O silêncio pesado da UTI neonatal é cortado pela autoridade firme do médico, que surge ao lado do bercinho vazio com um semblante tenso, porém controlado.
— Senhores, essa invasão não pode continuar. Esta é uma área crítica, cheia de bebês imuno deprimidos. Peço que saiam imediatamente — ordena, a voz cortante, sem deixar espaço para discussão.
Jonathan dá um passo à frente, o olhar incendiado e o peito arfando.
— Eu quero ver a minha filha! Agora!
— A recém nascida, Lua está sob cuidados da equipe de enfermagem senhor. Mas não vou discutir com você aqui dentro. Saia — rebate o médico, elevando ligeiramente o tom.
Ravi segura Jonathan pelo braço. Miguel observa atento, pronto para intervir se necessário. Mas é Eduardo quem percebe que Jonathan está a ponto de explodir. Ele se adianta e fala com um tom mais calmo, porém firme:
— Doutor, por favor… estamos desesperados. O senhor precisa entender. Achamos que algo tinha acontecido. Nos dê uma explicação.
O médico respira fundo. Seu olhar suaviza, e ele dá um passo atrás, como se medisse as palavras.
— Eu mesmo pedi para chamarem o pai da criança. Lua teve alta da incubadora. Está bem. Os exames finais foram positivos. Está apenas sendo avaliada para os registros de peso, altura, temperatura, e já está com as enfermeiras para ser vestida e entregue ao responsável legal. Nada aconteceu com ela.
Jonathan sente os joelhos fraquejarem. Um tremor percorre o seu corpo, dos ombros às mãos. Ele fecha os olhos por um segundo, buscando ar. Ravi apoia a mão em suas costas. Miguel esfrega o rosto. Eduardo solta um palavrão abafado.
— Graças a Deus — murmura Jonathan, abrindo os olhos devagar. — Graças a Deus…
Nesse momento, uma enfermeira se aproxima, a voz serena como uma brisa:
— Podem se acalmar. Lua está ótima. Já estamos vestindo ela com a roupinha que trouxeram e organizando os documentos. Mas vou pedir que todos voltem à entrada da ala neonatal, lavem as mãos até os cotovelos e por favor, se acalmem, ela sente tudo. A pequena está bem, mas ainda é frágil. Vamos fazer isso direito, tudo bem?
Eles obedecem, mesmo contrariados. O grupo volta ao hall da UTI como se saísse de um campo de batalha. Lavagem meticulosa, protocolo seguido à risca. Mas os minutos se arrastam. Jonathan anda de um lado para o outro como um animal enjaulado, os nervos à flor da pele, fazendo os outros suarem de ansiedade só de vê-lo.
Finalmente, a porta se abre. A mesma enfermeira surge com a pequena Lua nos braços, vestida de amarelinho, com lacinhos, as mãozinhas cerradas, os olhos fechados num sono tranquilo. Ela caminha até Jonathan e estende a menina com delicadeza.
— Aqui está sua filha, papai, mas preciso que o senhor assine toda a documentação.
Ele a recebe como quem toca o sagrado. Um suspiro escapa, carregado de emoção. Jonathan beija com cuidado a testa de Lua, como se sua alma renascesse naquele instante. Os outros três se aproximam, quase hipnotizados.
— Ela é… perfeita — diz Miguel, com a voz embargada.
— E pequena demais para esse mundo maluco — completa Ravi, sorrindo com ternura.
— Vamos cuidar dela como se fosse o nosso talismã — diz Eduardo.
A enfermeira entrega os papéis com o receituário e orientações: alimentação, vacinações, o tipo de leite específico, posição para dormir, cuidados com o umbigo.
Jonathan assina toda a documentação com seu melhor sorriso estampado no rosto.
Logo, o grupo segue rumo ao sítio. Quatro homens, uma recém nascida e uma tonelada de medo e encanto. Eduardo dirige como se transportasse uma joia real. A velocidade não passa de quarenta por hora.
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