O riso explode na sala, abafado, cúmplice, como quem tenta proteger um sono sagrado, mas não conseguem evitar. A atmosfera é densa de amor, tão espessa que quase se pode tocá-la. No centro de tudo, Lua, minúscula, adormece no colo de Jonathan, respirando com a serenidade de quem ainda desconhece os medos do mundo.
Ravi, de braços cruzados, observa a cena, impaciente e teatral, mas não consegue esconder a ternura que emana dos olhos.
— Ah, agora já deu, não é? — resmunga, fingindo indignação.
— Todo mundo já pegou essa princesa no colo e eu aqui, só babando?
Jonathan revira os olhos, mas o sorriso que surge nos lábios não consegue esconder o orgulho. Ele aperta a filha de leve, como se, ao soltá-la, fosse perdê-la para sempre.
— Você é muito agitado para segurar um bebê recém nascido — provoca Miguel, soltando uma gargalhada abafada. — Daqui a pouco tá pulando com ela no colo, igual um maluco.
Ravi dá um passo à frente, inclinando-se na direção da menina, e fala quase num sussurro, com a devoção de quem confessa um segredo:
— Agitado nada! Tô no modo “tio coruja” aqui… E ela vai amar o meu colo. Vai ou não vai, Lua?
A tensão é leve, mas real. Jonathan hesita, como todo pai que não quer dividir o bem mais precioso. Só então, respirando fundo, rende-se àquele gesto de confiança: com uma delicadeza reverente, coloca Lua nos braços de Ravi, que a segura como quem segura o mundo, como quem segura algo que nunca vai merecer o suficiente.
— Meu Deus… — sussurra ele, olhos arregalados. — Olha isso, cara! Ela cabe inteira nos meus braços… Ela é tão pequena…
Ele a embala suavemente, de um lado para o outro, e por um segundo ninguém respira, como se o próprio tempo se curvasse àquela cena.
— Já pensou que quando ela crescer, eu vou ser o tio preferido?
Jonathan ri, sem perder a chance:
— Já pensou que ela nem vai saber quem você é se continuar desaparecendo por semanas?
Ravi sorri de canto, com aquele olhar que confessa mais do que diz:
— Tô tentando melhorar isso… juro.
Mas os olhos dele não saem de Lua, como se ela fosse capaz de absorver e perdoar todas as ausências. Depois de um tempo, ele devolve a bebê com o mesmo cuidado de quem entrega um cristal raro e anuncia, teatral:
— Agora, se me dão licença, vou guardar essa imagem na mente… e tirar um cochilo. Tenho uma longa noite pela frente.
Vai para o quarto, e antes mesmo de se deitar, Dona Maria já está em movimento, ágil, certeira como quem conhece o coração das pessoas.
— Vou fazer um chá de camomila pra esse menino, senão nem dorme direito — diz, saindo em direção à cozinha.
Miguel ri, cúmplice:
— Tá ficando mimado, hein…
Poucos minutos depois, a mão firme de Dona Maria b**e na porta:
— Ravi? Posso entrar, meu filho?
— Pode sim, Dona Maria — responde ele, já deitado, só de camiseta, o olhar cansado, mas agora mais calmo.
Ela entra com a caneca fumegante, sorrindo com aquela ternura que é feita mais de presença do que de palavras.
— Toma… Vai te ajudar a relaxar.
— A senhora é um anjo… — ele diz, pegando o chá com gratidão.
Enquanto ele bebe os primeiros goles, o olhar vai suavizando, os ombros se rendem, o corpo, antes inquieto, enfim repousa. Dona Maria o observa, silenciosa, depois se aproxima, ajeita com carinho o lençol sobre o corpo dele e sussurra, como uma promessa que não admite contestação:
— Dorme, filho. Aqui… ninguém vai te deixar sozinho.
Ravi fecha os olhos, respira fundo, e adormece, como se, naquele instante, encontrasse o lar que sempre buscou.
No corredor, encostado na parede, Jonathan assiste à cena. O olhar repousa sobre Dona Maria com uma admiração silenciosa. Ela não é apenas a matriarca do sítio… tornou-se colo, abrigo, para todos ali. E não só para Lua.
Na sala, a vida segue, mansa e plena. Eduardo, aproveitando o vazio, toma Lua nos braços com um sorriso apaixonado. Beija sua testa, embala-a, e, num tom leve mas carregado de significado, solta:
— Acho que já tô pronto para ser pai…
Jonathan gargalha, um riso sincero que se derrama pela sala:
— Não antecipa as coisas, pelo amor de Deus, meu amigo!
Mas o olhar… ah, o olhar não consegue esconder o orgulho e o afeto.
E como se sentisse todo aquele amor circulando, Lua solta um sorriso involuntário.
— Aí, ela sorriu! — grita Jonathan, emocionado. — Você viu, Eduardo? Viu?
— Claro que vi! — responde ele, rindo. — Já fizemos mais fotos dela do que de qualquer outra coisa na vida!
O momento é interrompido pela chegada de Dona Maria, que retorna triunfante com um prato na mão:
— Docinho de leite. Direto do tacho. Feito ontem à noite.
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