O silêncio antes da verdade é sempre o mais pesado. No instante em que Eduardo fecha a porta do escritório de Marta, o ar parece mudar de densidade. Ele encara os rostos que se viram em sua direção, Darlene, Miguel, Ravi, todos atentos, sérios, quase duros. O clima de tensão não é mais só sobre um menino desaparecido. É sobre um sistema escondido sob a pele da cidade. Um sistema que respira, se move... e lucra.
— Precisamos agir agora — Eduardo diz, direto, sua voz firme cortando o silêncio. — E precisamos que todos estejam por dentro. Inclusive vocês.
Ele olha para a porta no instante em que ela se abre. Seu Heitor entra com a tranquilidade de quem já viu muita coisa na vida. Dona Maria vem logo atrás, um sorriso tímido, tentando esconder a ansiedade, mas os olhos atentos como os de uma águia.
— Pode falar, filho — diz ela, sentando-se ao lado do marido.
— Se é coisa séria, a gente quer saber.
E Eduardo conta.
Sem floreios. Sem suavizar. Ele revela o que descobriram até ali, a suspeita de que Jeff foi removido rapidamente da cidade, mas pode ter passado dias por perto, na zona rural, os indícios de uma rede de tráfico humano com ramificações silenciosas, as rotas possíveis e o rastro quase invisível que ficou para trás.
O rosto de Dona Maria empalidece. Seu Heitor aperta os punhos sobre os joelhos. Ravi exibe na tela do notebook um mapa com as regiões marcadas em vermelho: sítios, galpões e fazendas abandonadas nos arredores. Locais esquecidos por muitos, mas talvez usados por quem prefere o anonimato da distância.
— Vamos precisar dividir as frentes — Eduardo continua.
— A polícia federal já está de olho em algumas ligações, então vamos focar em campo. A ideia é investigar essas propriedades, discretamente, mas com olhar clínico. Qualquer movimentação, rastro, resto de comida, marcas de pneus, objetos deixados… tudo.
— Vamos nós dois — diz Seu Heitor, se endireitando — com o trator da fazenda. Tem lugares que só dá para chegar por dentro de mata ou atoleiro.
— E a gente cobre o outro lado com a F250 — completa Darlene, já pegando as chaves.
— A Ram 3500 da Marta aguenta bem qualquer tipo de terreno, pode seguir com vocês. — Instrui Eduardo, vamos fazer os trechos mais rápidos, nesse primeiro momento e por último deixamos os atoleiros e podemos usar o trator daqui e da fazenda da Darlene.
— Ravi fica monitorando as imagens. Tudo que for encontrado, é fotografado e enviado imediatamente para ele — complementa Miguel. — E eu toco o sítio por aqui. Se alguém perguntar, digo que vocês foram buscar ração, ou insumos na cidade.
Eduardo assente, satisfeito. O plano não é perfeito, mas é funcional.
— Sem heroísmo. Se virem algo estranho, não mexam. Fotografem e saiam. Isso ainda pode ser maior do que imaginamos.
Dona Maria cruza os braços, a expressão dura.
— E se encontrarmos pistas?
— Aí a gente manda para a polícia — responde Eduardo. — Mas até lá, silêncio. Só entre nós.
Todos concordam. Em minutos, os grupos se organizam. Darlene e Eduardo entram na F250. Seu Heitor e Dona Maria montam na Ram, o motor roncando com a força de quem sabe que vai enfrentar lama, troncos e distância.
Ravi permanece no escritório, fones no ouvido, olhos grudados nas telas. O silêncio volta, mas agora é como uma contagem regressiva.
As estradas de terra esperam. As casas abandonadas esperam.
A poeira se ergue da estrada de terra como um aviso silencioso. O motor da F250 ronca firme sob as mãos de Darlene, que dirige com precisão. Ao lado dela, Eduardo consulta o tablet no colo, onde Ravi, à distância, envia as coordenadas em tempo real com os locais suspeitos. Nenhum dos dois fala. O clima no carro é tenso, mas determinado.
Do outro lado do trajeto, a Ram 3500 avança entre as pedras e o mato fechado. Seu Heitor segura firme o volante, olhos atentos ao caminho acidentado, enquanto Dona Maria observa cada canto da paisagem com um olhar treinado, uma mistura de matriarca e guerreira do campo. O rádio entre os veículos chia, mas a comunicação se mantém.
— Aqui é Eduardo. Chegando no primeiro ponto. Latitude batendo com o mapa do Ravi — informa.
— Copia. Nós ainda estamos passando pelo brejo do Fundão. Mais uns quinze minutos até a entrada do tal galpão — responde Seu Heitor.
Darlene desacelera ao ver os portões enferrujados de uma antiga fazenda, tomada pelo mato. As cercas estão caídas, e o barracão ao fundo parece prestes a desmoronar.
— Você trouxe a câmera térmica? — ela pergunta.
— Sim. E o drone também. Vamos usar tudo que puder revelar vestígios — responde Eduardo, já descendo do carro com uma pasta a tiracolo.
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