Jonathan caminhava pelo corredor da UTI, o coração ainda apertado após deixar Marta, quando, ao virar-se, viu Eduardo aproximando-se lentamente. O olhar dos dois se encontrou, e naquele breve instante, muito foi dito sem palavras.
Jonathan respirou fundo, os ombros pesados de uma angústia mal contida.
— Ainda… ainda não contei sobre o Jeff — confessou, num sussurro rouco, quase como quem teme o próprio som das palavras.
Eduardo apenas assentiu, com um movimento discreto de cabeça. Seu semblante estava austero, mas os olhos, sempre tão expressivos, revelavam a mesma preocupação silenciosa que compartilhava com todos naquele momento. Ele não precisava dizer nada; a dor, o medo e a responsabilidade eram evidentes entre eles, como um fio invisível, tenso, que os ligava.
Sem mais delongas, Eduardo caminhou até o lavatório. Seus movimentos eram metódicos, quase cerimoniais: abriu a torneira, esfregou as mãos vigorosamente com sabão antisséptico, enxaguou até não restar resquício algum, secou com papel descartável e, só então, vestiu o avental, ajustou a touca e a máscara. Respirou fundo, fechou os olhos por um segundo, como quem se prepara para atravessar uma ponte frágil, e então empurrou a porta de vidro.
Ao vê-lo entrar, Marta arregalou os olhos, um brilho imediato surgindo onde antes havia apenas cansaço e dor. Seu coração disparou, mas dessa vez não foi de medo ou angústia, foi um salto visceral de reconhecimento e afeto.
— Dudu… — sua voz saiu trêmula, quase irreconhecível, mas carregada de tanto amor e alívio que Eduardo sentiu os olhos encherem-se de lágrimas antes mesmo de dar o primeiro passo até ela.
Ele se aproximou devagar, com aquele jeito calmo e protetor que sempre tivera com ela. Quando chegou ao lado do leito, não hesitou: segurou a mão dela com firmeza e carinho, entrelaçando os dedos como quem segura algo precioso demais para se quebrar.
— Meu anjo… — disse num sussurro, a voz falhando com a força do sentimento.
— Você não tem ideia da falta que faz nesse mundo aqui fora… — Ele sorriu, mas o sorriso se curvou de tristeza. — Está todo mundo meio perdido sem você. Mas eu tô cuidando de tudo, como sempre, tá? Como você confiou que eu faria.
Marta puxou-o com a pouca força que tinha e, num movimento frágil, mas determinado, o abraçou, afundando o rosto no peito dele. E ali, naquele abraço, ela desabou. As lágrimas vieram em ondas, quentes e silenciosas, molhando o avental que ele vestia. Eduardo fechou os olhos, apertando-a contra si, tentando ser a fortaleza de sempre, mas as emoções o venceram. Duas lágrimas pesadas rolaram por seu rosto, ultrapassando a borda da máscara.
— Eu… achei… que ia morrer… — soluçou ela, com a voz embargada. — Achei que… nunca mais ia ver ninguém… nem os meus filhos… nem você…
Eduardo afastou-se um pouco só para poder olhar bem dentro dos olhos dela. Passou a mão carinhosamente sobre os cabelos despenteados, ajeitou uma mecha atrás da orelha e disse, com uma doçura que parecia acalmar até o ar denso da UTI:
— Não… não fala assim… Você é a mulher mais forte que eu conheço. Eu sabia… sabia que você ia voltar… para eles… e para nós.
Ela sorriu, fraco, mas genuíno. A mão dele, ainda apertando a dela, pulsava como um elo irrompível.
O tempo, porém, parecia um inimigo invisível, correndo rápido demais. Eles sabiam que aquele momento era precioso, finito. Eduardo respirou fundo e ficou ali, apenas olhando-a, com aquele amor silencioso, respeitoso, sem a necessidade de grandes declarações. Tudo estava naquele olhar: a amizade, a lealdade, a família escolhida.
E então, a porta se abriu novamente.
O som suave, quase imperceptível, não preparou Marta para o que viria. Quando seus olhos se voltaram para a entrada, ela viu Islanne parada ali, estática por um segundo, como quem busca fôlego para atravessar um furacão.
E então, como duas tempestades que se reconhecem e colidem, Marta e Islanne se encaram ou o mais próximo disso que Marta conseguiu. Islanne foi até o leito e, inclinando-se, envolveu Marta num abraço apertado, visceral, que parecia querer colar os pedaços quebrados de ambas.
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