O silêncio do quarto é quebrado apenas pelo som ritmado da respiração suave de um bebê que dorme no colo da mãe. Mas não é um silêncio qualquer, é um tipo raro, quase sagrado. Um silêncio que pulsa, que pesa, que se enche de significado. Ali, dentro daquele quarto de hospital, o tempo parece parar. Não há guerra, não há busca, não há dor, só uma bolha onde cabem apenas três corações: Marta, Jonathan e a pequena Lua.
Eles estão ali, como se o mundo inteiro tivesse ficado do lado de fora da porta. Jonathan acaricia os cabelos de Marta com uma delicadeza que parece incompatível com os punhos cerrados com que enfrentou o mundo dias antes. Marta repousa a cabeça no peito dele, os olhos cansados, mas finalmente serenos. E no centro daquele instante mágico, Lua, aninhada entre os dois, cresce. Vive. Resiste.
A porta se abre com um leve rangido e a neonatologista entra, sorrindo com os olhos. Seus passos são suaves, como se reconhecessem o sagrado do momento.
— Vamos ver essa princesinha — diz, aproximando-se doleiro em que ela repousa entre os pais.
Com mãos firmes e expressão serena, ela examina a bebê com cuidado. Avalia os reflexos, mede, pesa, ausculta.
— Está ótima — declara, finalmente, com uma expressão de genuína satisfação.
— Reflexos bons, mantêm o ganho de peso... Está crescendo muito bem. Parabéns.
Marta observa cada movimento com olhos atentos demais, quase ansiosos. Quando a médica termina, ela hesita, depois pergunta, a voz um pouco trêmula:
— Ela não está... pequena demais? É normal ela dormir tanto?
A neonatologista sorri com doçura. Reconhece o medo. Reconhece o amor.
— É normal, sim. E você está indo muito bem, Marta. Essas dúvidas fazem parte. É o primeiro filho, não é?
— É... — Marta responde, emocionada. — E... é tudo tão frágil...
— Mas ao mesmo tempo, tão forte — completa a médica.
— Confie em si. Você já está fazendo um trabalho incrível.
Nesse momento, a obstetra entra no quarto, trazendo consigo ares de boas notícias. Ela sorri ao ver Marta sentada, Lua nos braços e Jonathan ao lado, e após um breve cumprimento, se aproxima para examiná-la.
— Todos os seus exames estão normais — anuncia, depois de checar os dados no prontuário. — Não há motivo para mantê-la internada. Vou assinar a sua alta mãezinha. Hoje vocês vão para casa.
Marta arregala os olhos, a emoção engasgando no peito.
— A gente precisa de balões! — diz Darlene, pegando as chaves do carro.
— E cartazes! — completa Islanne, sorrindo como se o sol tivesse nascido dentro dela.
As duas saem às pressas, risos e adrenalina nos pés. Quando voltam, os braços carregam balões, papel colorido, fitas, canetões. Começam a encher, recortar, pendurar. Improvisam uma faixa que diz “Bem-vindas, Marta e Lua” com letras tortas, mas cheias de amor. O ar se enche de cor. De cheiro de bolo no forno. De passos apressados. De vida.
Na varanda, entre um balão e outro, Islanne para por um segundo. Olha o horizonte. A estrada de terra que leva até o portão.
— Elas vêm para casa — diz, com um sorriso manso. — Finalmente.
Mas o vento que sopra carrega algo mais. Algo sutil. Como um sussurro que ninguém consegue decifrar.
Porque em algum lugar… alguém torce por eles, mesmo sem saber e no fundo, ela sente que já não vão poder esconder essa história dos pais por muito tempo.
E a chegada de Afonso e Catia Schneider trará muitas reviravoltas na vida de todos ali, algumas imprevisíveis.

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