A boate pulsa como um organismo vivo, iluminada por luzes que piscam em vermelho, azul e violeta, cobrindo de sombras e névoa os rostos da multidão que se move em ondas de ritmo, suor e segredos. O som grave da música reverbera nos ossos, quase abafando os pensamentos. É um lugar onde ninguém se olha nos olhos por muito tempo, onde tudo pode acontecer e quase nada é o que parece.
Do lado de fora, a fachada não denuncia o tipo de movimentação que se esconde ali dentro. Mas Eduardo conhece lugares assim. Tem faro para o tipo de escuridão que se disfarça de diversão. Ele entra com Darlene ao seu lado, a mão dela entrelaçada à sua com um aperto que é tanto parte do disfarce quanto uma âncora silenciosa.
Ela está linda. Talvez até demais. Vestido justo, cabelo solto, boca pintada de vermelho, uma mulher fatal. Mas por trás da aparência, Darlene caminha com os sentidos em alerta, ciente de que ali, qualquer passo em falso pode custar mais que a sua reputação.
Eduardo a conduz com firmeza. Não fala muito. Seus olhos observam cada canto da boate, cada figura encostada nas paredes, cada rosto que parece mais atento do que deveria. Ele não está ali para dançar. Está caçando. E hoje, mais do que nunca, precisa parecer parte do ambiente, sem perder a frieza de quem sabe que está entrando numa toca de víboras.
Aos poucos, eles se inserem. Dançam. Os corpos colados sob a batida insistente do som, os olhares trocados entre desejo e estratégia. As mãos de Darlene sobem pela nuca de Eduardo, e ele a segura pela cintura com firmeza, fazendo parecer real, e por um segundo, talvez até seja.
— Continua assim — ele murmura ao pé do ouvido dela, com a voz rouca pelo som abafado. — Um pouco mais provocante… só o suficiente pra chamar atenção. Mas não demais.
Ela sorri. J**a os cabelos para o lado, passa a língua nos lábios, e se entrega ao personagem. Sedutora, perigosa, inatingível. Ela dança com Eduardo como se o mundo ao redor tivesse desaparecido, e isso, claro, só atrai mais olhares.
De um dos cantos do bar, um homem os observa. Ele não se destaca pela beleza, nem pela roupa. O rosto é comum, mas os olhos… os olhos analisam. Comportamento, distância, tempo. Há algo em sua postura que grita: ele não está aqui por diversão.
Eduardo o percebe. Não muda a expressão, mas por dentro, cada instinto entra em alerta. O homem começa a circular, fingindo procurar espaço entre a multidão, aproximando-se com naturalidade ensaiada.
Então, finalmente, o "acaso" acontece.
— Bonita a sua companhia… — comenta o homem, quando esbarra levemente em Eduardo, o sorriso torto, o olhar insinuante.
— Faz parte do pacote… — responde Eduardo, com a mesma casualidade, como se não tivesse acabado de reconhecer o tipo de tatuagem mal escondida no antebraço: símbolo de quem já passou pelo sistema penitenciário. Um sinal claro. Uma cicatriz que fala mais que palavras.
O homem se encosta no balcão. Bebe. Finge distração.
— A noite é animada… mas difícil encontrar algo realmente interessante, não é?
Eduardo hesita. Ou finge hesitar. Mede a frase antes de responder.
— Depende do que você chama de interessante.
O homem dá uma risada curta. Sem humor.
— Coisa boa, exclusiva. Para quem tem gosto refinado e sabe o que quer. Não é qualquer um que tem acesso.
Eduardo olha para Darlene, que dança mais à frente, sem parecer envolvida na conversa. Depois, retorna o olhar para o homem, como se tomasse uma decisão.
— Eu gosto do que não se acha fácil — solta, firme.
— Gente que pensa. — O homem se aproxima mais. — Com uma mulher dessas ao lado… ninguém desconfia. Parece só mais um casal querendo adotar discretamente, entende?
— Entendo.
O homem então desliza um cartão, discreto, entre os dedos, deixando-o na bancada.
— Número de trás. Liga se for sério. Tem de tudo. Toda idade, cor, sex0. Ou, se preferir, a gente marca com perfil sob medida. Sem erro.
— Temos também as ninfetinhas, treinadas para nos satisfazer, a partir dos onze anos, mas se preferir crianças, tenho um fornecedor também.
Eduardo ergue o copo em um brinde silencioso, mas o estômago embrulha.
— Prefiro marcar. Discrição sempre.
Ele guarda o cartão no bolso da jaqueta e se afasta, voltando para Darlene, que o recebe com um beijo quente, envolvente, deixando os corpos colados no ritmo da música.
— Tá indo bem… — ela murmura entre os lábios dele.
— Ainda não acabou — responde Eduardo, firme, mas mantendo o sorriso leve do personagem que interpreta.
Momentos depois, Darlene se afasta em direção ao banheiro. Eduardo a segue com os olhos, alerta. Ela some entre as luzes. O corpo dele relaxa por um instante… até congelar de novo.
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