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O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 215

O som de liberdade dos passarinhos no quintal mistura-se com o cheiro do café recém-passado que paira no ar. A casa do sítio tem um silêncio diferente, não de vazio, mas de espera. Tudo está tranquilo demais para quem está cercado por tantas perguntas sem resposta.

De repente, a porta do quarto range devagar e Ravi aparece, com o cabelo todo bagunçado, a camiseta amarrotada e os olhos ainda meio fechados. Anda como se cada passo fosse um esforço além da capacidade humana. Dona Maria, que já está preparando a mesa da cozinha, ergue os olhos e abre um sorriso largo.

— Olha só quem resolveu sair da caverna — diz ela, com a voz doce.

Ravi não responde. Apenas se aproxima e a abraça com a cara ainda meio enterrada no ombro dela. Dona Maria passa a mão devagar pelos cabelos dele, como se ele fosse uma criança que cresceu ali, com os filhos dela.

— Só um café para me fazer funcionar… — resmunga ele, a voz embargada de sono.

No outro cômodo, Eduardo e Miguel observam a cena com divertimento. Eduardo cruza os braços e balança a cabeça com um sorriso malandro.

— Seria lindo se o pessoal da Schneider visse essa cena... — provoca.

— O CEO durão da Protection Security, o homem mais temido dos servidores da América Latina, sendo um dengo ambulante ao acordar. Tão amarelinho e molinho...

Ravi ergue os olhos e lança um olhar mortal para Eduardo, mas não responde. Só range os dentes em silêncio.

— Vai, fala alguma coisa, vai machão... — Eduardo insiste, rindo alto.

— Me xinga! Chama de idiota! Babaca! Mas com respeito na frente da dona Maria, hein?

Ravi engole seco, cerra os punhos, mas se contém. Seus olhos azuis faiscam, mas ele não ousa soltar um palavrão. A reputação de bom moço diante de Maria vale mais que qualquer revanche imediata.

Seu Heitor aparece na sala, com um jornal dobrado debaixo do braço e a cara de quem já viu de tudo.

— Esses moleques da capital vêm para o sítio e viram tudo mole... se aproveitam da bondade da Maria, tomam café no colo dela e ainda querem parecer durões — comenta com sarcasmo leve.

As gargalhadas explodem. Ravi, agora vermelho até a raiz dos cabelos loiros, tenta salvar a própria dignidade, mas é tarde demais. Eduardo segura a barriga de tanto rir, enquanto Miguel ri em um canto, mas com gosto.

Ravi apenas sacode a cabeça e murmura:

— Um dia eu vou expor esses prints teus, Eduardo… só espera para ver.

— Manda bala, CEO de pelúcia! — Eduardo debocha, piscando para ele.

Pouco depois, todos seguem para o escritório de Marta. A sala que antes era um escritório inofensivo, hoje opera nas sombras, mas de forma funcional, e já virou um centro de comando das investigações improvisadas. Papéis espalhados, notebooks abertos, mapas digitais conectados à tela de um monitor improvisado na parede.

O celular de Ravi vibra. Ele lê a mensagem em silêncio e logo compartilha:

— Meu contato tá de olho naquele número que pedimos para monitorar… mas tem um detalhe. A Polícia Federal já tá em cima disso. O delegado da cidade pediu reforço e a escuta está judicializada. Ou seja, não tem como a gente se meter mais nisso sem atrapalhar, polícia federal sabe o que faz e como faz.

Eduardo acena com a cabeça, sério.

— Então esse ponto a gente deixa para eles. Menos chance de alguém ferrar com tudo por agir na pressa.

— Mas precisamos de outra linha de investigação — Miguel comenta. — Se esse número já está comprometido, a gente precisa pensar lateralmente.

Ravi começa a fazer anotações, concentrado. Eduardo se encosta na mesa, olhos no nada, mastigando as possibilidades.

— Pode ser que a gente precise seguir o dinheiro. Sempre deixa rastro. Quem pagou pelas entregas? Quem comprou o silêncio?

Nesse momento, a porta se abre.

Darlene entra.

Eduardo e Ravi trocam um olhar rápido. É quase imperceptível, mas cheio de significado. Um código silencioso. Em menos de um segundo, ambos já mudam a postura e desviam da conversa central. Darlene pode ser confiável, mas é da cidade, inocente demais. Cresceu ali, conhece muita gente, e um deslize de palavras pode custar caro.

— E aí, tão concentrados? — pergunta ela, tirando o casaco.

— Estávamos discutindo várias possibilidades, inclusive de rotas falsas. — Ravi mente com naturalidade. — Trânsito entre zona rural e cidade aumentou muito nos últimos meses.

— Podia ser só o pessoal vindo comprar insumo, não é? — Darlene tenta entrar na lógica.

— Pode ser… — responde Eduardo, pegando o embalo. — Mas tem muito trator rodando e pouca plantação em algumas áreas. Isso é estranho.

Eles continuam discutindo sobre rotas alternativas, cruzamento de informações com GPS, fluxo de entrada e saída em horários atípicos. Mas o verdadeiro assunto fica no fundo da gaveta.

Ninguém fala sobre o número grampeado.

Ninguém fala sobre o envolvimento da Federal.

— A gente aqui, quebrando a cabeça há dias, e foi a Darlene que deu a chave.

Ela sorri de canto, cruzando os braços.

— Às vezes vocês pensam demais como polícia… e esquecem de pensar como eles pensam. Eles não precisam esconder por muito tempo… só até o rastro esfriar.

Ravi já está rabiscando um novo mapa, circulando áreas suspeitas. Eduardo caminha pela sala, pensativo.

— Tá… e se a gente cruzar as datas do desaparecimento com os registros de caminhões ou vans que passaram pela região nos dois primeiros dias?

— Ou até mesmo helicópteros — diz Ravi, franzindo a testa. — Tem um heliporto clandestino operando a leste da cidade. Ninguém mexe com ele, mas todo mundo sabe que existe.

— E as câmeras da cidade? — Miguel pergunta. — Alguma pegou algum veículo estranho na entrada ou saída nesse período?

Ravi já digita algo frenético no teclado.

— Já tô puxando. Vai demorar um pouco, mas posso filtrar por placas que não têm registro local ou que só passaram uma vez e nunca mais voltaram.

— Isso! — diz Eduardo, animado. — E paralelo a isso, a gente precisa olhar as propriedades da redondeza… ver quem comprou terra nos últimos dois anos, quem arrendou, qualquer movimentação estranha.

Darlene observa os três se movimentarem, como se uma peça do quebra-cabeça finalmente tivesse se encaixado. Por alguns instantes, a energia muda completamente. O silêncio desconfiado vira entusiasmo contido.

— Isso pode ser o começo de uma trilha… — murmura Eduardo, mais para si do que para os outros.

Mas no fundo, todos sabem.

Se estão certos, isso significa que Jeff já saiu dali há muito tempo. E que a rede que o levou é muito maior e mais estruturada do que imaginavam.

Será que ainda há tempo de encontrá-lo?

Ou estão apenas arranhando a superfície de algo muito mais profundo… e mais perigoso?

A pergunta paira, muda, entre eles.

Mas ninguém ousa respondê-la em voz alta.

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