O céu está estranhamente calmo. As nuvens cor-de-rosa que se desenham no horizonte trazem uma beleza triste, como se o próprio tempo estivesse em luto. Um vento suave passa pelas cortinas do quarto, brincando com o tecido leve como se quisesse consolar, sem saber como. A casa está em silêncio. Não um silêncio qualquer, mas aquele que vem depois do riso, da visita, do alvoroço. Um silêncio de fim de festa, onde o que sobra são as emoções à flor da pele.
Dentro do quarto, Marta segura Lua nos braços. A filha mama tranquila, com os olhinhos semi abertos, a boquinha agarrada ao sei0 como se ali estivesse a única verdade do mundo. Marta passa os dedos pelos cabelos da bebê, sentindo o calor, o cheiro, a vida. Ela ainda se pergunta se merece tanta beleza depois de tanta dor.
Termina a amamentação com um beijo na testa da filha e se levanta com cuidado, como quem carrega uma joia rara. Caminha até o berço recém arrumado, aquele que todos ajudaram a preparar com tanto carinho, e deita Lua ali com o mesmo zelo de quem deita a própria alma. A luz que entra pela janela pinta a cena com tons dourados. É um retrato de paz.
Mas então, ao virar-se... Marta vê.
Ali, no canto do quarto, ainda está o outro berço.
É o memsmo berço de sempre, o bercinho branco, do filho que não conheceu. A madeira já não brilha. O colchão, ainda forrado com o lençol azul claro, parece ter sido congelado no tempo. Os bichinhos de pelúcia continuam dispostos da mesma forma. Ninguém teve coragem de mexer.
O berço de Jeff.
Marta para. O peito aperta. O mundo parece sumir. O ar escapa dos pulmões sem que ela perceba.
E então vem a dor.
Brutal. Guardada. Escondida.
Ela desaba. Cai de joelhos, como se tivesse sido derrubada por um golpe invisível. O corpo todo treme. A mão vai ao peito, tentando conter algo que já não tem mais como ser contido. E um grito rouco, preso por tempo demais, escapa como uma lâmina:
— Meu Deus... meu Deus, por quê?
As palavras saem rasgadas, quase sem som, mas com um peso que preenche todo o ambiente. As lágrimas brotam com violência. Os soluços sacodem seu corpo, e o chão parece não suportar tanto sofrimento.
Jonathan escuta do corredor. Ele corre. O coração dispara.
— Marta! — ele grita ao entrar, vendo-a caída diante do berço vazio.
— O que aconteceu?
Mas ele não precisa da resposta. Ele sabe.
Jeff.
O nome ecoa na mente dele como uma sentença. Jonathan se ajoelha, tenta alcançá-la, mas ela se encolhe, perdida na própria dor.
— Não... não, meu filho... — sussurra, com os olhos marejados e a alma despedaçada.
Desesperado, ele corre para a sala.
— Dona Maria! Marta está... ela...
Mas antes que as palavras terminem, Miguel já está em pé. Os olhos arregalados. A alma em alerta.
— Eu vou.
Ele entra no quarto, vê a irmã em prantos, desfigurada, colapsada, e algo dentro dele se quebra. Aquele que sempre foi o apoio da casa, a fortaleza, agora sente o chão fugir sob os seus pés. Ele corre até Marta, a segura com força contra o peito.
— Eu tô aqui... eu tô aqui, mana...
E então ele também chora.
Como há muito tempo não chorava.
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