O carro de Jonathan desliza lentamente pelo gramado úmido do Sítio dos Maia, suas rodas esmagando a relva macia sob o peso da ansiedade e das últimas notícias. A tarde caminha preguiçosa, mas cada segundo parece carregado de uma tensão silenciosa que paira sobre todos os presentes. O céu, de um azul sereno, contrasta dolorosamente com a inquietude que habita os corações naquela casa.
Islanne é a primeira a abrir a porta do carro, os saltos afundando levemente na terra fofa enquanto ela segura os documentos com força, como se eles fossem capazes de sustentar o próprio destino da família. Jonathan surge logo atrás, os passos firmes tentando disfarçar o cansaço estampado no rosto. Seu olhar, habitualmente frio e calculado, agora carrega um brilho estranho, um misto de alívio e medo.
Eduardo caminha ao lado deles em silêncio, como quem entende que não há palavras suficientes para o que está prestes a ser compartilhado.
Ao cruzarem o alpendre largo, o aroma acolhedor de comida no fogão de lenha se mistura ao perfume suave de lavanda que exala da casa, um cheiro que sempre fora sinal de tranquilidade, mas que hoje apenas acentua o abismo entre a rotina simples e a dor complexa que todos vivem.
Na cozinha, Dona Maria está ajoelhada diante do forno, tirando com cuidado uma fornada dourada de pães de queijo, quando ouve o barulho dos passos na varanda. Ela se levanta rapidamente, secando as mãos no avental florido, os olhos marejados de esperança contida.
— Vocês chegaram… — diz, com a voz trêmula, avançando na direção deles. — E então? Como está… como está a minha filha? E… e a minha neta?
O coração de Dona Maria martela freneticamente no peito, como se fosse explodir a qualquer momento. Suas mãos úmidas se entrelaçam diante do avental, como se assim conseguissem impedir o corpo de fraquejar.
Jonathan respira fundo, fitando os olhos dela. Há algo de reverente nesse olhar, como quem se vê diante da força ancestral da maternidade. Por um segundo, ele hesita, o peso da notícia se acomodando na língua antes de ser pronunciado.
E então, como quem rasga um véu de dor:
— Marta acordou.
As palavras não são apenas ouvidas, mas sentidas como um raio que percorre a espinha de Dona Maria. Ela leva ambas as mãos ao rosto, cambaleia dois passos para trás, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés.
— Minha filha… — balbucia, antes que um choro rasgado e profundo rompa das profundezas de sua alma, inundando a cozinha e silenciando qualquer outro som.
Miguel, que acabara de sair pela porta dos fundos, ouve o lamento e corre até ela, alcançando-a antes que desabe.
— Mãe… — ele a envolve com força, segurando-a como quem segura a própria vida.
— Ela acordou, mãe… a Marta tá viva…
Dona Maria se agarra ao filho, soluçando sem qualquer pudor, como só as mães sabem fazer quando a dor e a esperança se encontram de forma violenta.
— Deus… Deus seja louvado! — repete, os joelhos fraquejando, e Miguel a segura com mais força ainda.
— Minha filha… meu bebê…
O som da porta da frente se abre abruptamente. Heitor entra, as botas marcadas pelo barro do campo. Sua expressão, endurecida pelo trabalho e pela vida, se quebra ao ver a cena: a esposa despedaçada entre lágrimas, o filho abraçado a ela, e todos os demais cercados de uma comoção densa, quase palpável.
— O que aconteceu? — pergunta com a voz seca, porém tremendo, a preocupação corroendo-lhe as palavras.
Jonathan se volta para ele, os olhos encontrando os do patriarca com respeito e, talvez, um traço de temor.
— Marta acordou, senhor Heitor… — diz, e as palavras parecem fazer o homem vacilar um segundo, antes que ele recue um passo, como quem leva um soco invisível.
Heitor aperta o chapéu entre as mãos calejadas, o rosto enrugado crispando-se em tensão.
— E… como… como ela tá?
Jonathan respira fundo, o peito se elevando como quem carrega o fardo de uma família inteira.
— Está estável… mas… muito frágil emocionalmente. O médico pediu cautela extrema.
Ele faz uma pausa, e todos seguram a respiração, como se estivessem pendurados naquele breve silêncio.
— Eu… eu não contei sobre o Jeff… — confessa, a voz embargando pela dificuldade do momento.
— Como assim? — Miguel se vira, os olhos arregalados. — Ela não sabe?
Jonathan balança a cabeça, os documentos tremendo ligeiramente em sua mão.
— Aqui… todos vocês são da casa. São meus filhos… — diz, com a voz embargada, afagando o braço dele como quem mima um filho crescido e meio rebelde, mas que, no fundo, é só um menino perdido pedindo aconchego. — E você… você está ajudando tanto… é o mínimo que posso fazer.
Ravi sorri, ajeita-se e caminha até a mesa. Serve-se de um café ainda quente, sorvendo o primeiro gole com um suspiro satisfeito, enquanto ouve, em silêncio atento, a continuação da história sobre Marta e os bebês.
Seus olhos, sempre tão vivos, agora se estreitam em preocupação, analisando cada palavra, cada pausa, como quem monta um quebra cabeça complexo.
Há algo nele que nunca se desliga completamente, uma vigília silenciosa e constante.
— Bom… — diz, ao sentar-se pesadamente na cadeira, esticando as pernas.
— Agora que recuperei as forças… vou voltar pra minha base. Vamos ver se consigo arrancar mais alguma coisa daquela rede…
Jonathan ergue o olhar, a voz grave e cheia de um paternalismo cauteloso:
— Cuidado, Ravi… Eu sei que você sabe o que tá fazendo… Mas agora… agora a gente tem muito mais a perder…
Ravi apenas assente, com um movimento quase imperceptível, enquanto o silêncio se instala como uma prece silenciosa ao redor deles.
Dona Maria se aproxima novamente, colocando a mão no ombro dele e apertando, como quem diz sem palavras: “Se cuida, meu filho.”
A esperança respira, frágil, mas presente.
Os filhos foram registrados. Marta despertou.
E mesmo que a verdade ainda esteja envolta em mentiras suaves, os corações… esses seguem ardendo, queimando em chamas silenciosas e indomáveis.
Mas será que eles estão preparados para a reação de Marta ao descobrir a verdade?
E a pergunta que não quer calar, Jeff sobreviveu ao ser arrancado de uma UTI com poucas horas de vida?

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