O sol ainda beija a linha do horizonte quando o cheiro de café fresco e pão assado invade a casa dos Maia, espalhando um aroma acolhedor e familiar, mas que hoje parece incapaz de aliviar a tensão silenciosa que paira no ar. Na ampla cozinha, o arrastar das cadeiras contra o chão de madeira, o tilintar de xícaras e o sussurro de vozes preocupadas criam uma sinfonia discreta, marcada pelo peso do que não é dito.
Todos estão ali: Jonathan, Islanne, Eduardo, Dante, Miguel, Heitor e Dona Maria, que, mesmo com o cansaço estampado no rosto, serve com delicadeza tapiocas quentinhas, queijo minas em cubos e um bule fumegante de chá de erva doce, como quem tenta manter a vida funcionando, apesar de tudo.
— Bom dia para todo mundo — diz Dona Maria, com aquele sorriso suave, que esconde o esgotamento acumulado das últimas semanas.
— Vamos comer... o dia vai ser longo.
Ravi surge logo em seguida, os olhos vermelhos denunciando mais uma noite em claro, mas a expressão endurecida pela determinação inquebrantável. Ele se senta à mesa em silêncio, agradece com um gesto discreto da cabeça e começa a comer, pouco e mecanicamente, como quem alimenta apenas o corpo, pois a mente continua ocupada em outro lugar, ou talvez com outro alguém.
— Dorme depois, Ravi — comenta Miguel, percebendo o ar exausto que envolve o amigo como uma sombra.
— É o que vou fazer — responde ele, com a voz rouca e direta.
— Assim que terminarmos de falar com vocês.
O clima pesa, e antes que Ravi consiga relatar o que viu durante a madrugada, a porta da frente se abre com um rangido abafado. Todos viram o rosto, atentos. Caio entra.
Ele surge no batente com passos hesitantes, quase calculados demais, como se ponderasse a possibilidade de recuar. Carrega o chapéu nas mãos, apertando a aba com força desnecessária, e os olhos... os olhos percorrem o ambiente rapidamente, como um animal acuado que avalia as saídas, antes de se fixarem, inevitavelmente, nele: Jonathan.
Por um segundo, o tempo parece suspenso.
O peito de Caio aperta, e ele engole em seco, com um movimento quase imperceptível, mas que não passa despercebido por Ravi, Eduardo e Dante, que trocam um olhar rápido e silencioso.
Dona Maria, sempre gentil, quebra o clima denso com a naturalidade que só ela possui, se adiantando:
— Ah, Caio! Que bom que veio, meu filho. Esses aqui são Eduardo, Heitor, Miguel, Dante… e esse — ela diz, pousando a mão no ombro firme de Jonathan — é o Jonathan. O pai dos gêmeos.
As palavras pairam no ar como uma sentença. O pai dos gêmeos.
Caio sente um calafrio percorrer a espinha. O homem à sua frente não é só o pai dos gêmeos. É o pai do menino desaparecido… e da menina que, neste exato momento, luta pela vida em um leito de hospital.
Ele estende a mão, forçando um sorriso que não chega aos olhos.
— É… um prazer… — murmura, com a voz falhando no meio da frase.
Jonathan aperta sua mão com firmeza, sem perceber, ou talvez percebendo demais o desconforto latente do rapaz.
— Toda ajuda é bem vinda — diz Jonathan, sincero, mas com uma gravidade na voz que torna aquelas palavras um convite e uma advertência ao mesmo tempo. — Agradecemos por isso.
Caio assente rapidamente, desviando o olhar, como quem teme ser despido por aquela presença tão imponente. Senta-se um pouco afastado, quase se escondendo na borda da mesa, enquanto todos voltam, aos poucos, a falar.
Mas Ravi não volta. Ele observa.
E Dante e Eduardo também.
Ambos silenciosos, atentos ao modo como Caio respira fundo, como evita cruzar olhares, como mantém os dedos inquietos na aba do chapéu. Como se cada palavra dita naquela cozinha pudesse, a qualquer momento, desmoronar um castelo cuidadosamente construído.
Islanne, sempre prática, se levanta, batendo palmas com suavidade, como quem puxa todos de volta à rotina:
— Bora, minha gente. Já está na hora de irmos para o hospital. O boletim médico sai até as nove, e eu não vou deixar vocês atrasarem.
Jonathan se levanta imediatamente, como quem se move por um instinto maior do que ele mesmo. Eduardo o acompanha. Ravi termina o último gole de café, ainda com os olhos presos em Caio, e murmura, como quem se despede de uma batalha:
— Vou tomar um banho e dormir. A próxima noite também vai ser longa. Não vou sair da rede enquanto não tiver uma pista concreta.
— Dorme, meu filho — diz Dona Maria, passando a mão com ternura pelos cabelos revoltos de Ravi, como quem cuida de um filho.
Ravi sorri de canto, mas não responde. Não confia na própria voz.
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