A luz pálida da manhã filtrava-se pelas persianas da UTI adulta, desenhando linhas tênues nas paredes frias e impessoais. O ambiente, silencioso exceto pelos sons intermitentes dos monitores cardíacos e pelo leve zumbido dos respiradores, parecia suspenso no tempo. No leito, Marta despertava aos poucos, os olhos marejados oscilando entre o teto branco e a porta fechada. O peito arfava, enquanto as lembranças se misturavam ao medo: os filhos… estariam vivos?
A maçaneta girou com um clique discreto, e a porta se abriu lentamente. Jonathan entrou com passos hesitantes, o rosto marcado por noites sem dormir, olheiras profundas e a barba por fazer. Ao vê-lo, Marta arregalou os olhos, como se ele fosse uma miragem impossível naquele quarto frio. Seu corpo, ainda fraco e dolorido, reagiu com uma súbita tensão, fazendo o monitor cardíaco apitar suavemente.
— Marta… — a voz dele quebrou o silêncio, trêmula, densa de culpa e amor. Ele se aproximou, se curvou e, num impulso contido, abraçou-a com um cuidado desesperado, como se ela fosse feita de vidro.
Ela não conteve as lágrimas, que rolaram silenciosas pelo rosto pálido. Agarrou-se a ele com as forças que mal tinha.
— Jonathan… — sussurrou com a voz embargada e quebradiça — não… não tira os meus filhos de mim… por favor… Eles são tudo o que eu tenho… tudo… — As palavras saíam entre soluços e gemidos, enquanto suas mãos trêmulas apertavam o avental dele com um desespero quase infantil.
Jonathan afastou-se um pouco, apenas o suficiente para segurar o rosto dela entre as mãos e olhar dentro dos seus olhos como quem entrega a própria alma.
— Marta… eu jamais faria isso com você. Nunca… — fez uma pausa, o queixo trêmulo, respirando fundo para não desabar.
— Eles são seus… nossos… e são lindos. Estão vivos… Marta… Estão bem. Ganham peso a cada dia, são fortes, como você.
Ela se desfez em lágrimas, o peito subindo e descendo em movimentos bruscos, lutando entre o alívio e a dúvida.
— Por… por que não me deixam ver eles? — perguntou com a voz falha, quase um gemido de dor.
— Eles… morreram? Me fala… por favor… me fala a verdade, Jonathan! Pelo amor de Deus! — Sua súplica encheu o quarto de uma tensão cortante, um clamor tão profundo que parecia rasgar as paredes frias da UTI.
Nesse momento, um médico se aproximou com passos firmes e uma expressão compassiva. Alto, de jaleco branco impecável, estetoscópio pendendo ao pescoço, ele se colocou ao lado do leito com a autoridade serena de quem já lidou com muitas vidas na fronteira entre o medo e a esperança.
— Boa tarde — disse com a voz firme, mas acolhedora, olhando ora para Marta, ora para Jonathan.
— Eu sou o Dr. Rafael Brandão, responsável pela Unidade de Terapia Intensiva. Marta, sei que o momento é difícil, mas você precisa ouvir com atenção. Sua cirurgia transcorreu com sucesso. Não há sinais de infecção, a cicatrização está ótima, seus órgãos estão funcionando bem… mas o seu estado emocional agora é o que mais nos preocupa.
Ele fez uma breve pausa, observando atentamente os batimentos cardíacos acelerados no monitor.
— Quando você acordou, mais cedo, ficou muito agitada… tentou arrancar os acessos venosos, a sonda… — disse com cuidado, ajustando o tom para não alarmá-la.
— Isso é uma reação compreensível diante do trauma que viveu. Por isso… tivemos que conter fisicamente, de maneira breve, e administrar um sedativo leve. Não foi para te prejudicar, Marta, mas para te proteger. O seu coração… estava batendo muito rápido… e sua pressão subiu demais. Precisávamos estabilizá-la. — O olhar dele suavizou ainda mais. — Você está segura, está cercada de cuidados. Confie em nós.
Marta respirava com dificuldade, o olhar perdido entre o médico e Jonathan.
— Eles… eles estão vivos…? — repetiu quase num sussurro, como quem teme a resposta.
Jonathan então puxou cuidadosamente do bolso do jaleco duas folhas plastificadas. As cópias das certidões de nascimento. Tremendo, ele as entregou para ela.
— Aqui… prova… — disse, a voz embargada. — Eles existem… são reais… Lua e Jeff…
As mãos frágeis de Marta percorreram lentamente o papel, detendo-se sobre os nomes. As lágrimas voltaram, mas agora eram diferentes: não mais apenas de angústia, mas também de um alívio que doía.
— Obrigado… — murmurou.
Ele ficou mais um tempo ao lado dela, segurando-lhe a mão, fazendo carinho nos cabelos despenteados. Quando, enfim, percebeu que ela começava a relaxar, ele se inclinou, beijou sua testa com reverência e se levantou devagar.
Marta, antes que ele saísse, ergueu novamente a mão, chamando-o com um fio de voz:
— Jonathan… as… certidões… por favor… deixa eu ver de novo…
Ele as entregou sem hesitar. Ela fitou os papéis demoradamente, passando os dedos sobre os nomes como quem toca os próprios filhos. Depois de um longo suspiro, fechou os olhos, apertou as folhas contra o peito, e então as devolveu a ele, com um olhar aliviado, mas ainda ferido.
— Guarda… cuida deles… — pediu baixinho, como uma mãe que entrega ao outro a missão de proteger o que tem de mais precioso.
Jonathan assentiu, engolindo em seco, e finalmente saiu, caminhando pelo corredor silencioso da UTI, sem conseguir conter as lágrimas.
Enquanto ele se afastava, Marta ficou ali, sozinha, olhando para o teto. Seu coração oscilava entre a esperança e o medo. As perguntas rodopiavam em sua mente: Quando, afinal, ela poderia vê-los com os próprios olhos? Estariam mesmo bem, ou estavam apenas poupando-a de uma verdade devastadora? E por que Jonathan não falava de Jeff com a mesma naturalidade que falava de Lua? Haveria algo que ele ainda escondia?
As máquinas continuavam a apitar suavemente, indiferentes ao turbilhão dentro dela. E a porta da UTI fechou-se mais uma vez, deixando no ar a promessa de reencontros, mas também o eco de segredos ainda silenciados.
E agora… o que mais poderia ser revelado?

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