O barulho metálico da porta do hospital se fechando às costas de Eduardo é engolido pela respiração pesada da cidade. O sol já começa a se inclinar no céu, tingindo tudo com aquele tom dourado que sempre parece esconder mais do que revela. Ele caminha em passos lentos até o carro, sentindo o peso dos últimos dias nos ombros. O silêncio agora parece alto demais, incômodo. Ao se sentar no banco do motorista, ele pega o celular no bolso, acende a tela e seus olhos correm imediatamente para as notificações. Uma mensagem de Darlene o espera. Ele clica.
"Já estou na fazenda. Mais tarde passo no sítio. Fica tranquilo."
O sorriso que surge em seu rosto é involuntário, mas breve. Alívio. Ela está segura.
Eduardo respira fundo. Verifica se há mais alguma mensagem perdida, mas nada além de alguns e-mails irrelevantes. Então gira a chave na ignição e segue em direção ao sítio. A estrada de terra levanta poeira, como se quisesse esconder os rastros que o levaram até ali. Ele gosta daquele lugar, ou melhor, do que ele representa, refúgio, paz, e agora, esperança.
Assim que estaciona e abre a porta do carro, Dona Maria surge na varanda, enxugando as mãos no avental, como se tivesse sentido a chegada dele no ar.
— Ué… Cadê minha netinha? — pergunta, franzindo a testa.
Eduardo caminha até ela com um meio sorriso cansado.
— Marta teve alta da UTI hoje. Já tá no alojamento conjunto com Lua e Jonathan. Ela está feliz com a filha nos braços e bem… provavelmente essa semana ainda recebe alta para casa.
A velha mulher leva a mão ao peito, suspirando com força, os olhos marejados de alívio.
— Graças ao meu bom Deus… — diz, quase num sussurro, antes de se virar com agilidade surpreendente para a idade.
— Entra, meu menino. Fiz bolo de milho e café fresquinho.
Eduardo aceita o convite sem cerimônia. A cozinha cheira a lar, açúcar, café e aconchego. Dona Maria entrega a ele um pedaço de bolo ainda morno e uma caneca fumegante.
— Ravi tá dormindo daquele jeito… parece que caiu de cara no travesseiro, é um meninão, eu já imagino a falta que vocês vão me fazer quando forem embora. — ela fala com um olhar triste.
— Nem se preocupe, sempre que puder venho aqui visitar a senhora, apesar da situação, esse sítio tem cheiro de lar, me dá paz.— Eduardo responde, com a voz embargada.
Dona Maria o abraça e diz:
— Sabem que todos vocês agora são como meus filhos, não é? Quando quiserem, vou ficar muito feliz em ter vocês aqui, de férias ou apenas num final de semana.
— A Darlene deve tá chegando já. Logo aquele outro furacão invade as porteiras fazendo barulho!
— Ótimo — ele murmura, antes de dar um gole no café e disfarçar a emoção.
Depois de alguns minutos de silêncio tranquilo, Eduardo se despede e segue para o escritório de Marta. A porta range um pouco, mas o espaço está arrumado, como se estivesse esperando por ele. Ele senta, liga o notebook que Ravi havia deixado, e abre os esquemas. Rotas, horários, mapas. Tudo meticulosamente detalhado.
Ele passa horas comparando pontos, listando possíveis conexões. O garoto sumido. A rede. Os lugares que se repetem. Os nomes que nunca aparecem, mas são suspeitos pelo silêncio em torno deles. Nada concreto, mas a intuição grita.
Miguel aparece pouco depois, com as botas sujas de barro e a testa suada. Eduardo faz sinal para ele entrar.
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