A noite cai pesada sobre a cidade, e o ar quente parece vibrar junto aos grilos e aos latidos espaçados dos cães nas fazendas. No Sítio dos Maia, todos estão na varanda, quando os faróis de um carro surgem ao longe, iluminando brevemente a estrada de terra antes de estacionar na frente da casa.
Darlene desce, deslumbrante. O vestido curto realça as curvas com uma elegância natural, o decote generoso, mas sem vulgaridade, sugere confiança e segurança. O tecido preto se ajusta ao corpo, os cabelos soltos caem em ondas, e o salto alto perfura a terra macia a cada passo. Todos os olhares se voltam para ela com admiração contida, como quem vê uma menina se transformando em mulher diante dos próprios olhos.
Miguel não disfarça um ar de receio. Ele se aproxima de Eduardo, pondo a mão em seu ombro, como quem deseja selar um pacto silencioso.
— Não desgruda dela, tá? — fala, num tom firme, quase paternal. — A Darlene e a Marta não são moças dessas coisas… baladas, festas… elas não têm malícia. Não sabem o que tem por aí.
Eduardo acena com a cabeça, sério, atento.
Heitor então se adianta, abraçando Darlene pelos ombros com um carinho bruto e sincero.
— Minha menina… — ele murmura, ajeitando um fio solto do cabelo dela. Depois, se vira para Eduardo, o olhar endurecido:
— Não deixe o copo dela com ninguém, ouviu? Não deixe beber nada estranho… e mesmo que ela vá ao banheiro, fica lá. Espera na porta. Não tira os olhos dela, nem por um segundo.
Darlene revira os olhos, soltando um sorriso de quem tenta mostrar independência.
— Padrinho… eu já sou adulta, enfrento até boi Nelore.
Mas ele não cede, segurando-lhe o rosto com força.
— Pode ser… mas você sempre vai ser uma menina para mim. E ponto final.
O peso daquela frase fica suspenso no ar por alguns segundos, até Jonathan, que até então observava tudo calado, encarar Eduardo diretamente, com uma expressão dura, mas de total confiança.
— E você? Tá preparado para revelar isso, é melhor, ou eles vão colapsar!
Eduardo respira fundo, passa a mão pelo cabelo e então, sem alterar a expressão, responde:
— Eu sou um homem bem treinado. Já fiz parte de operações especiais… Na verdade, sou um guarda-costas, trabalho para o Jonathan, cuido da segurança dele e da Marta pessoalmente.
O grupo respira aliviado. A tensão se dissipa como fumaça no vento. Darlene, com um sorriso debochado, entrega a chave do carro ao parceiro da noite.
— Então… senhor motorista bem treinado, pode me levar?
Eduardo sorri, abre a porta e ela entra com naturalidade. Seguem pela estrada, sob o céu estrelado, em direção à boate mais movimentada da cidade.
O estacionamento está cheio, os carros amontoados e o som grave da música vaza pelas paredes grossas. Eduardo estaciona, e antes de saírem, Darlene abre o espelhinho e retoca o batom vermelho, deixando os lábios ainda mais provocantes. Ele observa, silencioso, admirando o contraste entre a moça doce da fazenda e aquela mulher confiante pronta para entrar na selva noturna.
Descem do carro e seguem até a entrada. A boate está lotada, corpos se esfregando na pista iluminada por luzes estroboscópicas, o ar saturado de perfume caro, álcool, luxúria e suor. Eles entram, tudo conforme combinado, abraçados, mãos entrelaçadas, sorrisos cúmplices. Darlene pede drinks sem álcool, Eduardo pede refrigerante servido no copo de whisky, para parecer mais convincente.
Logo estão na pista, dançando como se o mundo fosse acabar naquela noite. O corpo de Darlene se move com uma liberdade surpreendente, os olhos fechados, o cabelo girando, enquanto Eduardo a segura pela cintura, conduzindo com segurança, sempre atento aos arredores.
Quando Eduardo abre os olhos, percebe: Caio está parado, a poucos metros, os olhos cravados neles, furioso, com a mandíbula tensa, mas mantendo a distância, fingindo desinteresse enquanto a raiva borbulha silenciosa.
Eduardo e Darlene fingem uma embriaguez convincente, tropeçando levemente enquanto seguem até a área VIP, misturando-se ao pessoal local. Lá, se sentam e começam a conversar com algumas pessoas, rindo de piadas, puxando assunto, como se fossem só mais dois jovens apaixonados curtindo a noite.
Nada suspeito. Nada que, até então, ligue ao desaparecimento de Jeff.
Darlene encosta a cabeça no ombro de Eduardo, sorrindo. Eles trocam beijos ocasionais, pequenas carícias. Num desses momentos, Eduardo inclina-se e sussurra:
— Pega leve… senão… tô ficando excitado, e não tenho ninguém para resolver isso aqui.
Darlene ri e se aproxima ainda mais, roçando os lábios na orelha dele:
— Você tem mão, não tem? Se resolve… — pisca, divertida, e se afasta, deixando-o rindo, mas tenso.
Enquanto isso, os olhos de Eduardo não param. Observa as garotas que parecem se prostituir abertamente em certos pontos da boate, negociando, sem medo. Em outros cantos, percebe pequenos movimentos suspeitos: trocas rápidas de objetos, abraços apertados demais, conversas sussurradas. Vê também o que parece ser venda de drogas, nada muito explícito, mas o suficiente para sentir o cheiro do perigo.
Mas é cedo demais para avançar em qualquer suspeita de algo maior… muito cedo para afirmar que há, de fato, uma rede de tráfico ali, ou que essa noite será apenas diversão ou o início de algo muito mais sombrio.
E enquanto Darlene encena que se diverte, fingindo estar embriagada, Eduardo permanece em alerta, refletindo: Quem, afinal, naquela multidão barulhenta, poderia saber de Jeff? Estarão eles realmente longe de descobrir algo… ou acabaram de se aproximar mais do que deveriam? E, principalmente… Caio vai ficar parado ou essa noite ainda vai terminar em confronto?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino