molhadas. Ele se obriga a continuar.
Cria um perfil falso. Assume a identidade de um comprador. Alguém faminto por "mercadoria". A resposta é imediata:
"Disponível. Interessa?"
Ele confirma.
"Pagamento inicial em cripto para fotos. Valor simbólico."
Ele transfere o o valor acordado. Sem hesitar.
O arquivo chega. Ele hesita por um instante antes de abrir. O que vê é grotesco. Uma menina. Frágil. Nua. A pulseira de nascimento ainda presa ao pulso minúsculo. Uma voz digital, anônima, envia uma legenda:
"Produto feminino. 4 dias de vida. Imagens sem censura como garantia. Região Sul. Interesse?"
Ravi responde com frieza estudada:
— Negativo. Preciso de um menino.
A resposta vem, seca:
"Aguardando novo lote. Jeff-07 foi suspenso. Pode haver reposição."
Suspenso.
A palavra ecoa como um trovão na mente dele. Suspenso. Não vendido. Não morto. Mas também não disponível. Ele se obriga a continuar. Grava a tela. Salva capturas. Criptografa arquivos. Monta cópias em diversos servidores seguros.
E então, envia uma mensagem com seu código pessoal. Um símbolo que apenas Dante e Eduardo reconheceriam. O alerta: pista quente. Muito quente.
Desliga o sistema, hiberna o terminal, levanta-se. Suas pernas doem. Os olhos ardem. Mas ele está longe de parar.
Jonathan encara todos. Seu rosto endurecido.
— Se a polícia for envolvida agora, esses homens podem matar a criança e se desfazer do corpo. Ameaça é morte imediata para eles.
Eduardo se adianta, puxando o celular:
— Eu e Dante vamos acionar contatos. Forças especiais. Gente que age por fora da lei. Vamos buscar essa criança nem que seja no inferno.
Ravi apenas assente.
— A noite ainda não acabou. Eu volto para o sistema. Vou puxar cada código. Caçar cada rastro. Nem que eu precise vender a minha alma.
— Se preciso, venada a minha alma também. — completa Jonathan com os olhos em brasa.
O grupo se dispersa. O peso no peito de cada um é maior do que o mundo poderia carregar. Mas ainda há uma fagulha. Uma centelha de esperança.
E enquanto Marta dorme, inocente, o mundo ao redor dela se contorce com horrores que ela ainda não pode conhecer. Jeff está em algum lugar. E Ravi jura, com o olhar incendiado, que vai encontrá-lo. Ou morrer tentando.
Porque agora, não é mais apenas uma investigação. É uma guerra.
E eles estão dispostos a tudo.

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