O silêncio quente da tarde é quebrado pelo ranger das tábuas da varanda, quando Ravi surge do interior da casa, resmungando entre dentes, como um animal ferido. Todos os olhares se voltam para ele de imediato, enquanto Jonathan inclina o corpo para frente, Miguel aperta os olhos, e Eduardo, silencioso, algo raro, acompanha o movimento, atento.
Heitor, no canto, permanece calado, observando como quem estuda cada respiração, cada gesto, como se soubesse que algo maior está prestes a acontecer, algo que ninguém ali será capaz de controlar quando explodir.
— Droga... isso não está andando — grunhe Ravi, passando a mão nervosamente pelo cabelo bagunçado, a mandíbula tensa, os olhos sombrios.
— Calma — diz Jonathan, em tom firme, tentando conter a impaciência do amigo.
— Vamos pensar. Temos que traçar alguma linha. Quem, afinal, poderia ter levado Jeff?
Aquela pergunta paira no ar, pesada, como um trovão prestes a se romper. Um silêncio denso se instala, enquanto todos começam a repassar mentalmente cada pista, cada rosto, cada detalhe esquecido que pudesse, quem sabe, levar à criança desaparecida.
Miguel quebra o mutismo:
— Precisamos sair, falar com as pessoas, ver o que dizem nas ruas… não dá mais para ficar esperando.
— É… — Eduardo concorda. — Talvez seja bom nos enturmarmos um pouco pela cidade.
Neste instante, como se puxada pela força daquela sugestão, Darlene aparece na varanda, discreta, os olhos curiosos, mas sem se anunciar de imediato. Ela encosta na mureta, ouvindo em silêncio, absorvendo cada palavra sussurrada entre os homens. Seu corpo está meio tenso, como quem sabe que, ao falar, cruzará uma linha que não terá mais volta.
— Olha… — ela começa, com um tom hesitante, fazendo com que todos se voltem para ela.
— Eu não sei como as coisas funcionam na capital… mas aqui é meio reservado. A gente não costuma fazer amizade assim, do nada, com estranhos. O pessoal desconfia, fala demais… Mas… eu posso ajudar nisso. Se vocês quiserem, é claro.
Os homens a fitam com interesse, e ela respira fundo, reforçando:
— Eu sou moradora daqui, nascida e criada. Não vão desconfiar de mim. Posso sair com vocês em busca de informações… se forem sozinhos, vão chamar atenção demais, e o Miguel, é da família Maia, deve se manter afastado.
Heitor, que até então mantinha a expressão impenetrável, se adianta e decreta:
— Ravi não pode. Tem que ficar aqui.
— Precisamos ser convincentes… — diz Darlene, com um sorriso malicioso, o olhar faiscando.
— Acho que vai ser fácil — responde Eduardo, inclinando-se um pouco mais perto, a tensão entre eles é palpável.
Antes de saírem, vão até a cozinha. Trocam olhares demorados, ensaiam sorrisos, os corpos se aproximam como se já fossem de fato um casal apaixonado. Darlene passa a mão nos cabelos, pega uma caneca de café e se senta diante dele, cruzando as pernas, deixando que o ambiente familiar da fazenda sirva de palco para o que é, na verdade, uma encenação carregada de tensão e expectativa.
Quando Eduardo se levanta para partir, disposto a retornar ao Sítio dos Maia, ele percebe um vulto ao longe. Estão sendo observados. Imediatamente, ele passa a mão pela cintura de Darlene, puxando-a para perto, acariciando a sua pele de leve, enquanto se encaram. Ela estremece, um arrepio involuntário que se traduz num riso contido.
— Alguém nos viu — ele sussurra, ao pé do ouvido dela.
— Ótimo — ela responde, sorrindo, com a cabeça já fervendo de possibilidades. Me abraça.
Eduardo obedece, e alisa as costas dela, ao se afastarem, trocam um sorriso cúmplice e ele entra no carro.
Mas quem estava ali, na sombra, observando silenciosamente? E, principalmente… o quanto Eduardo e Darlene estão preparados para o jogo que começaram a jogar?

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