A madrugada parece mais densa do que nunca.
No silêncio espesso do sítio, há algo além do frio e da escuridão. É como se a natureza inteira prendesse a respiração. O orvalho cobre a grama como pequenas lâminas geladas, e o céu escuro pesa sobre as cabeças como uma cortina de chumbo prestes a desabar. Na casa principal, no entanto, os olhos não dormem. As mãos não descansam. Os corações... estão longe de encontrar paz.
No centro de comando, figuras movem-se com precisão de soldados. Ravi está focado, olhos vidrados nas telas, dedos voando sobre o teclado como se tocasse uma sinfonia urgente. Ao seu lado, Islanne e Miguel.
Enquanto na fazenda, um por um, os dispositivos são testados e se preparam para ganhar o céu, com um zumbido suave e ameaçador. Miguel, atento e calado, observa os pontos de monitoramento terrestre.
Sob a lona estendida e os fios conectados aos equipamentos, ainda repousam os dois drones, e agora com a orientação de Ravi, Darlene e Eduardo lançam os drones, cada um ganhando o céu com precisão. Todos seguem conectados, coordenando movimentos, ajustando a rota, monitorando o terreno.
Os drones deslizam pelo céu ainda escuro, como sombras com olhos atentos, voando silenciosamente sobre a mata fechada. A noite é densa, mas os mapas de Ravi são detalhados, quase obsessivos, e permitem uma exploração precisa. Eduardo e Darlene operam com habilidade, cada movimento ensaiado, cada ajuste calibrado com o mínimo de ruído.
A luz tênue do nascente ainda não rompeu a linha do horizonte. Tudo está envolto numa penumbra azulada, onde os contornos do mundo real ainda se confundem com a escuridão. Mas para os drones, equipados com sensores de calor e visão noturna, o breu é apenas mais um filtro a ser vencido.
— Área 3 A limpa — avisa Eduardo, ajustando o zoom. — Nenhum sinal de movimentação térmica. Só os porcos selvagens que o Miguel não quer que ninguém saiba que ele alimenta escondido.
— Cala a boca — Miguel resmunga, sem tirar os olhos da tela.
Ravi está concentrado, o rosto iluminado apenas pelo brilho frio dos monitores.
Islanne observa tudo com atenção. Apesar da descontração e do calor que ainda arde sob a pele depois de sua última noite com Ravi, ela está focada. Seus olhos brilham não só pelo prazer recente, mas pela excitação de algo maior. Algo que se desenha aos poucos, longe dos olhos de todos.
Ela finge estudar a tela, mas por dentro seu pensamento vai além. Está feliz por estar ali, ver Jonathan, Marta, e principalmente Lua, a pequena que ela já ama como se fosse sua própria filha. Mas há mais. Sempre há mais com Islanne.
Ela se levanta discretamente, vai até a cozinha, pega uma garrafa térmica de café e volta. Ao passar atrás de Ravi, deixa os dedos roçarem propositalmente a nuca dele. O gesto sutil arranca um leve arrepio do homem, que disfarça com um pigarro.
— Essa mulher vai me matar — ele murmura, apenas para si.
— Direcionem o drone da Darlene para a cerca leste — diz Ravi.
— Quero ver a curva do riacho. Teve uma leitura incomum ali ontem.
O pedido provoca silêncio imediato.
— Será que aquilo foi animal? Gente? — Darlene pergunta, os olhos atentos.
— Não consegui confirmar — Ravi responde.
— Mas parecia deliberado. Como se... estivesse tentando não ser visto.
Islanne se aproxima, agora totalmente desperta. Ainda há calor na pele dela — os rastros do momento dela com Ravi — mas o olhar é puro aço. Não há tempo para flertes. Não quando há uma criança desaparecida e um passado ameaçando se arrastar de volta para todos eles.
Os drones sobrevoam o trecho indicado. Uma pausa. O silêncio estica como um fio de tensão.
— PÁRA AGORA! — Ravi grita. — Congela essa imagem!
Na tela, um ponto quente. Pequeno. Discreto. Mas intenso.
— Isso é um corpo? — Eduardo se adianta.
— Não parece — responde Ravi, ampliando a imagem.
— Pode ser um gerador... talvez um aquecedor de emergência...
— Ou alguém acampando ali. Espiando a gente — Miguel franze o cenho.
— Alguém que sabe o que estamos fazendo? — Islanne pergunta, o tom mais sério.
Os segundos que se seguem são densos.
Ravi digita, ajusta coordenadas, envia dois drones para verificar ao redor do ponto. Mas, antes que qualquer aproximação definitiva aconteça, o ponto... desaparece.
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