O cheiro de café fresco preenche a casa como um abraço tímido, mas não consegue esconder o peso no ar. As paredes, silenciosas, parecem absorver a dor como se estivessem de luto também. É manhã, mas ninguém ali desperta de verdade. Cada passo, cada respiração, carrega a marca do que falta, um nome que ninguém ousa dizer alto, mas que grita por dentro de todos: Jeff. O irmão gêmeo de Lua. O bebê que foi arrancado dos braços de Marta ainda na maternidade. O filho perdido. O que não devia estar ausente.
A mesa está posta com cuidado. Pães caseiros, frutas frescas, leite morno, queijo branco e ovos fritos. Dona Maria faz o que pode para manter a rotina, como se a vida ainda estivesse inteira. Sentam-se um a um, como sobreviventes de uma tragédia invisível. O silêncio pesa, mas Islanne tenta quebrar.
— Dona Maria… a senhora devia dar aula de culinária — ela sorri, tentando abrir alguma fresta de leveza. — Até o ovo frito é mais gostoso aqui.
Dona Maria, com os olhos fundos de noites mal dormidas, força um sorriso breve.
— É o ovo da galinha caipira... — responde com voz baixa, pousando a mão no colo. — Comida da roça tem gosto de verdade, minha filha.
Alguns sorrisos tímidos surgem, mas não duram.
Marta segura a xícara de café sem beber. Seu olhar não se move. Está fixo nos rostos à sua frente, um por um. O semblante é sério. Duro. Determinado. A ausência de Jeff pulsa dentro dela como uma ferida aberta.
— Chega — ela diz, com a voz firme, o olhar queimando.
— Eu não vou mais sorrir como se estivesse tudo bem. Eu quero saber a verdade. O que vocês sabem sobre o paradeiro do meu filho?
A mesa silencia de vez. Todos param. O ar se torna mais denso.
Ela encara Ravi. Ele desvia o olhar, leva a mão ao copo de suco, finge beber.
— Não desconversa, Ravi — diz Marta, o tom gélido. — Eu sei que você mexeu uns pauzinhos. Você sempre mexe.
Ravi suspira, derrotado. Passa a mão pelo rosto e encara Marta com pesar.
— Eu procurei, sim... — admite. — Mas não consegui nada. Nenhuma pista concreta. Só... suposições. Há uma suspeita, uma das piores que já ouvi... — ele hesita, respira fundo. — Que o Jeff tenha sido vendido. Tráfico humano de bebês.
O baque cai sobre a mesa como uma bomba.
Marta engole em seco. Seus olhos se enchem, mas ela não deixa as lágrimas caírem. Ainda não. Ela vira o rosto devagar e fixa Eduardo com o olhar.
Ele não tenta fugir. Sabe que não conseguiria.
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