O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 213

O cheiro de ração, serragem e desinfetante se mistura ao silêncio pesado que só os galpões vazios conhecem. É o fim do vazio sanitário, mas o começo de algo que ninguém ali pode prever. Miguel caminha entre as estruturas metálicas com o olhar atento de quem carrega nos ombros muito mais do que planilhas. Em suas mãos, o caderno já surrado com anotações rigorosas e datas riscadas a lápis, porque ali, nada é definitivo. Nem mesmo a paz.

Ele confere bebedouros, temperatura ambiente, a altura exata das lâmpadas que aquecerão os pintinhos ao chegar. Sessenta mil vidas minúsculas a caminho, cada uma delas esperando que tudo esteja perfeito. E está. Porque Miguel faz questão de garantir.

Mas por dentro, ele mesmo está longe disso.

Já em casa, o cheiro de café fresco o recebe junto com o som das novelas antigas que Dona Maria insiste em assistir. Ela sorri ao vê-lo, mas Miguel hesita. Senta à mesa com a postura de quem quer descansar o corpo, mas não consegue calar a mente.

— Mãe... — começa, sem saber onde termina.

— Eu não consigo parar de pensar neles. Nas crianças. Eu fiz planos, sabia? Tantos...

— Eu sei, meu filho — ela diz, com os olhos baixos, mexendo a colher na xícara como quem busca respostas no fundo do café.

— E se a Marta não aguentar quando entender tudo? Quando cair a ficha de verdade sobre o Jeff? Eu sinto... medo.

— A gente só pode pedir a Deus. E eu já pedi, todos os dias. Que Ele proteja o Jeff, onde quer que ele esteja.

Miguel fecha os olhos por um instante. As mãos calejadas apertam o caderno contra o peito. Por fora, ele é força. Por dentro, um emaranhado de incertezas.

Enquanto isso, a maternidade vibra em outro ritmo.

Jonathan já está no quarto, ajeitando os travesseiros, limpando as mãos com álcool em gel pela terceira vez, repassando mentalmente tudo o que leu sobre cuidados com recém nascidos. Lua dorme no bercinho ao lado, um pacotinho rosado envolto em um cobertor de bichinhos.

A porta se abre. Marta entra devagar.

Os olhos dela estão fundos, tristes. O sumiço de Jeff ainda é um buraco aberto em seu peito. Mas quando seus olhos pousam sobre Lua, algo muda. Os ombros relaxam. A dor se mistura com ternura, e um sorriso, ainda que tímido, se desenha.

— Boa tarde, Marta — diz a enfermeira obstetra, com voz suave.

— Eu sou Carolina, estou assumindo o plantão agora. Vamos só conferir como você está, tudo bem?

Marta apenas acena, senta-se devagar na poltrona e começa a ser examinada.

— Pressão ótima... curativo limpo... algum histórico de alergia? Alimentar ou a medicamentos?

— Não... está tudo bem. — Ela hesita. — Quer dizer, na verdade... eu só quero... pegar a minha filha logo.

Carolina sorri compreensiva, terminando as anotações no prontuário.

— Já vamos liberar. Ela está perfeita. Você vai ver.

A enfermeira da UTI faz a passagem do plantão, e juntas ajudam Marta a se acomodar melhor. Minutos depois, os braços de Marta envolvem Lua mais uma vez. E o mundo inteiro parece caber naquele abraço.

Jonathan se aproxima, emocionado.

— Ela tem os seus olhos, Marta...

Marta sorri, as lágrimas escorrendo livres. É um momento raro. Íntimo. Vivo.

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