O céu da madrugada parece pesar sobre a fazenda, como se pressentisse o que foi descoberto. Lá embaixo, no campo silencioso, a brisa carrega o cheiro da terra molhada, mas não há paz. O drone pousa suavemente sobre a lona improvisada. Eduardo mantém os olhos fixos na tela como se o aparelho ainda estivesse em voo. Darlene, ao seu lado, cruza os braços com força contra o peito, tentando controlar o frio que não vem do clima, mas do que viram há pouco.
Do outro lado da chamada em vídeo, Ravi permanece em silêncio. No sítio dos Maia, ele está em sua base improvisada, cercado por cabos, monitores, mapas digitais e uma cafeteira vazia. Seu Heitor e Dona Maria, que mal conseguiram pregar os olhos naquela noite, entram na sala com semblantes carregados.
— E então? — a voz grave e direta de Seu Heitor quebra o silêncio. — Encontraram alguma coisa?
Ravi gira a tela do notebook para mostrar os registros do drone. As imagens são claras: estruturas novas em meio à vegetação fechada, movimentação térmica intensa, homens encapuzados, tonéis metálicos, painéis de luz interna, galões e prateleiras. Tudo montado com uma precisão quase cirúrgica.
Dona Maria cobre a boca com as mãos trêmulas. Seu Heitor estreita os olhos, em silêncio.
— É um laboratório — diz Ravi, sério e amplia as imagens em seu notebook, os olhos estreitos.
— Estrutura de manipulação química. Provável produção de drogas sintéticas, com base em cocaína. Tanques, prateleiras e refrigeração. Não é só tráfico. É refino. E num ponto inalcançável por vias tradicionais. A P F jamais chegaria aqui sozinha.
— Profissional. O lugar foi montado com inteligência. Discrição total. Provavelmente há sistemas passivos de vigilância no perímetro.
— Isso foi construído para ninguém encontrar — comenta Eduardo. — O acesso é quase impossível sem conhecimento das rotas internas. Nem helicóptero da polícia chegaria perto sem chamar atenção.
— Isso não é coisa de traficante comum — emenda Darlene.
— Isso é operação pesada, com investimento e estrutura. Organização de alto nível.
— Meu Deus… — sussurra Dona Maria. — E o bebê? E o Jeff?
Ravi abaixa o olhar antes de responder, escolhendo cada palavra.
— Não há nenhum sinal direto ligando essa estrutura ao desaparecimento do Jeff. Mas... não podemos descartar nada. O que podemos afirmar é que isso é coisa grande. Gente que não quer ser vista. E um bebê desaparecido atrai holofotes, e holofotes é tudo o que eles não querem.
Seu Heitor coça o queixo, visivelmente perturbado.
— Aquela área… eu conheço. Mata densa, sem trilha. Só entra quem conhece palmo a palmo. Isso não é acaso. Isso foi escolhido.
Ravi alterna as telas no computador e exibe o mapa de propriedades sobrepostas.
— Eduardo, aquele trecho que você sobrevoou cruza com três propriedades. Duas estão em litígio há mais de sete anos. A terceira pertence à "Ecos Agropecuária". Empresa que não tem registro de funcionários, mas paga taxas em dia. Sem produção, sem emissão de nota. Dinheiro entra, mas não sai.
— Fachada perfeita — diz Eduardo. — Rural, isolada, com aparência legal. Disfarçada entre dezenas de outras propriedades reais.
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